Embora a expressão “casamento gay” seja
nova, as raízes dessa ideia são muito mais antigas — e Chesterton já havia
alertado para o seu perigo.
Um dos temas prementes na época de
Chesterton era o "controle de natalidade". Ele não fazia objeção
apenas à ideia, mas ao próprio termo, porque significava o oposto do que queria
dizer. Não significava nem natalidade, nem controle. Posso supor que ele teria
as mesmas objeções contra o "casamento gay". Não só a ideia, como
também o nome está errado: o "casamento gay" não é gay, no
sentido original do termo [1], nem é casamento.
Chesterton era sempre sensato em seus
pronunciamentos e profecias porque entendia que qualquer coisa que atacasse a
família era ruim para a sociedade. Foi por isso que ele falou contra a eugenia
e a contracepção, contra o divórcio e o "amor livre" (outro termo que
ele rejeitava por sua falsidade), mas também contra a escravidão assalariada e
a educação estatal compulsória, com mães contratando outras pessoas para fazer
o que elas foram designadas para fazer por si mesmas. É seguro dizer que
Chesterton se levantou contra toda moda e tendência que hoje nos aflige porque
cada uma dessas modas e tendências minava a família. Um Estado intervencionista
(Big Government) tenta substituir a autoridade da família, e um Mercado
dominador (Big Business) tenta substituir a sua autonomia. Há uma constante
pressão comercial e cultural sobre o pai, a mãe e os filhos. Eles são
minimizados, marginalizados e, sim, ridicularizados. Mas, como diz Chesterton,
"esse triângulo de truísmos — pai, mãe e filho — não pode ser destruído;
só se destroem as civilizações que o desprezam" [2].
A legalização das uniões homossexuais
não é nem o último nem o pior ataque à família, mas tem um valor impressivo,
apesar do processo de dessensibilização em que nos colocaram as indústrias de
informação e entretenimento ao longo dos últimos anos. Quem tenta protestar
contra a normalização do anormal é recebido "ou com ataques ou com o
silêncio" — assim como Chesterton, quando ele tentou argumentar contra as
novas filosofias promovidas pela maior parte dos jornais de sua época. Em 1926,
ele alertou: "A próxima grande heresia será um ataque à moralidade,
especialmente à moral sexual" [3]. Seu aviso passou desapercebido,
enquanto a moral sexual decaía progressivamente. Mas vamos nos lembrar
que tudo começou com o controle da natalidade, que é uma tentativa de viver
o sexo por ele mesmo, transformando um ato de amor em um ato de egoísmo. A
promoção e a aceitação do sexo sem vida, estéril e egoísta evoluiu,
logicamente, para a homossexualidade.
Chesterton mostra que o problema da
homossexualidade como inimiga da civilização é bem antigo. Em O Homem
Eterno, ele descreve que o culto à natureza e a "simples mitologia"
produziram uma perversão entre os gregos. "Da mesma forma que eles se
tornaram inaturais adorando a natureza, assim eles de fato se tornaram
efeminados adorando o homem". Qualquer jovem, ele diz, "que teve a
sorte de crescer de modo sensato e simples" sente um repúdio natural pela
homossexualidade porque "ela não é verdadeira nem para a natureza humana,
nem para o senso comum". Ele argumenta que, se tentarmos agir
indiferentemente em relação a ela, estaremos nos enganando a nós mesmos. É
"a ilusão da familiaridade" quando "uma perversão se torna uma
convenção" [4].
Em Hereges, Chesterton quase faz
uma profecia sobre o abuso da palavra "gay". Ele escreve sobre a
"poderosa e infeliz filosofia de Oscar Wilde", "a religião
do carpe diem". Carpe diem significa "aproveite o
dia", faça o que quiser, sem pensar nas consequências, viva apenas pelo
momento. "No entanto, a religião do carpe diem não é a religião
das pessoas felizes, mas a das absolutamente infelizes" [5]. Há um
desespero bem como um infortúnio ligado a isso. Quando o sexo é apenas um
prazer momentâneo, quando não oferece nada além de si mesmo, ele não traz
nenhuma satisfação. É literalmente sem vida. E, como Chesterton escreve em seu
livro São Francisco de Assis: "no momento em que o sexo deixa de ser
um servo, ele se torna um tirano" [6]. Essa é talvez a mais profunda
análise do problema dos homossexuais: eles são escravos do sexo. Estão tentando
"perverter o futuro e desfazer o passado". Eles precisam ser
libertados.
