quinta-feira, 30 de junho de 2016

220ª Nota - Homossexualismo: ódio a Deus e ao homem



“Em verdade, este vício [do homossexualismo] não pode jamais ser comparado com nenhum outro, pois ultrapassa a enormidade de todos os vícios. Ele corrompe tudo, mancha tudo, polui tudo. Por sua própria natureza, não deixa nada puro, nada limpo, nada que não seja imundície. A carne miserável arde com o calor da luxúria; a mente fria treme com o rancor da suspeita; e no coração do homem miserável o caos ferve como Tártaro [inferno]. De fato, depois que essa serpente venenosa introduz suas presas na infeliz alma, o senso é retirado, a memória se desgarra, a clareza da mente é obscurecida. Ele não se lembra mais de Deus, e até se esquece de si mesmo. Essa praga solapa os fundamentos da fé, enfraquece a força da esperança, destrói o laço da caridade; afasta a justiça, subverte a fortaleza, expulsa a temperança, entorpece a perspicácia da prudência”. 

Santo Pedro Damião (1007-1072)

quarta-feira, 29 de junho de 2016

219ª Nota - Livros Assassinos


O MAU LIVRO É ASSASSINO

Corrompe e mata o espírito, falseando o seu juízo e fazendo-lhe perder a gravidade e o equilíbrio.
Dizem que, no Oriente, os infelizes que contraíram o funesto hábito de embriagar-se com o abuso do ópio se tornam incapazes de suportar a vida. Esta embriaguez faz brilhar, perante seus olhos fascinados, horizontes deslumbrantes de cores e de luz. A sua alma experimenta então emoções e êxtases desconhecidos; a sua imaginação os transporta para palácios encantados. Ora, arrebatados pela brisa embalsamada, pelos vastíssimos campos de céu, visitam com a rapidez do relâmpago regiões maravilhosas, que nenhum olhar humano jamais contemplou. Ora, arrebatados como flor arrancada à ribanceira, por um fluido misterioso, percorrem paraísos de verdura e respiram com avidez perfumes ignorados até então.
Tais são os devaneios, as loucuras em que se mergulham os leitores e as leitoras de romances. Quando se desvanecem estas ilusões e tornam à crua realidade, acabrunha-os uma tristeza indescritível.
Quem leu muitos romances há de naturalmente sonhar com eles. Comparando a monotonia dos deveres de cada dia com a existência imaginária e quimérica dos personagens de romance o leitor ou a leitora assídua e apaixonada vai criando enfado, aversão ao seu estado, fantasia outro, despreza as suaves ternuras da família e a alegria do lar.

O MAU LIVRO MATA O CORAÇÃO

Quem costuma ler maus livros com prazer gosta deles evidentemente; pelo só fato de gostar deles conclui-se forçosamente que são perigosos para essa pessoa e que lhe desorientam e estragam a alma, pois é impossível que não se manche quem se arrasta e mergulha na lama. Dá-se com os livros o que se dá com os alimentos: alimentam por natureza e devem produzir um efeito benéfico ou funesto.
VÃS DESCULPAS – Com o fim de se desculpar e justificar, os leitores e as leitoras de romances dizem que essa leitura instrui, adorna e ilustra o espírito.
E a inocência e o candor que lhes rouba, não valem mil vezes mais que uma cultura superficial e banal? Não é porventura verdadeira insensatez o julgar que não se pode aprender a falar e a escrever senão aprendendo o mal viver? O pretexto pueril de que os romances adornam e ilustram a mente, nunca poderá justificar a imprudência de quem se expõe evidentemente a encontrar na sua leitura dúvidas, tentações, ensinos perversos e corruptores, e erros de toda espécie.
ESTA LEITURA NÃO ME FAZ MAL! Que esperança! Os rapazes e as moças que nos alegam semelhante pretexto são talvez seres à parte, seres privilegiados, fenomenalmente privilegiados? Não foram formados com o mesmo barro com o qual foram e são plasmados todos os outros homens? Não há neles as mesmas inclinações, o mesmo fundo de orgulho, de sensualismo? Ora essa! Os próprios sacerdotes, que se veem às vezes obrigados a ler certos livros, para refutar-lhes os erros, abrem-nos com receio e a tremer, pedindo humildemente a Deus que os preserve de toda queda; e vós, meninos, rapazes, meninas e moças, julgais poder permitir-vos sem remorso de consciência a leitura franca de semelhantes livros? NÃO, MIL VEZES NÃO!... Não sois tão fortes e invulneráveis como quereis imaginar, e tanto menos o sois, quanto mais vos iludis sobre a vossa força. Sois feitos de carne e ossos como o resto dos pobres e fracos mortais. A vossa fraqueza é grande e vos expondes a perder o que há de mais precioso em vós; a pureza do coração.
CONCLUSÕES PRÁTICAS – NUNCA vos permitais a leitura de algum LIVRO DUVIDOSO, sem pedir previamente seguras informações a respeito dele, sem pedir o parecer de vossa mãe ou do vosso confessor.
Se por negligência, ou até sem haja culpa alguma de vossa parte, abris alguns desses livros cujo conteúdo ignorais, FECHAI-O apenas perceberdes que a vossa imaginação começa a exaltar-se com as descrições que vos oferece, ou a vossa mente se prende com demasiada sofreguidão e avidez, com excessiva curiosidade ás suas narrações cativantes. É quase sempre sinal desfavorável para o livro que produz semelhantes impressões.
Enfim, atendei mais ao cumprimento dos vossos deveres que à leitura, TRABALHAI E ORAI. Se pertenceis à sociedade, frequentai-a na medida do necessário, dedicai os vossos talentos, as vossas habilidades e aptidões às obras de apostolado. Nunca deixeis a vossa leitura espiritual, interessai-vos pelos livros sérios e verdadeiramente instrutivos e de leitura proveitosa, e não tereis que recorrer ao vosso confessor ou a vossa mãe para saber se podeis ler este ou aquele livro, como não recorreis a eles para saber se podeis caçar onças ou pescar baleias. Mais o trabalho e menos leituras. Eis aí o que vos desejo e peço encarecidamente para vosso bem. Oxalá se realize o meu ardente desejo!
(Padre Amando Adriano Lochu, S.J., in Raios de Sol, 1933)

terça-feira, 28 de junho de 2016

218ª Nota - Aqui ele não entra!


