terça-feira, 21 de junho de 2016

213ª Nota - A nossa participação da vida divina



A conclusão que se impõe é a necessidade de santificarmos todas e cada uma das nossas ações, mesmo as mais comuns. Conforme dissemos, todas podem ser meritórias, se as fizermos com miras sobrenaturais, em união com o artífice de Nazaré, que, trabalhando na sua oficina, não cessava de merecer por nós. E, sendo assim, quanto progresso não podemos realizar num só dia! Desde que nos levantamos até ao momento de repousar, são às centenas os atos meritórios que uma alma recolhida e generosa pratica, porque não só cada ação, mas, quando a ação se prolonga, cada esforço para a realizar melhor – por exemplo, para afastar as distrações na oração, para aplicar a atenção ao trabalho, para evitar uma palavra pouco caritativa, para prestar ao próximo o menor serviço, – cada palavra inspirada pela caridade, cada bom pensamento, em resumo, todos os movimentos interiores da alma livremente dirigidos para o Bem, são outros tantos atos meritórios que fazem crescer Deus e a graça na nossa alma.

Podemos, pois, dizer com toda a verdade, que não há meio mais eficaz, mais prático, mais ao alcance de todos para se santificarem do que sobrenaturalizar todas as ações. Este meio basta só por si, para elevar uma alma em pouco tempo a um alto grau de santidade. Sendo assim, podemos dizer que cada ato é uma semente de graça, pois faz germinar e crescer a graça na nossa alma, e um germe de glória, pois aumenta ao mesmo tempo os nossos direitos à beatitude celeste.

Concluindo: o meio prático de converter todos os nossos atos em méritos é recolhermo-nos um momento antes de agir, renunciarmos positivamente a toda a intenção natural ou má, unirmo-nos, incorporarmo-nos em Cristo, nosso modelo e cabeça, com o sentimento da nossa fraqueza, e oferecermos por Ele a nossa ação a Deus para sua glória e bem das almas. Assim entendido, o oferecimento frequentemente renovado das nossas ações é um ato de renúncia, de humildade, de amor a Cristo, de amor de Deus, de amor do próximo; é um atalho para chegarmos à perfeição e para aumentarmos sem cessar a nossa vida sobrenatural.

Tais são os principais meios de corresponder à graça e de aumentar em nós a participação da vida divina, que é o tesouro mais precioso da nossa alma. Ponhamos, pois, em prática o conselho de São João: ‘Que aquele que é justo se torne mais justo ainda, e que aquele que é santo se santifique ainda mais’ (Apoc., XXII, 11).
(Padre Adolphe Tanquerey)