quarta-feira, 29 de junho de 2016

219ª Nota - Livros Assassinos


O MAU LIVRO É ASSASSINO

Corrompe e mata o espírito, falseando o seu juízo e fazendo-lhe perder a gravidade e o equilíbrio.
Dizem que, no Oriente, os infelizes que contraíram o funesto hábito de embriagar-se com o abuso do ópio se tornam incapazes de suportar a vida. Esta embriaguez faz brilhar, perante seus olhos fascinados, horizontes deslumbrantes de cores e de luz. A sua alma experimenta então emoções e êxtases desconhecidos; a sua imaginação os transporta para palácios encantados. Ora, arrebatados pela brisa embalsamada, pelos vastíssimos campos de céu, visitam com a rapidez do relâmpago regiões maravilhosas, que nenhum olhar humano jamais contemplou. Ora, arrebatados como flor arrancada à ribanceira, por um fluido misterioso, percorrem paraísos de verdura e respiram com avidez perfumes ignorados até então.
Tais são os devaneios, as loucuras em que se mergulham os leitores e as leitoras de romances. Quando se desvanecem estas ilusões e tornam à crua realidade, acabrunha-os uma tristeza indescritível.
Quem leu muitos romances há de naturalmente sonhar com eles. Comparando a monotonia dos deveres de cada dia com a existência imaginária e quimérica dos personagens de romance o leitor ou a leitora assídua e apaixonada vai criando enfado, aversão ao seu estado, fantasia outro, despreza as suaves ternuras da família e a alegria do lar.

O MAU LIVRO MATA O CORAÇÃO

Quem costuma ler maus livros com prazer gosta deles evidentemente; pelo só fato de gostar deles conclui-se forçosamente que são perigosos para essa pessoa e que lhe desorientam e estragam a alma, pois é impossível que não se manche quem se arrasta e mergulha na lama. Dá-se com os livros o que se dá com os alimentos: alimentam por natureza e devem produzir um efeito benéfico ou funesto.
VÃS DESCULPAS – Com o fim de se desculpar e justificar, os leitores e as leitoras de romances dizem que essa leitura instrui, adorna e ilustra o espírito.
E a inocência e o candor que lhes rouba, não valem mil vezes mais que uma cultura superficial e banal? Não é porventura verdadeira insensatez o julgar que não se pode aprender a falar e a escrever senão aprendendo o mal viver? O pretexto pueril de que os romances adornam e ilustram a mente, nunca poderá justificar a imprudência de quem se expõe evidentemente a encontrar na sua leitura dúvidas, tentações, ensinos perversos e corruptores, e erros de toda espécie.
ESTA LEITURA NÃO ME FAZ MAL! Que esperança! Os rapazes e as moças que nos alegam semelhante pretexto são talvez seres à parte, seres privilegiados, fenomenalmente privilegiados? Não foram formados com o mesmo barro com o qual foram e são plasmados todos os outros homens? Não há neles as mesmas inclinações, o mesmo fundo de orgulho, de sensualismo? Ora essa! Os próprios sacerdotes, que se veem às vezes obrigados a ler certos livros, para refutar-lhes os erros, abrem-nos com receio e a tremer, pedindo humildemente a Deus que os preserve de toda queda; e vós, meninos, rapazes, meninas e moças, julgais poder permitir-vos sem remorso de consciência a leitura franca de semelhantes livros? NÃO, MIL VEZES NÃO!... Não sois tão fortes e invulneráveis como quereis imaginar, e tanto menos o sois, quanto mais vos iludis sobre a vossa força. Sois feitos de carne e ossos como o resto dos pobres e fracos mortais. A vossa fraqueza é grande e vos expondes a perder o que há de mais precioso em vós; a pureza do coração.
CONCLUSÕES PRÁTICAS – NUNCA vos permitais a leitura de algum LIVRO DUVIDOSO, sem pedir previamente seguras informações a respeito dele, sem pedir o parecer de vossa mãe ou do vosso confessor.
Se por negligência, ou até sem haja culpa alguma de vossa parte, abris alguns desses livros cujo conteúdo ignorais, FECHAI-O apenas perceberdes que a vossa imaginação começa a exaltar-se com as descrições que vos oferece, ou a vossa mente se prende com demasiada sofreguidão e avidez, com excessiva curiosidade ás suas narrações cativantes. É quase sempre sinal desfavorável para o livro que produz semelhantes impressões.
Enfim, atendei mais ao cumprimento dos vossos deveres que à leitura, TRABALHAI E ORAI. Se pertenceis à sociedade, frequentai-a na medida do necessário, dedicai os vossos talentos, as vossas habilidades e aptidões às obras de apostolado. Nunca deixeis a vossa leitura espiritual, interessai-vos pelos livros sérios e verdadeiramente instrutivos e de leitura proveitosa, e não tereis que recorrer ao vosso confessor ou a vossa mãe para saber se podeis ler este ou aquele livro, como não recorreis a eles para saber se podeis caçar onças ou pescar baleias. Mais o trabalho e menos leituras. Eis aí o que vos desejo e peço encarecidamente para vosso bem. Oxalá se realize o meu ardente desejo!
(Padre Amando Adriano Lochu, S.J., in Raios de Sol, 1933)