Joãozinho é uma dessas crianças católicas, muito raras hoje em dia, que não separa a piedade da razão ou do bom senso, e que possui uma virtude (se assim podemos qualificá-la) tipicamente brasileira: um bom faro, que dificilmente se deixa enganar, embora algumas vezes se permita isto, pela ausência de melhores razões para assim não o fazer.

Certa vez, correu à igreja de sua paróquia, chamada Igreja Bom Pastor, onde na entrada se encontram belas imagens da Família Sagrada e de São Pio X, e se aproximou ofegante do bom pároco, padre Fhillé Largaêrrí, para lhe dizer o que há pouco lhe passou.

– Padre, vosssa bênção! 

– Deus o abençoe, meu filho. O que houve? O que o assusta?

– Padre, o senhor não vai acreditar quem eu conheci há pouco, e que veio pessoalmente até mim para conversar?

– Quem? (indagou o padre, embora não tivesse interesse no fato)

– Um homem publica e mundialmente muito ilustre!

– Oh! Há muitos homens assim, Joãozinho. Fique calmo!

– Padre, espere! Não se trata de qualquer homem ilustre.

– Pois bem, Joãozinho. Continue!

– Caro padre, ele me perguntou se eu sou católico; e o estranho é ter ele me dito que também o é. Sinceramente não entendi o porquê de ele afirmar isto!

– Estranho? Como assim? (disse o padre, começando a se interessar pelo ocorrido)

– Sim, bondoso padre. Foi o que ele me disse. E mais, disse que assistia à missa todos os dias.

– Todos os dias? (interferiu rapidamente o padre) Então, é um santo!

– Padre, desculpe-me, mas se trata da missa nova. (continuou desanimado Joãozinho)

– Missa Nova?!? Que horror! (gritou decepcionado o padre)

– Quando lhe falei que eu assistia à santa missa tridentina, fez-me um sorriso e um joinha.

– Joinha?!? Que homem ilustre é esse, que faz um joinha, Joãozinho? 

– Tem mais, caríssimo padre. Ele afirmou que a santa missa tridentina é algo que serviu tão somente ao passado, e que o apego ao passado é um descaso às necessidades prementes dos homens contemporâneos, que carecem sobretudo de pão e justiça social, e, por isso, devemos viver o hoje, lutando para acabar com a fome mundial, e buscando a paz entre os povos.

– O quê? Que imbecilidade! (esbravejou o padre, já começando a ficar preocupado)

– Tem mais. Disse que não somente devemos tolerar quaisquer diferenças religiosas, políticas, sociais, sexuais, de pensamento, de ideias, como a ideologia do gênero, como também fomentá-las, pois elas engrandecem o homem, levando-o a sua divinização. E que não importa esta ou aquela religião, pois todas são iguais perante Deus, todas são centelhas divinas, e juntas devem construir a grande família humana, onde, então, haverá paz e prosperidade, em uma nova era. Afinal, continuou ele, somos todos iguais ante o Grande Arquiteto do Universo. E é o homem quem distingue. E deu como exemplo o fato de ele frequentar templos budistas e islâmicos, seitas protestantes e sinagogas. Sim, bom padre, até sinagogas! 

– Que horror! Maldito homem! Cismático! Herege! (exclamava alto e bom som o bom padre Fhillé Largaêrrí) 

– Padre, mas ele é o...

– Cale-se, Joãozinho! Lembre-se do que dizia Santo Agostinho: “não importa quem o disse, mas o que disse!”

– Sim, bom padre. Perdoe-me. Posso continuar?

– Claro. Continue!

– Meu bom padre, não sei se fui educado, porém, disse a ele que não foi isso que aprendi no catecismo de São Pio X e nas biografias dos santos, de modo especial, nas dos santos mártires.

– Muito bem, meu caro Joãozinho. Não somente falou a verdade, como também colocou esse pecador público, herege e cismático, no seu devido lugar. Continue, por favor, meu filho caríssimo!

– Este ilustre homem me perguntou ainda o que eu pensava do Concilio Vaticano II, que ele afirmou ser divino, verdadeiramente inspirado pelo Espírito Santo. 

– E o que você respondeu, meu amado filho? (perguntou-lhe o padre, agora com um desejo veemente de saber as coisas)

– Padre, disse aquilo que aprendi com o senhor, a saber, que este concílio foi um conciliábulo, um falso concílio, inspirado por Satanás, comandado por modernistas e traidores, promotores do erro e da heresia, sendo outros anticristos.

– Meu querido filho, que Deus o abençoe. Quanta verdade! Como você foi bem catequizado. E ele disse mais algo?

– Sim, que isso era ideia de tradicionalistas retrógrados e desobedientes, que buscam separar ao invés de unir, e que põem a fé acima da obediência.

– Ah! Miserável! Este imbecil ilustre coloca a obediência acima da fé. É por isso que vemos a situação desastrosa em que se encontra esse clero atual, corrupto e corruptor. Ah! Que pena! Se eu estivesse lá, dar-lhe-ia um belo sopapo. (conclamava o bom padre Fhillé Largaêrri)

– Padre, mas ele é o pa...

– Quieto, Joãozinho. Será que deverei repetir a frase do Doutor da Graça?

