PODEMOS AFIRMAR ALTO E BOM SOM QUE
ALGUÉM É INIMIGO DA IGREJA ANTES DE SEU VEREDITO?
Continuamente aparece esta pergunta
quando se fala de temas relacionados com o sedevacantismo, sobretudo em boca
dos “reconhecer-resistir”. Quando o oponente carece de argumentos, surge a
objeção de que os sedevacantistas não têm nenhuma autoridade para dizer o que
dizem – por exemplo, para determinar quem é herege, ou dizer se uma conclusão
teológica particular de fato é a correta – como se requeresse um ato da
autoridade para discernir se um homem é católico ou herege, ou como se o
ensinamento católico se levasse a cabo somente em teoria, porém nunca se
permitisse aplicar na prática a uma situação concreta.
Esta tática não é nova, e o grande
antimodernista P. Félix Sardá y Salvany refutou faz mais de 100 anos em
sua monumental obra O Liberalismo é Pecado (1886). Este livro foi respaldado e
louvado pela Sagrada Congregação do Vaticano do Santo Ofício sob o Papa Leão
XIII. O livro expõe as ideias e táticas dos modernistas, chamados liberais, e
não deixamos de recomendá-la. De fato, pode-se dizer que este livro
destrói por completo muitas ideias fundamentais do falso Concílio Vaticano II
(1962-65) e a nova religião que gerou (que chamamos a religião Novus Ordo).
É lamentável, e talvez revelador, que
hoje escutamos os argumentos que utilizavam os modernistas, repetidos agora
pelos que se consideram a si mesmos católicos tradicionais.
O capítulo 37 de O Liberalismo é Pecado se
refere especificamente à objeção de que um leigo não pode descobrir a heresia
por sua conta, e/ou não se pode acusar a outro de ser herege. Nada mais longe
da verdade!
XXXVII - SE É OU NÃO É
INDISPENSÁVEL EM CADA CASO PARTICULAR RECORRER AO VEREDITO CONCRETO DA IGREJA E
DE SEUS PASTORES PARA SABER SE UM ESCRITO OU PESSOA DEVEM REPUDIAR-SE E
COMBATER-SE COMO LIBERAIS.
“Tudo o que acabais de expor, dirá
alguém ao chegar a este ponto, encontra na prática uma dificuldade gravíssima.
Tendes falado de pessoas e escritos liberais, recomendando com todo o empenho
que fujamos, como da peste, deles e até dos seus mais remotos laivos de
Liberalismo.
Mas, quem se atreverá, por si só, a
qualificar de liberal tal pessoa ou escrito sem mediar o veredito decisivo da
Igreja docente, que os declare tais?
EIS AQUI UM ESCRÚPULO, OU, ANTES, UMA
TOLICE, MUITO EM VOGA DE ALGUNS ANOS PARA CÁ, POR PARTE DOS LIBERAIS E DOS MAIS
OU MENOS INFLUENCIADOS DE LIBERALISMO; TEORIA NOVA NA IGREJA DE DEUS, E QUE
TEMOS VISTO COM ASSOMBRO PERFILHADA POR QUEM NUNCA IMAGINARÍAMOS PUDESSE CAIR
EM TAIS ABERRAÇÕES; teoria, além disso, tão cômoda para o diabo e seus sequazes
que apenas um bom católico os ataca ou desmascara, imediatamente os vemos
acudir por ela e refugiar-se em suas trincheiras, perguntando com ares de
magistral autoridade: ‘E quem sois vós para qualificar-me de liberal, a mim e
ao meu jornal? Quem vos constituiu mestres em Israel para declarar quem é bom
católico e quem não o é? É a vós que se há de pedir patente de Catolicismo?’
Para qualificar uma pessoa ou um escrito
de liberais, deve-se aguardar sempre a sentença concreta da Igreja docente
sobre tal pessoa ou escrito?
Responderemos categoricamente que de modo
nenhum!
A ser certo este paradoxo liberal, fora
indubitavelmente o meio mais eficaz para que na prática ficassem sem efeito
todas as condenações da Igreja, com respeito assim a pessoas como a escritos.
A Igreja é a única que possui o supremo
magistério doutrinal de direito e de fato, juris
et facti, sendo a sua suprema autoridade, personificada no Papa, a única
que definitivamente e sem apelação pode qualificar doutrinas em abstrato, e
declarar que tais doutrinas as contém ou ensina em concreto o livro de tal ou
tal pessoa; (...).
Pois bem. Tudo isto se refere ao
veredito último e decisivo, ao veredito solene e autorizado, ao veredito
irreformável e inapelável, ao veredito que temos chamado de última instância.
Mas não exclui para luz e guia dos fiéis outras decisões menos autorizadas, porém,
também muito respeitáveis, que não podem desprezar-se, e que podem até obrigar
em consciência o fiel cristão. São as seguintes...: (...) 5ª – A da simples
razão humana devidamente ilustrada. Sim, senhor, até isto é lugar teológico,
como se diz em teologia, quer dizer é critério científico em matéria de
religião. A fé domina a razão; esta deve estar-lhe em tudo subordinada. Porém é
falso que a razão nada possa por si só; é falso que a luz inferior acendida por
Deus no entendimento humano não alumie nada, ainda que não alumie tanto como a
luz superior. (...)
Subamos,
porém, a uma consideração mais geral. De que serviria a regra de fé e costumes, se a cada caso particular não
pudesse fazer imediata aplicação dela o simples fiel, mas devesse andar de
contínuo a consultar o Papa e o Pasto diocesano?”
(Excerto extraído do blogue Amor de La
Verdad)