A cabeça da Virgem de Guadalupe é uma
das grandes obras-primas de expressão artística facial. Desde à fineza da
forma, à simplicidade da execução, ao matiz e ao colorido, existem poucos casos
que se lhe comparem entre as obras-primas do mundo. Dos retratos que tenho
observado na minha vida, não existe nenhum executado de tal maneira.
As aproximações fotográficas com “luz
infravermelha” não demonstram preparo algum, características que por si mesmo
faz da pintura algo de fantástico.
O tom da cútis do rosto e das mãos é
definitivamente indígena e, a uma distância de aproximadamente um metro, parece
ter um tom quase verde cinzento (oliva). Examinados de perto, com uma lupa, os
pigmentos dão a impressão de que variam do cinza nas sombras profundas para o branco
brilhante na região mais clara das bochechas.
A ausência de emplastro é evidente não
só na aproximação com o infravermelho, mas também nas tomadas
fotográficas com luz visível. Por isso, vêem-se vazios os interstícios no
tecido da tela. É de grande interesse a parte mais clara da bochecha, feita com
um pigmento desconhecido, que aparece praticamente “aglutinado” no tosco tecido
da tilma. À primeira vista apareceria embaçado no infravermelho e, por isso,
semitransparente à radiação infravermelha. Se o brilho do pigmento da bochecha
fosse de grossas camadas reais de cal ou de gesso, é absolutamente certo que as
grossas camadas aplicadas na tela se teriam gretado com o passar dos séculos.
As áreas sombreadas em tonalidades
cinzentas, como as do lado direito do rosto (junto ao nariz), a da boca e da
covinha sob a boca estão sutilmente pintadas e a grosseira trama do ayate
sobressai nelas.
A formosa expressão de meditação é
constituída por simples linhas escuras e finas, que desenham as sobrancelhas, a
silhueta do nariz e a boca.
Nas fotografias tiradas de perto, o
rosto aparece desprovido de perspectiva, achatado e de tosca execução. Mas,
contemplado a certa distância, surge nele uma elegante profundidade.
Uma das maravilhas e inexplicáveis
técnicas empregadas para dar realismo à pintura se refere à forma como se
aproveita a tilma, não preparada, para dar ao rosto uma profundidade e
aparência de vida. Isto é evidente, principalmente na boca onde uma falha do
fio do ayate sobressai do plano deste e continua à perfeição no contorno
superior do lábio. Outras toscas imperfeições do mesmo tipo aparecem sob a área
clara da bochecha esquerda e à direita e embaixo do olho direito. Considero
impossível que qualquer pintor humano tenha escolhido uma tilma com falhas no
tecido e situadas de tal forma que acentuassem as luzes e as sombras para dar
um realismo semelhante. É muito mais do que inconcebível a possibilidade de uma
coincidência.
Conforme se vê nas fotografias
infravermelhas, os olhos e as sombras em torno do nariz são simples linhas
escuras não traçadas de antemão na tela, mas são parte do mesmo pigmento do
rosto. Vendo a pintura de perto, as partes mais claras das pálpebras são tênues
que parecem inexistir.
O preto dos olhos e dos cabelos não pode
ser óxido de ferro, nem outro pigmento que se torna cinza com o tempo, porque
neles a pintura não está descascada nem desbotada.
O que há de verdadeiramente
extraordinário no rosto e nas mãos é a qualidade de tom, que é um efeito físico
da luz refletida, tanto pela tosca tilma como pela própria pintura.
É um fato indiscutível que, se olharmos
de perto o relevo e o colorido do rosto, ficamos decepcionados. Mas,
contemplando-o a uns metros, a cútis adquire um matiz que poderíamos qualificar
de verde-oliva ou verde-cinza. Até parece que o cinza e o aparentemente
“aglutinado” pigmento branco do rosto e das mãos combinam com a superfície
tosca da tilma para “recolher” a luz e refletir ao longe o tom oliva da cútis.
Parece ser impossível conseguir semelhante técnica por mãos humanas, embora a
natureza no-la ofereça com frequência na coloração das plumas das aves, nas
escamas das mariposas e nos élitros dos coleópteros brilhantes coloridos. Tais
cores obedecem à refração da luz e não dependem da absorção ou reflexão da luz
por parte dos pigmentos moleculares, senão do relevo da superfície das plumas e
das escamas das mariposas.
Este mesmo efeito é evidente no rosto e
é observado sem dificuldade quando o espectador se afasta lentamente da
pintura, até que os detalhes das imperfeições do tecido do ayate já não fiquem
visíveis.
Numa distância em que o relevo e o
pigmento da superfície se fundem, brota como por encanto a avassaladora beleza
da Senhora morena. De repente, a expressão do rosto aparece reverente, embora
gozadora, índia embora europeia, de textura oliva, embora com matizes brancos.
A impressão que dá é a de um rosto tão áspero como os desertos do México e,
também, tão gentil como o de uma noiva na sua noite de núpcias. É a face que
estremecia a cristandade da Europa bizantina com o naturalismo subjugante do
Novo Mundo indígena: um adequado símbolo para todos os povos de um grande
continente.
CONCLUSÃO
O rosto inteiro é feito com pigmentos
desconhecidos, misturados de tal maneira que aproveitam as qualidades da
difração da luz causada pela tela sem preparo, para dar o matiz oliva à cútis.
Além disso, a técnica se serve das imperfeições do tecido da tilma para dar uma
grande profundidade à pintura.
O
rosto é de tal beleza e de execução tão singular, que se torna inexplicável
para o estado atual da ciência.
(J.J.Benítez,
in O MISTÉRIO DA VIRGEM DE GUADALUPE, 1982)