– Desculpe-me, bom padre. 

– Disse ele, Joãozinho, mais alguma estultice?

– Não, prezado padre. Porém, antes de ele ir embora, pediu-me o endereço de minha paróquia, e que o avisasse de sua visita daqui a dois domingos, para conhecê-lo e os fieis paroquianos.

– O quê? Que abusado! AQUI ELE NÃO ENTRA! NÃO ENTRA!... Então, o engraçadinho, herege e cismático, quer vir aqui, apresentar-se, conversar com todos, fazer joinhas, e tudo estará muito bem! NÃO E NÃO!!! Se ele vier, somente permitirei a sua entrada neste templo sagrado após a sua abjuração pública.

– Sim, padre, muito bem!!! A sua atitude me encoraja. Faz-me ver quão belo, bom e verdadeiro é o catolicismo. Padres como o senhor, piedosos, cultos e valentes, disse meu pai, são raros.

– Pois bem, meu querido Joãozinho, diga-me o nome daquele ilustre, herege e cismático, para que iniciemos uma novena pela sua conversão.

– Sim,  meu padre. O seu nome é Francisco.

– Fran, o quê? Francisco!

– Sim, padre. Ele é o  pap...

– Cale-se, Joãozinho! (interrompeu o padre, não permitindo o Joãozinho terminar) Quem você pensa que é, para vir aqui insinuar contra o Pastor Universal? Como pôde, Joãozinho?

– Como, padre?

– Quieto, menino travesso. Não fale mais! Ó meu Deus, perdoai vosso servo! 

– A mim, padre? 

– Sim. E também a mim, por ter dado ouvidos a você.

– Padre, mas...

– Menino, quieto! Nós temos que tomar muito cuidado com as nossas interpretações, pois o que o papa lhe falou pode perfeitamente ser interpretado conforme a hermenêutica da continuidade, e ter um sentido benéfico e salutar para as almas.

– O senhor está falando sério, padre?

– Lógico! E como penitência...

– Penitência, padre?

– Sim, e merecidamente. Você terá que me trazer uma foto do papa Francisco, para eu colocá-la na sacristia. Aliás, devo começar os preparativos para a recepção. Afinal, não é todo dia que recebemos a visita de alguém tão ilustre e santo como o papa. Até mais, Joãozinho.

(Agostinho da Cruz Penido, aos 3/10/2013)

segunda-feira, 27 de junho de 2016

217ª Nota - A Igreja em frente do liberalismo


Convém igualmente conhecer os vários sentidos em que pode ser tomada a palavra liberalismo.

Não é sinônima de liberdade. Evidentemente, se os que a inventaram não quisessem exprimir mais do que a ideia de verdadeira liberdade para o bem, não teriam recorrido a uma palavra nova. Tentaram fazer da liberdade para o mal uma coisa útil, desejável, digna de ser defendida, pelo menos em nossos dias. A sua pretensa liberdade chamou-se liberalismo. Hoje o liberalismo é um sistema político-religioso que proclama a independência do Estado nas suas relações com a Igreja ou com a Religião. É assim que Pio IX o mostra e denuncia na encíclica “Quanta Cura”.

Ora, no liberalismo, podem-se distinguir três graus:

O primeiro, chamado liberalismo radical, tem por formula: “ A Igreja está no Estado”, isto é, a Igreja deve ser inteiramente subordinada ao Estado.

O segundo, designado com o nome de liberalismo moderado, consiste na separação da Igreja e do Estado. A sua fórmula é esta: “A Igreja livre no Estado livre.”

O terceiro é catolicismo liberal. “Em princípio, dizem os defensores deste sistema, o Estado deve estar subordinado à Igreja, embora esteja independente na sua esfera puramente civil. Mas, em hipótese geral, nas conjunturas atuais, por causa do progresso da opinião na sociedade, doravante não é mais vantajoso proclamar essa subordinação; contudo, é conveniente aceitar e aprovar a separação da Igreja e do Estado, com as liberdades chamadas modernas que dela decorrem, e particularmente a liberdade da imprensa e dos cultos.”

3º Esses diversos graus de liberalismo merecem igualmente a condenação da Igreja? Sim, sem dúvida. Em primeiro lugar o liberalismo radical é formalmente reprovado pela Igreja. O “Syllabus”, entre outras proposições condenadas, contém esta que alveja expressamente a teoria que indicamos: “A Igreja não é uma sociedade verdadeira, perfeita e plenamente livre; ... é ao poder civil que compete definir quais são os direitos da Igreja e dentro de que limites os pode aplicar” (Prop. XIX), e esta outra: “O poder eclesiástico não deve exercer a sua autoridade sem o beneplácito do governo civil.” (Prop. XX) Além disso, o liberalismo radical está em oposição com toda a doutrina fundamental da religião e da Igreja: a sua aplicação daria em resultado a destruição da obra de Jesus Cristo, a sujeição das almas ao poder exterior e temporal. O fundador da religião cristã não quis fazer escravos dos seus discípulos.

