O
MAU LIVRO É ASSASSINO
Corrompe
e mata o espírito, falseando o seu juízo e fazendo-lhe perder a gravidade e o
equilíbrio.
Dizem
que, no Oriente, os infelizes que contraíram o funesto hábito de embriagar-se
com o abuso do ópio se tornam incapazes de suportar a vida. Esta embriaguez faz
brilhar, perante seus olhos fascinados, horizontes deslumbrantes de cores e de
luz. A sua alma experimenta então emoções e êxtases desconhecidos; a sua
imaginação os transporta para palácios encantados. Ora, arrebatados pela brisa
embalsamada, pelos vastíssimos campos de céu, visitam com a rapidez do
relâmpago regiões maravilhosas, que nenhum olhar humano jamais contemplou. Ora,
arrebatados como flor arrancada à ribanceira, por um fluido misterioso,
percorrem paraísos de verdura e respiram com avidez perfumes ignorados até
então.
Tais
são os devaneios, as loucuras em que se mergulham os leitores e as leitoras de
romances. Quando se desvanecem estas ilusões e tornam à crua realidade,
acabrunha-os uma tristeza indescritível.
Quem
leu muitos romances há de naturalmente sonhar com eles. Comparando a monotonia
dos deveres de cada dia com a existência imaginária e quimérica dos personagens
de romance o leitor ou a leitora assídua e apaixonada vai criando enfado,
aversão ao seu estado, fantasia outro, despreza as suaves ternuras da família e
a alegria do lar.
O
MAU LIVRO MATA O CORAÇÃO
Quem
costuma ler maus livros com prazer gosta deles evidentemente; pelo só fato de
gostar deles conclui-se forçosamente que são perigosos para essa pessoa e que
lhe desorientam e estragam a alma, pois é impossível que não se manche quem se
arrasta e mergulha na lama. Dá-se com os livros o que se dá com os alimentos:
alimentam por natureza e devem produzir um efeito benéfico ou funesto.
VÃS DESCULPAS
– Com o fim de se desculpar e justificar, os leitores e as leitoras de romances
dizem que essa leitura instrui, adorna e ilustra o espírito.
E
a inocência e o candor que lhes rouba, não valem mil vezes mais que uma cultura
superficial e banal? Não é porventura verdadeira insensatez o julgar que não se
pode aprender a falar e a escrever senão aprendendo o mal viver? O pretexto
pueril de que os romances adornam e ilustram a mente, nunca poderá justificar a
imprudência de quem se expõe evidentemente a encontrar na sua leitura dúvidas,
tentações, ensinos perversos e corruptores, e erros de toda espécie.
ESTA LEITURA NÃO ME FAZ MAL!
Que esperança! Os rapazes e as moças que nos alegam semelhante pretexto são
talvez seres à parte, seres privilegiados, fenomenalmente privilegiados? Não
foram formados com o mesmo barro com o qual foram e são plasmados todos os
outros homens? Não há neles as mesmas inclinações, o mesmo fundo de orgulho, de
sensualismo? Ora essa! Os próprios sacerdotes, que se veem às vezes obrigados a
ler certos livros, para refutar-lhes os erros, abrem-nos com receio e a tremer,
pedindo humildemente a Deus que os preserve de toda queda; e vós, meninos,
rapazes, meninas e moças, julgais poder permitir-vos sem remorso de consciência
a leitura franca de semelhantes livros? NÃO, MIL VEZES NÃO!... Não sois tão
fortes e invulneráveis como quereis imaginar, e tanto menos o sois, quanto mais
vos iludis sobre a vossa força. Sois feitos de carne e ossos como o resto dos
pobres e fracos mortais. A vossa fraqueza é grande e vos expondes a perder o
que há de mais precioso em vós; a pureza do coração.
CONCLUSÕES PRÁTICAS
– NUNCA vos permitais a leitura de algum LIVRO DUVIDOSO, sem pedir previamente
seguras informações a respeito dele, sem pedir o parecer de vossa mãe ou do
vosso confessor.
Se
por negligência, ou até sem haja culpa alguma de vossa parte, abris alguns
desses livros cujo conteúdo ignorais, FECHAI-O apenas perceberdes que a vossa
imaginação começa a exaltar-se com as descrições que vos oferece, ou a vossa
mente se prende com demasiada sofreguidão e avidez, com excessiva curiosidade
ás suas narrações cativantes. É quase sempre sinal desfavorável para o livro
que produz semelhantes impressões.
Enfim,
atendei mais ao cumprimento dos vossos deveres que à leitura, TRABALHAI E ORAI.
Se pertenceis à sociedade, frequentai-a na medida do necessário, dedicai os
vossos talentos, as vossas habilidades e aptidões às obras de apostolado. Nunca
deixeis a vossa leitura espiritual, interessai-vos pelos livros sérios e
verdadeiramente instrutivos e de leitura proveitosa, e não tereis que recorrer
ao vosso confessor ou a vossa mãe para saber se podeis ler este ou aquele
livro, como não recorreis a eles para saber se podeis caçar onças ou pescar
baleias. Mais o trabalho e menos leituras. Eis aí o que vos desejo e peço
encarecidamente para vosso bem. Oxalá se realize o meu ardente desejo!
(Padre Amando Adriano Lochu, S.J.,
in Raios de Sol, 1933)