O pecado tem consequências. Ainda assim,
Chesterton sempre sustenta que devemos condenar o pecado, não o pecador. E
ninguém mostra mais compaixão pelos decaídos do que ele. Sobre Oscar Wilde, que
ele chama de "o chefe dos decadentes" [7], Chesterton diz que ele
cometeu um "erro monstruoso", mas também sofreu monstruosamente por
isso, indo para uma terrível prisão, onde ele foi esquecido por todas as
pessoas que antes tinham brindado a sua rebeldia impulsiva. "A vida dele
foi completa, naquele sentido inspirador em que a minha vida e a sua são
incompletas, já que nós ainda não pagamos por nossos pecados. Nesse sentido,
podemos chamar a vida dele de perfeita, assim como falamos de uma equação perfeita,
que é neutralizada. De um lado, nós temos o saudável horror ao mal; de outro, o
saudável horror à punição" [8].
Chesterton se referia ao comportamento
homossexual de Wilde como um pecado "altamente civilizado", por ser
uma das piores aflições entre as classes ricas e ilustradas. Era um pecado ao
qual Chesterton nunca havia sido tentado, e ele diz que não é uma grande
virtude nunca termos cometido um pecado ao qual não fomos tentados. Outra razão
pela qual devemos tratar nossos irmãos e irmãs homossexuais com compaixão. Nós
conhecemos nossos próprios pecados e fraquezas o suficiente. Fílon de
Alexandria dizia: "Seja gentil, pois todos à sua volta estão lutando uma
batalha terrível".
Compaixão, contudo, não significa jamais
compromisso com o mal. Chesterton ressalta aquele equilíbrio pelo qual
nossa verdade não deve ser desprovida de piedade, nem a nossa compaixão deve
ser separada da verdade. A homossexualidade é uma desordem. É contrária à
ordem. Os atos homossexuais são pecaminosos, ou seja, são contrários à ordem de
Deus. Eles jamais poderão ser normais. Pior ainda, jamais sequer poderão ser
vividos normalmente. Como diz o grande detetive Padre Brown: "Os homens
até podem se manter em um nível razoável de bondade, mas ninguém jamais foi
capaz de permanecer em um nível de maldade. Essa estrada conduz ao fundo do
abismo" [9].
O matrimônio é entre um homem e uma
mulher. Essa é a ordem. E a Igreja Católica ensina que essa é uma ordem
sacramental, com implicações divinas. O mundo tem feito uma sátira do casamento
que agora culminou com as uniões homossexuais. Mas foram os homens e as
mulheres heterossexuais que pavimentaram o caminho para essa decadência. O
divórcio, que é algo anormal, é agora tratado como normal. A contracepção,
outra coisa anormal, é agora tratada como normal. O aborto ainda não é normal,
ainda que seja legal [10]. Legalizar o "casamento" homossexual não o
tornará normal, só vai aumentar ainda mais a confusão dos tempos e a decadência
da nossa civilização. Mas a profecia de Chesterton permanece: não seremos
capazes de destruir a família. Ao desprezá-la, o que vamos fazer é simplesmente
destruir-nos a nós mesmos.
Fonte: Crisis
Magazine | Tradução: Equipe Christo Nihil Praeponere
Notas e referências:
Antes de significar
"homossexual", a palavra inglesa gay remetia simplesmente à
ideia de alegria e despreocupação.
CHESTERTON,
G. K. The Superstition of Divorce. London: Chatto & Windus, 1920, p.
63.
______. The
Next Heresy. In: The Chesterton Review 26 (3), p. 295-298 (2000).
______. O Homem Eterno (trad. de
Almiro Pisetta). São Paulo: Mundo Cristão, 2010, p. 164-165.
______. Hereges (trad. de
Antônio Emílio Angueth de Araújo). 3. ed. Campinas: Ecclesiae, 2012, p. 119.
______. Saint
Francis of Assisi. London: Hodder and Stoughton, 1923, p. 30.
______. The
Victorian Age in Literature. London: Williams and Norgate, 1913, p. 226.
______. Oscar
Wilde. In: On Lying in Bed and Other Essays. Calgary: Bayeux Arts,
2000, p. 248.
______. The
Flying Stars. In: A Inocência do Padre Brown. Porto Alegre:
L&PM, 2011.
Nos Estados Unidos, o aborto é
legalizado desde a famosa decisão Roe vs. Wade, de 1973.