O liberalismo moderado, que quer pura e simplesmente a separação da Igreja e do Estado, é perfeitamente admissível como fato, mas não como princípio geral. Com efeito, a Igreja se propagou e cresceu, favorecida apenas por essa simples liberdade, sem proteção por parte do Estado. Hoje ainda a Igreja com ela se satisfaz nos Estados Unidos da América do Norte, onde as duas sociedades civil e religiosa vivem ao lado uma da outra, sob o regime da independência e da verdadeira liberdade. Mas, em país católico, onde as leis, as instituições, os costumes são todos cristãos, onde sobretudo concordatas determinaram as relações recíprocas dos dois poderes, poderá o Estado por de parte os súditos católicos, não fazer caso deles, colocá-los no mesmo plano que os infiéis, ferir a sua fé, favorecer o erro tanto como a verdade, violar ou anular os tratados que garantiam ou protegiam a liberdade religiosa? Não, evidentemente, e a Igreja condena formalmente a teoria contrária, nesta proposição do “Syllabus”: “A Igreja deve ficar separada do Estado, e o Estado ficar separado da Igreja.” (Prop. LV)

Que se deve pensar do catolicismo liberal? – Aqui impõe-se uma distinção essencial. Não devemos chamar católico liberal aquele que permite ou tolera certas liberdades introduzidas em nossas sociedades durante estes últimos séculos, tais como a liberdade política, a liberdade da imprensa, dos cultos, etc. Neste caso, seria preciso dizer que a Igreja inteira é católica liberal, pois que, de fato, permite ou tolera essas liberdades.

Mas admitir um fato é coisa muito diferente de aprová-lo ou erigi-lo em princípio. Ora, o católico liberal é precisamente aquele que não se contenta com apresentar a separação como um “modus vivendi”, que circunstâncias especiais podem tornar necessário, em certo tempo, num país particular, mas pretende que seja adotado como uma regra prática geral, por toda a parte e sempre. O católico liberal é ainda aquele que não se contenta com permitir ou tolerar como um mal lastimável, mas atualmente necessário, certas liberdades modernas, mas, erigindo o fato em princípio, persuade-se e pretende que as liberdades públicas, frutos e resultados necessários da separação, serão, para a Igreja, mais vantajosas do que nocivas.

Ora, o catolicismo liberal, assim entendido, foi formalmente reprovado pelo papa Pio IX. A última proposição do “Syllabus”, relaciona-se com a alocução pontifical “Jamdudum” de 18 de março de 1861, em que o papa apontava especialmente o catolicismo liberal. Alguns partidários deste liberalismo pretendiam não ser atingidos pelo “Syllabus”. Hoje a dúvida não é mais possível. O próprio Pio IX, a esse respeito, explicou o seu pensamento num breve dirigido ao círculo de Santo Ambrósio em Milão, com data de 6 de março de 1873; “Os filhos do século, diz ele, alcançariam, sem dúvida, menos sucesso se os filhos da luz, que usam o nome de católicos, não lhes estendessem mão amiga. Sim, infelizmente, não faltam os que, como se fosse para andarem de acordo com os nossos inimigos, se esforçam por estabelecer uma aliança entre a luz e as trevas, um acordo entre a justiça e a iniquidade, por meio das doutrinas que se chamam 'católicas liberais', as quais, baseando-se sobre perniciosos princípios, aprovam o poder leigo quando invade o terreno espiritual, e levam os espíritos ao respeito ou pelo menos à tolerância das leis mais iníquas, absolutamente como se fosse escrito que ninguém pode servir a dois donos.”

Depois de ter assim revelado o mal e o caráter insidioso do catolicismo liberal, o soberano pontífice acrescenta: “Podereis facilmente evitar as ciladas daqueles espíritos perigosos se tiverdes diante dos olhos este aviso divino: ‘É pelos frutos que os haveis de reconhecer’; se observardes que eles ostentam o seu despeito contra tudo o que manifesta uma obediência pronta, absoluta, inteira aos decretos e às advertências desta Santa Sé; que da cadeira de São Pedro eles não falam senão com desdém, chamando-a cúria romana; acusam todos os atos do governo pontifício como imprudentes ou inoportunos; afetam de aplicar o nome de ultramontanos e jesuítas aos filhos da Igreja mais zelosos e mais obedientes; afinal, cheios de orgulho, julgam-se mais sábios e prudentes do que a Igreja à qual foi feita a promessa de um auxílio divino, especial, eterno.”

Resulta dessas citações do próprio autor do “Syllabus”, que se o liberalismo é um erro condenável, o catolicismo liberal, mesmo entendido como princípio, deve ser tratado como inimigo e considerado como condenado. Não quer isso dizer que a Igreja, assim como vamos provar, condena absolutamente, de fato, todas as liberdades modernas.
(Mons. Eugenio Ernesto Cauly, em Curso de Instrução Religiosa - 1900)

sexta-feira, 24 de junho de 2016

216ª Nota - Oração da manhã



Já nasceu o dia.
Peçamos humildemente ao Senhor
que nos guarde durante o dia,
em tudo que nEle fizermos,
do vírus do pecado.

Que nos ponha freio à língua e a modere,
não vá entre nós levantar-se 
o horror da discórdia.
que nos vele e defenda os olhos 
das vaidades do século.

Que nos conserve puro o coração
 e relegue para longe os instintos maus, 
e nos defenda,
pela sobriedade no comer e no beber,
da peçonha do orgulho.

Para que, quando passar o dia,
e a noite em seu curso voltar,
 Lhe entoemos,
purificados pela penitência, 
um hino de louvor.

Glória a Deus Pai,
ao Seu Filho Unigênito e ao Espírito consolador,
agora e para todo o sempre.
Amém.
(Santo Ambrósio, Extraída do Ofício de Prima)

quinta-feira, 23 de junho de 2016

215ª Nota - Que são os hereges formais e os materiais?


