quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

98ª Nota - A Unidade não está por cima da Verdade


O grande perigo, que ameaça hoje os católicos e a uma ampla parte da hierarquia, é o desejo de conciliar coisas que são inconciliáveis. (...)

Alguns, com efeito, não se dão conta de que declarando: “Devemos abandonar o gueto católico e adotar uma atitude mais positiva com relação ao mundo”, abrem a porta ao diabo, que os conduz a não ver já o contraste, irreconciliável e sem fim, entre o espírito de Cristo e o espírito do mundo. (...)

A unidade não está por cima da verdade.

Uma tendência muito estendida é a que põe a comunidade por cima da verdade; isso leva a considerar a unidade mais importante que a verdade e a temer mais o cisma que a invasão do erro e da heresia na Igreja. Considerando essencial a paz dos crentes, se verdadeiros discípulos de Cristo alçam a voz, para defender o depósito da fé católica contra as falácias de novas interpretações que despojam de seu conteúdo sobrenatural a mensagem do Verbo encarnado, são considerados por muitos prelados como perturbadores incômodos.

Toda unidade entre crentes, se obtém a expensas da verdade, não é somente uma pseudounidade; em sua essência mais profunda é uma traição a Deus. Se coloca a fraternidade social, o viver bem juntos e o não molestar ninguém por cima da fidelidade a Deus. Essa é precisamente a atitude contrária a todos os grandes adversários do arianismo: de um Santo Atanásio, de um Santo Hilário de Poitiers.

Ninguém, como Pascal, desmascarou tão clara e profundamente o falso irenismo que põe a unidade acima da verdade. Escreve: “Não se vê com claridade que, como é um crime perturbar a paz quando reina a verdade, também o é permanecer em paz quando se destrói a verdade? Há, pois, um tempo em que a paz é justa e outro em que é injusta. Está escrito que “Há tempo de paz e tempo de guerra”: é o interesse da verdade o que os discerne. Porém, não há tempo de verdade e tempo de erro; está escrito, ao contrário, que “a verdade de Deus permanece eternamente”. Por isso, Jesus Cristo, que disse que veio para trazer a paz, disse também que veio para trazer a guerra; porém, não disse que veio para trazer a verdade e a mentira. A verdade é, portanto, a primeira regra e o último fim de todas as coisas.” (Pensées, 949)

Dietrich von Hildebrand, publicado em “France Catholique”, 21/4/1972, e em “Iglesia-Mundo”, 8/12/1973. 
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