Senhor! Eu temo a tua justiça e vivo
assombrado da tua bondade. Quem sou eu, que tenho feito nos pés da tua
clarividência?
Eu posso repetir a palavra de meu irmão:
sou uma miséria dos pés à cabeça, sou uma lástima viva. Qual foi o momento em
que tive coração digno de Ti? Por que me proteges, Senhor?
Eu só vejo a face exterior da vida. Mas
quantos sofrimentos tenho visto! Homens que julgo melhores do que eu tenho
visto rolarem de infortúnio em infortúnio...
E por que me deste tudo Deus de justiça?
E por que fechaste o círculo da minha ambição? Eu não desejei fortuna; desejei
amar e ser amado. E tu não pedes outra coisa, e concedeste-me esta graça. A Jó
experimentastes, pesadamente - tinha ele o corpo em chagas, perdera todos os
bens e chasqueou da sua miséria a mulher a quem amava. Eu tenho o meu coração
guardado num coração maior do que o meu. Deus de misericórdia, fio que não me
experimentes também. Eu sei que a felicidade é às vezes mais perigosa que o
pesar.
Tudo dorme em derredor de mim. Lá fora,
porém, clamam os grandes ventos que soltaste e não tarda talvez que a
tempestade se desencadeie. Eu tenho o coração angustiado. Está longe de mim a
graça que me concedeste. Tenho medo, Senhor, estou sozinho. Jesus Cristo tenha
pena de mim! A Virgem Santíssima tenha misericórdia de mim!
Senhor! Eu temo a Tua justiça. Senhor eu
vivo assombrado de tua bondade. Meu Jesus Cristo! Minha Santa Maria, tenha
piedade de mim!
(Composta por Jackson de Figueiredo e
enviada para sua Laura na noite de 20/2/1919)