Dividem-se os hereges em formais e materiais. Os hereges formais são aqueles para os quais a autoridade da Igreja é suficientemente conhecida, ao passo que os hereges materiais são aqueles que, estando em ignorância invencível sobre a Igreja mesma, escolhem de boa fé alguma outra regra diretriz. A heresia dos hereges materiais não é, pois, imputável como pecado e não é necessariamente incompatível com a fé sobrenatural que é o início e a raiz de toda a justificação. Pois eles podem crer explicitamente nos artigos principais e crer nos demais, embora não explicitamente, porém implicitamente, por sua disposição de espírito e boa vontade em aderir a tudo o que lhes seja proposto suficientemente como tendo sido revelado por Deus. Com efeito, eles ainda podem pertencer ao corpo da Igreja por desejo e cumprir as outras condições necessárias para a salvação. Sem embargo, quanto à incorporação atual deles na visível Igreja de Cristo, assunto de que estamos tratando aqui, nossa tese não faz distinção alguma entre hereges formais e materiais, entendendo tudo conforme a noção de heresia material que acaba de ser dada e que é a única verdadeira. Pois se for entendido pela expressão herege material alguém que, embora professando sujeição ao Magistério da Igreja em matéria de fé, contudo nega algo definido pela Igreja por não se dar conta de que era definido, ou, no mesmo diapasão, defende opinião oposta à doutrina católica, crendo erroneamente que a Igreja ensina aquela opinião, seria completamente absurdo pôr os hereges materiais fora do corpo da verdadeira Igreja; só que esse entendimento perverte totalmente o uso legítimo da expressão. Pois um pecado material diz-se existente apenas quando o que pertence à natureza do pecado ocorre materialmente, mas sem consciência ou vontade deliberada. Mas a natureza da heresia consiste em retirar-se da regra do Magistério eclesiástico, e isso não acontece no caso mencionado [de alguém que tem a resolução de crer em tudo o que a Igreja ensina mas que se engana quanto a saber o que ela ensina sobre um determinado ponto], pois este é um simples erro de fato concernente ao que é que a regra dita. Assim, não há lugar para heresia, nem sequer materialmente.
(Cardeal Louis Billot S.J., in De Ecclesia Christi)

Fonte: Acies Ordinata (Felipe Coelho)

quarta-feira, 22 de junho de 2016

214ª Nota - Como se comprova a existência de Deus e a imortalidade da alma


A) DEMONSTRAÇÃO PELA “VIDA DO ESPÍRITO”
B) PELA VIDA MORAL E PELO DESEJO NATURAL DE BEATITUDE

1. Contradição do ceticismo

Os resultados a que até agora chegou nossa investigação podem ser assim resumidos: a) a mente criada e finita conhece verdades imutáveis e necessárias, tendo delas uma intuição originária, se bem que obscura e confusa: estas verdades lhe estão presentes, são interiores; b) a razão se serve delas para julgar todas as coisas; c) estas verdades são as que nos ensinam, como um “mestre interior”, a presença de Deus em nós; d) existe a Verdade, portanto Deus existe. Se não existisse, nós mesmos não existiríamos e nem sequer poderíamos dizer que Deus existe, porque careceríamos de inteligência. Aristóteles escreve dos céticos de seu tempo: “assemelham-se mais às plantas que aos homens” (Met., 1. IV, c. 3); o ceticismo de qualquer época termina fatalmente, mais cedo ou mais tarde, por rebaixar o homem ao puro nível biológico.

A observação de Aristóteles, profundíssima, merece um breve comentário. O cético nega que o pensamento humano seja capaz da verdade que lhe compete: feito para a verdade, não a conhece; portanto, seu valor e seu ser são nulos. Mas o homem é homem pelo pensamento (inteligência e razão): negar um é negar o outro, é fazer com que o homem se assemelhe mais às plantas que ao homem que realmente é. Isto é: pensamento, sem seu  objeto natural, que é a verdade, é o não-pensamento; o homem que é não-pensamento é não-homem: um puro vegetal ou um puro animal (nível biológico). Então, qualquer questão sobre o homem já carece de sentido, mas, precisamente por isso, o ceticismo não tem sentido; já é contraditório em seu próprio enunciado: autonega-se.

E não é só o ceticismo, mas também toda posição filosófica que negue uma verdade objetiva é negação do pensamento e, portanto, do homem: por exemplo, o idealismo historicista e dialético. Se a verdade e sua validade são históricas, então o pensamento grego é a verdade “histórica” da antiguidade e o cristão a verdade “histórica” do mundo moderno, etc. Isto significa simplesmente que o homem não é capaz de verdade e que não há verdade, porque a verdade significa isto: verdade e não outra coisa; nem antiga nem medieval, nem moderna, mas tão somente verdade – descoberta na antiguidade ou no medievo, pelos gregos ou pelos italianos – válida para todo ente pensante, uma vez que foi descoberta e conquistada pelo pensamento. Se a verdade é dialética e a dialética é a essência do real, segue-se também que nada tem ser e nada é verdadeiro: a realidade ou a verdade de cada ente está em “relação com” seu contrário, onde se nega e se conserva dialeticamente. Nenhum ente é o que é: é só em seu conservar-se destruindo-se; nenhum ente tem uma realidade ou essência sua, e a verdade não é tal.

Nós defendemos a presença objetiva da verdade na mente, porque só assim se pode defender a validade do pensamento e, com ela, o homem: perder a verdade é perder o pensamento, esvaziar o homem de si mesmo, de sua natureza, fazê-lo semelhante (como disse Aristóteles) às plantas e às bestas. Por outro lado, se se nega validade objetiva ao saber humano nega-se o fundamento natural do revelado, isto é: a base da fé. A quem falaria Deus se o ente pensante não possuísse a luz objetiva do intelecto e o poder discursivo da razão? Sua mensagem aos homens teria, em tal caso, o mesmo sentido que para as plantas e os animais, isto é: nenhum sentido. Ou tantos sentidos variáveis quantas fossem as posições dialéticas, isto é: tampouco teria um sentido sensato.

2. A prova pela vida moral

Até agora insistimos sobre a atividade intelectiva, porque a prova não parecesse prejulgada por outros elementos e, sobretudo, porque qualquer prova possível da existência de Deus pressupõe a prova “pela verdade”. Mas agora é necessário analisar os outros aspectos da vida do espírito, a fim de que a prova manifeste toda a sua aderência ao homem na plenitude de sua integralidade e revele toda a sua força normal.

