O sábio do mundo é aquele que sabe gerir
bem os próprios negócios e sabe orientar tudo em proveito próprio, sem dar a
entender pretender fazê-lo: conhece bem a arte de fingir e enganar
astuciosamente, sem que o outro se aperceba; diz e faz uma coisa apesar de
estar a pensar noutra; conhece perfeitamente os gostos e os cumprimentos do
mundo; sabe ir de acordo com todos para alcançar os próprios objetivos, sem se
preocupar absolutamente nada com a honra e glória de Deus; estabelece um
secreto e funesto acordo entre a verdade e a mentira, entre o evangelho e o
mundo, entre a virtude e o pecado, entre Jesus Cristo e Belial; quer fazer-se
passar por honesto, sem sê-lo, nas obras; despreza, interpreta mal ou condena
com leviandade todas as práticas de piedade que não vão de acordo com as suas.
O sábio mundano, enfim, é alguém que, deixando-se guiar apenas pela luz dos
sentidos e da razão humana, procura simplesmente rodear-se de aparências de
cristão e de homem de bem, sem se preocupar minimamente de agradar a Deus ou de
expiar, pela penitência, os pecados que cometem contra a sua divina Majestade.
(São Luís Maria de Montfort,1673-1716)