Ademais, aqueles que fazem profissão de
cristianismo reconhecem comumente que a fé deve ser una. O ponto mais
importante e absolutamente indispensável, aquele em que erram muitos, consiste
em discernir de que natureza e de que espécie é esta unidade. Pois aqui, (...),
em semelhante assunto não há que julgar pela opinião ou conjectura, senão,
segundo a ciência dos fatos há que buscar e comprovar qual é a unidade da fé
que Jesus Cristo impôs a sua Igreja.
A doutrina celestial de Jesus Cristo,
ainda que em grande parte esteja consignada nos livros inspirados por Deus, se
houvesse sido entregue aos pensamentos dos homens, não poderia por si mesma
unir os espíritos. Com a maior facilidade chegaria a ser objeto de
interpretações diversas, e isto não somente por causa da profundidade e dos
mistérios desta doutrina, senão pela diversidade dos entendimentos dos homens e
da turbação que nasceria do choque e da luta de contrárias paixões. Das
diferenças de intepretações nasceria necessariamente a diversidade dos sentimentos,
e daí as controvérsias, dissensões e querelas, como as que surgiram na Igreja
na época mais próxima a sua origem. Por isso, escreveu Santo Irineu, falando
dos hereges: “Confessam as Escrituras, porém pervertem sua interpretação”. E
Santo Agostinho: “A origem das heresias e dos dogmas perversos, que tecem laços
nas almas e as precipitam ao abismo, está unicamente em que as Escrituras, que
são boas, são entendidas de uma maneira que não é boa”.
(Excerto da Carta Encíclica Satis
Cognitum, de Leão XIII)