A verdade originária presente à mente não interessa só à vida intelectiva, mas também a todas as formas de nossa atividade. Inclusive a vida moral tem seu fundamento nos princípios originários que guiam, orientam e informam toda ação, ainda que nenhuma os iguale: são sua medida sem ser por ela medidos. A ação “boa” ou “justa” não faz com que exista a bondade ou o dever, mas ela não seria boa ou justa sem a bondade e o dever, que, por sua vez, existiriam igualmente ainda que o mundo não fosse ou nunca houvesse acontecido nele uma ação boa ou conforme ao dever. Podemos concluir que: os valores morais não existem porque existem as ações que os expressam, mas sim estas existem na medida em que aqueles existem e preexistem a todas as ações e lhe são independentes.

Os valores morais são, antes de tudo, verdades objetivas, intuídas pela mente; neste sentido, ainda que “práticos”, são teóricos: regras da vontade, que está obrigada a subordinar-se a eles, e aos quais se subordina e se adapta cada vez que lhe “reconhece” verdade e virtude; então se constitui em vontade que quer segundo a ordem moral. A razão especulativa julga todas as coisas segundo os princípios primordiais do juízo; a razão prática julga toda ação segundo os valores morais que são verdades (e como tais “teóricos”) reguladoras da vontade e de nossa conduta e que, por isso, têm um uso prático. Em consequência, assim como à mente são dados os princípios fundamentais do conhecimento, também lhe são dados os de querer. Do mesmo modo como pela presença em nós de verdades especulativas se argumenta sobre a existência de Deus, como Verdade em si, pela presença dos valores morais se argumenta a favor da existência de Deus como Valor absoluto e sumo Bem. A argumentação é idêntica à que foi desenvolvida a propósito da prova “pela verdade”: a mente humana é capaz de conhecer valores morais absolutos que constituem a vida, a força e a eficácia da vontade, que é como que a reveladora deles. Os valores não são criados pela mente ou pela vontade, nem induzidos “a posteriori” da experiência, a qual, ao contrário, os pressupõe. Portanto, existe Deus como Valor absoluto ou absoluta Vontade criadora de todos os valores e que é seu fundamento e seu sustentáculo.

O bem moral é também “atrativo”; sua “atração” confere à prova uma nova dimensão e revela toda a sua potência dinâmica. Objeto natural da vontade é o bem, sua verdade; ela é atraída por ele, mesmo que o desconheça ou se rebele contra ele: o arrependimento do mal feito, desforra do bem, é obra de sua força de atração. O bem é o princípio motor da vontade e o elemento informador das volições. Não há felicidade sem bem; a felicidade de todo ente espiritual é sua posse; logo, o bem é o princípio de toda a nossa ação. Há uma intuição intelectiva do bem, uma presença, que é presença de Deus como sumo Bem. Mais ainda: não somente há intuição, mas também uma imagem real d’Ele e, portanto, a relação entre o bem intuído e Deus como sumo Bem é sempre analógica. Intuição operante, criadora; conhecer o bem é querê-lo, é amá-lo, ser atraído por ele; ele gera o movimento da vontade e concentra nossos esforços para o mesmo fim, que não é só o bem que o ente finito pode conhecer e praticar, mas também, através deste, é o sumo Bem, que transcende todo bem e o fundamenta.

Amar o bem, é obrar no bem; deste modo se o possui. As ações boas são as respostas verdadeiras que damos ao objeto de nossa suprema aspiração. Só quando o bem se torna regra constante e contínua da conduta, o ente racional, estimulado interiormente pela atração do sumo Bem, caminha e se aproxima sempre mais da meta. É a sabedoria. Mas sabedoria dinâmica, inquieta e ativa, rica e indigente, suscitadora de respostas sempre novas segundo a norma reguladora e orientadora. O sumo Bem, luz da mente e da vontade, iluminando, ama: Deus ilumina e sua luz é amor; nós nos iluminamos amando-nos e amando aos outros entes criados. O amor é a atração do bem. Deus é a atração absoluta do Bem absoluto. O dinamismo da vontade, à qual está presente o bem, está originariamente orientado para o sumo Bem ou Deus, centro absoluto da atração, unificador de todos os seus esforços, que, de outro modo, seriam inexplicáveis e ininteligíveis.

O ente espiritual finito possui então, portanto, o desejo natural do sumo Bem, absoluta e infinitamente perfeito.
(Michele Federico Sciacca)

terça-feira, 21 de junho de 2016

213ª Nota - A nossa participação da vida divina



A conclusão que se impõe é a necessidade de santificarmos todas e cada uma das nossas ações, mesmo as mais comuns. Conforme dissemos, todas podem ser meritórias, se as fizermos com miras sobrenaturais, em união com o artífice de Nazaré, que, trabalhando na sua oficina, não cessava de merecer por nós. E, sendo assim, quanto progresso não podemos realizar num só dia! Desde que nos levantamos até ao momento de repousar, são às centenas os atos meritórios que uma alma recolhida e generosa pratica, porque não só cada ação, mas, quando a ação se prolonga, cada esforço para a realizar melhor – por exemplo, para afastar as distrações na oração, para aplicar a atenção ao trabalho, para evitar uma palavra pouco caritativa, para prestar ao próximo o menor serviço, – cada palavra inspirada pela caridade, cada bom pensamento, em resumo, todos os movimentos interiores da alma livremente dirigidos para o Bem, são outros tantos atos meritórios que fazem crescer Deus e a graça na nossa alma.

