quinta-feira, 16 de junho de 2016

210ª Nota - A tentação diabólica



“No escândalo do Sacrifício da Cruz, Santa Maria estava presente, escutando com tristeza os que passavam por ali e blasfemavam, meneando a cabeça e gritando: Tu, que derrubas o templo de Deus, e em três dias o reedificas, salva-te a ti mesmo. Se és Filho de Deus, desce da Cruz (Mt. 27, 39-40)”.

“Que fazes aí, cravado na cruz? Desce da cruz!” ESTA É A TENTAÇÃO DIABÓLICA: “Desce da Cruz!” Quem não a escutou alguma vez, depois de iniciar o caminho de Cristo? As paixões, talvez os amigos ou os parentes, interpelaram-nos: “Que fazes nesse lugar tão incômodo? Por que tanto esforço? Por que tanto sacrifício? Aonde queres ir com tantos filhos? Não vês que a tua conduta é uma bofetada no nosso egoísmo? Não nos ofendas com a tua cruz! Não lutes mais, não rezes mais, não te preocupes tanto com o teu próximo... Desce da cruz!” (...)

Mas Jesus não desce, apesar de que poderia fazê-lo. Também a sua Mãe, compreensivelmente, poderia ter dito: “Meu Filho, desce da Cruz; já é suficiente. Basta apenas uma gota do teu Sangue”. E, no entanto, não: nem Jesus desce, nem a sua Mãe se une aos tentadores. É preciso que cada um de nós seja obediente até à morte, e morte de cruz (Fil. 2, 8), obediente à Vontade do Pai, não à vontade dos homens. Assim, quando no caminho da nossa vida se abrirem duas opções possíveis e não soubermos por qual delas avançar, perscrutemos o horizonte, lembremo-nos de que Cristo é o Caminho, e escolhamos a opção que passa pela Cruz.

Se abandonássemos a luta, a cruz de cada dia, para ficar bem diante dos outros, ou por comodismo, ou mesmo para demonstrar que somos livres, afastar-nos-íamos de Cristo e da Sua Mãe. Talvez conseguíssemos uma comodidade aparente, mas, a rigor, só nos restaria a tristeza, e talvez a tristeza eterna. Na terra em que não haja Cruz não existirá felicidade humana possível. Por isso, Santa Maria não diz a Jesus que desça.
(Antonio Orozco Delclos)