“No escândalo do Sacrifício da Cruz,
Santa Maria estava presente, escutando com tristeza os que passavam por ali e
blasfemavam, meneando a cabeça e gritando: Tu, que derrubas o templo de Deus, e
em três dias o reedificas, salva-te a ti mesmo. Se és Filho de Deus, desce da
Cruz (Mt. 27, 39-40)”.
“Que fazes aí, cravado na cruz? Desce da
cruz!” ESTA É A TENTAÇÃO DIABÓLICA: “Desce da Cruz!” Quem não a escutou alguma
vez, depois de iniciar o caminho de Cristo? As paixões, talvez os amigos ou os
parentes, interpelaram-nos: “Que fazes nesse lugar tão incômodo? Por que tanto
esforço? Por que tanto sacrifício? Aonde queres ir com tantos filhos? Não vês
que a tua conduta é uma bofetada no nosso egoísmo? Não nos ofendas com a tua
cruz! Não lutes mais, não rezes mais, não te preocupes tanto com o teu
próximo... Desce da cruz!” (...)
Mas Jesus não desce, apesar de que
poderia fazê-lo. Também a sua Mãe, compreensivelmente, poderia ter dito: “Meu
Filho, desce da Cruz; já é suficiente. Basta apenas uma gota do teu Sangue”. E,
no entanto, não: nem Jesus desce, nem a sua Mãe se une aos tentadores. É preciso
que cada um de nós seja obediente até à morte, e morte de cruz (Fil. 2, 8),
obediente à Vontade do Pai, não à vontade dos homens. Assim, quando no caminho
da nossa vida se abrirem duas opções possíveis e não soubermos por qual delas
avançar, perscrutemos o horizonte, lembremo-nos de que Cristo é o Caminho, e
escolhamos a opção que passa pela Cruz.
Se abandonássemos a luta, a cruz de cada
dia, para ficar bem diante dos outros, ou por comodismo, ou mesmo para
demonstrar que somos livres, afastar-nos-íamos de Cristo e da Sua Mãe. Talvez
conseguíssemos uma comodidade aparente, mas, a rigor, só nos restaria a
tristeza, e talvez a tristeza eterna. Na terra em que não haja Cruz não
existirá felicidade humana possível. Por isso, Santa Maria não diz a Jesus que
desça.
(Antonio
Orozco Delclos)