Podemos, pois, dizer com toda a verdade, que não há meio mais eficaz, mais prático, mais ao alcance de todos para se santificarem do que sobrenaturalizar todas as ações. Este meio basta só por si, para elevar uma alma em pouco tempo a um alto grau de santidade. Sendo assim, podemos dizer que cada ato é uma semente de graça, pois faz germinar e crescer a graça na nossa alma, e um germe de glória, pois aumenta ao mesmo tempo os nossos direitos à beatitude celeste.

Concluindo: o meio prático de converter todos os nossos atos em méritos é recolhermo-nos um momento antes de agir, renunciarmos positivamente a toda a intenção natural ou má, unirmo-nos, incorporarmo-nos em Cristo, nosso modelo e cabeça, com o sentimento da nossa fraqueza, e oferecermos por Ele a nossa ação a Deus para sua glória e bem das almas. Assim entendido, o oferecimento frequentemente renovado das nossas ações é um ato de renúncia, de humildade, de amor a Cristo, de amor de Deus, de amor do próximo; é um atalho para chegarmos à perfeição e para aumentarmos sem cessar a nossa vida sobrenatural.

Tais são os principais meios de corresponder à graça e de aumentar em nós a participação da vida divina, que é o tesouro mais precioso da nossa alma. Ponhamos, pois, em prática o conselho de São João: ‘Que aquele que é justo se torne mais justo ainda, e que aquele que é santo se santifique ainda mais’ (Apoc., XXII, 11).
(Padre Adolphe Tanquerey)

segunda-feira, 20 de junho de 2016

212ª Nota - O primeiro tatuado foi Caim


Atualmente se observa uma crescente adesão da juventude à tatuagem. Talvez nunca na história da humanidade a vaidade e a luxúria tenham se antecipado tanto na juventude como agora. E a tatuagem é um dos sintomas dessa corrupção juvenil. A ignorância religiosa e o apego exacerbado às coisas sensíveis, de modo especial àquelas relacionadas à imagem, fazem com que os jovens não queiram outra coisa que não o serem vistos e cobiçados. E disso, o desejo desenfreado em querer ser “imagem” para os outros, levando-os a “tatuar” seus corpos. Contudo, deveriam saber que o primeiro “tatuado” foi Caim, consoante nos revela a Sagrada Escritura, após ter matado o seu irmão Abel: “E Caim disse ao Senhor: A minha iniquidade é muito grande, para que eu mereça perdão. Eis que tu hoje me expulsas desta terra, e eu me esconderei da tua face, e serei vagabundo e fugitivo na terra; portanto, todo o que me achar me matará. E o Senhor disse-lhe: Não será assim; mas qualquer que matar Caim será castigado sete vezes mais. E o Senhor pôs um SINAL em Caim, para que o não matasse ninguém que o encontrasse. E Caim,  tendo-se retirado de diante da face do Senhor, andou errante sobre a terra...” (Gênesis 4, 13-16)

De Caim para praticamente todos os povos pagãos, a tatuagem passou a ser a marca representativa desse mau gosto imitativo, maldito e degradante. Ademais, lembremo-nos de que o nosso corpo é templo de Deus: “Porventura não sabeis que os vossos membros são templo do Espírito Santo, que habita em vós, que vos foi dado por Deus, e que não pertenceis a vós mesmos? Porque fostes comprados por um grande preço. Glorificai e trazei a Deus no vosso corpo” (I Coríntios 6, 19-20).


Adendo: A Igreja Católica, na Idade Média, baniu a tatuagem da Europa. Em 787, ela foi proibida pelo Papa Adriano I, sendo considerada como uma prática demoníaca, de vandalismo e vilipêndio do próprio corpo, que é templo do Espírito Santo.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

211ª Nota - A tolerância da Igreja contra a intolerância do mundo


A Igreja é intolerante nos princípios porque crê; porém, é tolerante na prática porque ama. Os inimigos da Igreja são tolerantes nos princípios porque não creem; porém, são intolerantes na prática porque não amam. 
(Dom Garrigou-Lagrange, OP)

quinta-feira, 16 de junho de 2016

210ª Nota - A tentação diabólica



“No escândalo do Sacrifício da Cruz, Santa Maria estava presente, escutando com tristeza os que passavam por ali e blasfemavam, meneando a cabeça e gritando: Tu, que derrubas o templo de Deus, e em três dias o reedificas, salva-te a ti mesmo. Se és Filho de Deus, desce da Cruz (Mt. 27, 39-40)”.

“Que fazes aí, cravado na cruz? Desce da cruz!” ESTA É A TENTAÇÃO DIABÓLICA: “Desce da Cruz!” Quem não a escutou alguma vez, depois de iniciar o caminho de Cristo? As paixões, talvez os amigos ou os parentes, interpelaram-nos: “Que fazes nesse lugar tão incômodo? Por que tanto esforço? Por que tanto sacrifício? Aonde queres ir com tantos filhos? Não vês que a tua conduta é uma bofetada no nosso egoísmo? Não nos ofendas com a tua cruz! Não lutes mais, não rezes mais, não te preocupes tanto com o teu próximo... Desce da cruz!” (...)

Mas Jesus não desce, apesar de que poderia fazê-lo. Também a sua Mãe, compreensivelmente, poderia ter dito: “Meu Filho, desce da Cruz; já é suficiente. Basta apenas uma gota do teu Sangue”. E, no entanto, não: nem Jesus desce, nem a sua Mãe se une aos tentadores. É preciso que cada um de nós seja obediente até à morte, e morte de cruz (Fil. 2, 8), obediente à Vontade do Pai, não à vontade dos homens. Assim, quando no caminho da nossa vida se abrirem duas opções possíveis e não soubermos por qual delas avançar, perscrutemos o horizonte, lembremo-nos de que Cristo é o Caminho, e escolhamos a opção que passa pela Cruz.

