quarta-feira, 11 de outubro de 2017

328ª Nota - Frases de Alexander Soljenítsin


A sociedade ocidental se expandiu em um triunfo da independência humana e do poder. E, de repente, no século XX, veio a descoberta de sua fragilidade e friabilidade. Vemos, agora, que as conquistas provaram ser fugazes e precárias, e, também, pontos de defeitos da visão ocidental do mundo que levaram a estas conquistas.

É preciso que alguém saliente que, desde os tempos antigos, o declínio da coragem tem sido considerado o começo do fim.

Humanismo sem a sua herança cristã não pode resistir ao materialismo. A situação está se tornando cada vez mais dramática. O Liberalismo, inevitavelmente, foi deslocado pelo Radicalismo; o Radicalismo tem que se render ao Socialismo; e o Socialismo acaba não podendo resistir ao Comunismo.

Cento e dez milhões de russos morreram vítimas do Socialismo...

O pior do Comunismo não é a opressão, mas a mentira.

Tal como é, a imprensa se tornou o maior poder nos países ocidentais; mais poderosa, inclusive, que o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

 A defesa dos direitos individuais chegou a tais extremos que tornou a sociedade como um todo indefesa diante de certos indivíduos. Chegou a hora, no Ocidente, de defender menos os direitos humanos e mais as humanas obrigações.

À uma espécie de liberdade destrutiva e irresponsável foi concedido um espaço ilimitado. A sociedade parece ter pouca defesa contra o abismo da decadência humana, como, por exemplo, o mau uso da liberdade para a violência moral contra os jovens, ou seja, imagens em movimento cheias de pornografia infantil, crime e horror. É considerado como parte da liberdade e, teoricamente, é contrabalançado pelo direito de os jovens não olharem ou não aceitarem estas coisas. A vida organizada legalisticamente, assim, demonstrou a sua incapacidade de defender a sociedade contra a corrosão do mal.

Na sociedade ocidental de hoje, revelou-se a desigualdade entre a liberdade para as boas ações e a liberdade para as más ações. Um estadista que queira realizar algo importante e altamente construtivo para seu país precisa agir cautelosamente, até mesmo timidamente; existem milhares de críticos afoitos e irresponsáveis à sua volta, o parlamento e a imprensa o rechaçam. À medida que avança, ele é obrigado a provar que cada um de seus passos é consistente e absolutamente impecável. Deste modo, a mediocridade triunfa sob a desculpa das restrições impostas pela Democracia.

Apenas a liberdade em nada ajuda a resolver os problemas da vida humana, e ainda acrescenta uma série de novos.

Há um desastre que está em curso há algum tempo. Refiro-me à calamidade de uma consciência desespiritualizada, irreligiosa e desumanizada... Colocamos muita esperança nas reformas políticas e sociais, apenas para descobrir que estávamos sendo privados do nosso bem mais precioso: a nossa vida espiritual. No Oriente, a vida espiritual é destruída pelas maquinações dos partidos no poder; no Ocidente, os interesses comerciais tendem a sufocá-la.

Se o corpo do homem está condenado a morrer, a sua missão na Terra, evidentemente, deve ser de natureza espiritual. Não se deve gozar desenfreadamente a vida cotidiana. A vida não deve se basear exclusivamente na busca das melhores formas de se obter bens materiais e, em seguida, alegremente, tirar o máximo proveito deles. Tem que ser o cumprimento de um dever permanente e sincero, para que esta vida possa se tornar uma experiência de crescimento moral, de modo que um ser humano possa permitir que a vida de outro ser humano se torne melhor do que quando começou. É imperativo rever o quadro generalizado de valores humanos. Sua incorreção presente é impressionante.

(Alexander Soljenítsin, Prêmio Nobel de Literatura, autor de “Arquipélago Gulag”)