Terminei a leitura do excelente livro “HISTÓRIA DE UMA FAMÍLIA, Uma Escola de
Santidade, o lar onde floresceu Santa Teresinha” (1945), do padre Stéphane
Joseph Piat.
Excerto:
“É um fato que os modernos julgaram
libertar-se das suas cadeias atentando contra a divina arquitetura da família.
A revolução francesa deu o primeiro golpe de picareta quando instituiu o
casamento civil que nega praticamente o caráter religioso do contrato conjugal.
Arrancado a Deus o edifício e entregue às mãos dos homens, não tardou que a
vaga furiosa das paixões o conseguisse demolir. Até os alicerces foram
atacados. Era lógico. Com que direito pretenderia um legislador humano
disciplinar o mais imperioso dos instintos?
Servidão à unidade do lar. Não será
crueldade limitar a tal ponto as manifestações de sensibilidade de um coração
imenso?
Servidão à indissolubilidade do laço.
Como recusar aos casais desunidos a ‘válvula de segurança’ do divórcio?
Servidão ao próprio laço. O amor ‘filho
da Boemia’ pode admitir leis? ‘O teu corpo é teu’, eis a fórmula do futuro.
Servidão à prole, testemunha importuna
que prejudica as evoluções sentimentais. Vamos lá, que ainda assim haja ‘o
único’ para perpetuar o nome. Mas para longe com os múltiplos nascimentos que
impõem abnegação onde tudo deve ser licença!
Servidão à educação. O Estado que a tome
à sua conta. Não é ele desde Jean Jacques Rousseau, o pai universal encarregado
da fiscalização da raça?
Servidão à autoridade do marido. No
entender de certo feminismo, as fronteiras dos sexos desapareceram. O tipo da
‘mulher perfeita’ é doravante o do ‘homem falhado’.
O prazer em comum, o egoísmo absoluto
dos cônjuges, a aventura precária, eis o que a nova moral sem obrigação nem
sanção põe no lugar do compromisso estável e do dom pessoal. Julio Basilio
Guesde dava disto a definição quando dizia impudentemente no seu ‘Catecismo
Socialista’ publicado em 1878: ‘Deverá conservar-se a Família? Não, pois foi
até agora uma das formas da propriedade e não a menos odiosa...Tanto o
interesse da espécie como dos elementos que entram na composição da família,
exigem que esse estado de coisas desapareça.” (...)
O humanismo desaparece ante a
sensualidade. O sombrio destino do lar de Karl Marx não será um pálido símbolo
desta desolação do lar? Das três filhas do mestre do socialismo, duas acabaram
pelo suicídio, a primeira por ter suportado os maus tratos de um discípulo do
seu próprio pai, para mais entusiasta de Darwin, a segunda por ter ligado a sua
sorte à de um militante francês, Paulo Lafargue que se envenenou com ela
deixando estas palavras de explicação: ‘Morremos porque a vida já não tem
alegrias para nos dar’. A frase é significativa da desorientação das almas sem
Deus. As alegrias expulsaram a alegria; os amores expulsaram o amor. Sob o
aspecto elegante de uma civilização refinada, este mundo onde a gente se
diverte, apenas serve para se morrer sufocado. (...)
Sobre os escombros do solar antigo
instalou-se a estatolatria condenada por Pio XI. Fala-se hoje muito de cruzada
em favor dos direitos da pessoa humana. Não será o lar o berço e o centro da
vida pessoal? Arruinado o lar, ficou apenas frente a frente o indivíduo-átomo e
o Estado-Moloch que o subjuga e o devora. Só a família pode resistir a esse
poder totalitário que o próprio Nietzsche denominava um dia “o mais frio dos
monstros frios”. Ou ‘regresso à família’ ou ‘Tudo para o Estado’, não há outra
alternativa. Pio XII afirma-o quando reivindica, nas suas mensagens, ‘o espaço
vital da família’”.