Se abandonássemos a luta, a cruz de cada dia, para ficar bem diante dos outros, ou por comodismo, ou mesmo para demonstrar que somos livres, afastar-nos-íamos de Cristo e da Sua Mãe. Talvez conseguíssemos uma comodidade aparente, mas, a rigor, só nos restaria a tristeza, e talvez a tristeza eterna. Na terra em que não haja Cruz não existirá felicidade humana possível. Por isso, Santa Maria não diz a Jesus que desça.
(Antonio Orozco Delclos)

quarta-feira, 15 de junho de 2016

209ª Nota - Amor à Verdade e ódio ao erro (III)


SÃO VICENTE DE PAULO CONTRA OS INIMIGOS DE CRISTO

“Ai de mim! Que ouço, meus senhores? Há tanto perigo para os pregadores que se firmam em belos conceitos, nas conjecturas de seus pensamentos e no uso das palavras da moda sem considerar quais são as certas. Ah! Temo por esses! E o que mais motivo me dá de temer é a Sagrada Escritura. Vós conheceis todas as suas palavras; eu não, mas conheço o seu sentido, e eis o que acontece: um profeta roga pragas ao pastor que, do lugar alto, vê o lobo causar estragos no rebanho e, embora veja o inimigo, não grita com todas as forças: ‘Salvai-vos, salvai-vos’. Desgraçado dele se não grita quando pode: ‘Salvai-vos’. Mas assim procedem  aqueles pregadores que não consideram antes de tudo, o proveito do seu auditório; mesmo quando avistam o inimigo mortal, não dizem nenhuma palavra. Cantam as árias da sua verbosidade em vez de soar a trombeta a vociferar: ‘Estamos perdidos! Eis aí o inimigo! Salvemo-nos! Salvemo-nos!’”

terça-feira, 14 de junho de 2016

208ª Nota - Amor à verdade e ódio ao erro (II)



ELOGIO A SÃO JERÔNIMO

Na encíclica “Spiritus Paraclitus” Bento XV escreve: “Um zelo tão ardente em salvaguardar a integridade da fé o arrastava a polêmicas muito agitadas contra os filhos rebeldes da Igreja os quais ele considerava como inimigos pessoais: ‘Bastar-me-á responder que jamais poupei os hereges e empreguei todo o meu zelo para fazer dos inimigos da Igreja os meus inimigos pessoais’ (Dial. C. Pelag. Prolog. 2). E numa carta a Rufino escreve: ‘Aqui está um ponto sobre o qual não posso estar de acordo contigo: poupar os hereges e não me mostrar católico’ (Contra Ruf., III, 43). Contudo, entristecido pela defecção deles, suplicava-lhes que voltassem à sua Mãe dolorosa, fonte única da salvação (Miq. 1, 10 e seg.). E em favor daqueles que tinham saído da Igreja e abandonado a doutrina do Espírito Santo para seguirem o próprio critério, rogava que retornassem a Deus.”

segunda-feira, 13 de junho de 2016

207ª Nota - Como é o sábio para o mundo


O sábio do mundo é aquele que sabe gerir bem os próprios negócios e sabe orientar tudo em proveito próprio, sem dar a entender pretender fazê-lo: conhece bem a arte de fingir e enganar astuciosamente, sem que o outro se aperceba; diz e faz uma coisa apesar de estar a pensar noutra; conhece perfeitamente os gostos e os cumprimentos do mundo; sabe ir de acordo com todos para alcançar os próprios objetivos, sem se preocupar absolutamente nada com a honra e glória de Deus; estabelece um secreto e funesto acordo entre a verdade e a mentira, entre o evangelho e o mundo, entre a virtude e o pecado, entre Jesus Cristo e Belial; quer fazer-se passar por honesto, sem sê-lo, nas obras; despreza, interpreta mal ou condena com leviandade todas as práticas de piedade que não vão de acordo com as suas. O sábio mundano, enfim, é alguém que, deixando-se guiar apenas pela luz dos sentidos e da razão humana, procura simplesmente rodear-se de aparências de cristão e de homem de bem, sem se preocupar minimamente de agradar a Deus ou de expiar, pela penitência, os pecados que cometem contra a sua divina Majestade. 

(São Luís Maria de Montfort,1673-1716)

sexta-feira, 10 de junho de 2016

206ª Nota - A quem cabe explicar a Sagrada Escritura?


Ademais, aqueles que fazem profissão de cristianismo reconhecem comumente que a fé deve ser una. O ponto mais importante e absolutamente indispensável, aquele em que erram muitos, consiste em discernir de que natureza e de que espécie é esta unidade. Pois aqui, (...), em semelhante assunto não há que julgar pela opinião ou conjectura, senão, segundo a ciência dos fatos há que buscar e comprovar qual é a unidade da fé que Jesus Cristo impôs a sua Igreja.

A doutrina celestial de Jesus Cristo, ainda que em grande parte esteja consignada nos livros inspirados por Deus, se houvesse sido entregue aos pensamentos dos homens, não poderia por si mesma unir os espíritos. Com a maior facilidade chegaria a ser objeto de interpretações diversas, e isto não somente por causa da profundidade e dos mistérios desta doutrina, senão pela diversidade dos entendimentos dos homens e da turbação que nasceria do choque e da luta de contrárias paixões. Das diferenças de intepretações nasceria necessariamente a diversidade dos sentimentos, e daí as controvérsias, dissensões e querelas, como as que surgiram na Igreja na época mais próxima a sua origem. Por isso, escreveu Santo Irineu, falando dos hereges: “Confessam as Escrituras, porém pervertem sua interpretação”. E Santo Agostinho: “A origem das heresias e dos dogmas perversos, que tecem laços nas almas e as precipitam ao abismo, está unicamente em que as Escrituras, que são boas, são entendidas de uma maneira que não é boa”.

(Excerto da Carta Encíclica Satis Cognitum, de Leão XIII)