Uma das mais insidiosas influências na
sociedade moderna provém daqueles que cultivam a consciência social sem atentar
para a consciência individual, ou que fazem distinção entre amor do próximo e
amor de Deus, ou ainda que supõem que, transferindo seu sentimento íntimo de
culpa para outros que sua consciência social reprova, escapam com isso à noção de
culpabilidade própria, aprovada pela consciência individual. Procurando
auxiliar a reforma de outros, reconhecem a necessidade de regeneração, porém
não a aplicam a si mesmos. Muitos casais desiludidos, chegados à maturidade,
entregam-se a um derivativo qualquer para evitar encarar o problema de reformar
internamente a família. Conferindo ao seu egocentrismo um caráter social,
imaginam se terem tornado humanitários, quando na realidade a última coisa que
fazem é imolar o egoísmo. Se for verdade que se dão a si mesmos aos outros,
fazem-no da maneira que escolheram, e não daquela que sua natureza
humana lhes dita, sob aspiração divina. Na realidade, não estão senão
aumentando o próprio egoísmo, quando acreditam estarem se desprendendo dele.
Contudo, essa extroversão não passa de uma excrescência de seu egocentrismo
inato. O que realmente se encontra, na raiz desse curioso tipo de interesse
social, é o ódio pela própria personalidade, que outros chegariam talvez a
superar ou a afogar no álcool, mas que eles procuram esquecer numa tentativa
altruística. Tais surtos de generosidade tentam encobrir uma sensação de
esterilidade e futilidades totais. O egocentrismo dessas pessoas oculta-se
então sob o manto do humanitarismo e da filantropia, porém não existe amor, por
não haver sacrifício do ego. Há atividade incessante, mas não há alegria; há
filantropia, mas não há paz interior; há uma consciência social, mas não existe
consciência individual. O comunismo encontrado na ordem social é uma
consequência do ateísmo presente nos corações humanos. Os mais sublimes anseios
naturais da alma, as mais profundas aspirações do coração humano, são banidos
em benefício do ego triunfante. O resultado é uma tremenda dissociação interna
da personalidade, pois, quando a vida perde a sua unidade básica, sucede-lhe o
mesmo que o corpo desligado da alma: desintegra-se em seus elementos
componentes. Uma personalidade incapaz de sacrifício é fechada em si mesma e
impenetrável aos demais.
(Dom
Fulton J. Sheen, em O Mistério do Amor)