Primeiro
argumento (ad hominem) do “Pequeno Catecismo contra o Sedevacantismo”: se assim
fosse, “toda a Igreja Católica havia desaparecido nesse momento...” ( * )
Escrevem os dominicanos de Avrillé (dA):
“em realidade, se aceitássemos este raciocínio, teríamos que dizer que toda a
Igreja Católica desapareceu nesse momento, e que ‘as portas do inferno
prevaleceram contra ela’. Pois o ensinamento do magistério ordinário universal
é o de todos os bispos, de toda a Igreja docente”.
Como vemos, o argumento é sempre o da
indefectibilidade da Igreja; é um argumento sério e importante que não é
exclusivo dos dA: qualquer partidário do Vaticano II poderia utilizá-lo contra
todos aqueles que o acusam de haver errado (incluído também os dA).
Como pode, pois, negar uma doutrina ensinada
pela unanimidade moral dos bispos católicos, a saber, da Igreja docente?
Se assim fosse, deveríamos concluir –
como os dA nos reprova – que a Igreja em seu conjunto abandonou a Fé, o qual é
contrário ao dogma da indefectibilidade da Igreja (ainda que numerosos teólogos
lefebvristas o afirmem abertamente, como os já citados padres B. e S.).
Claro que não é esta a nossa posição:
nós cremos na indefectibilidade da Igreja... e portanto também em sua
infalibilidade!
Em consequência, respondemos aos dA: eles teriam razão se sustentássemos que a autoridade do Vaticano II é a do magistério
ordinário universal (que é infalível). Porém na realidade sustentamos que a
autoridade do Vaticano II deveria ser a do magistério ordinário universal. Seria
se Paulo VI fosse Papa. Porém, como Paulo VI não foi Papa, tampouco o Vaticano
II é magistério ordinário universal, e portanto não é infalível.
A esta resposta se objetará assinalando
a autoridade dos outros bispos que subscreveram o Vaticano II.
A resposta é que todos os bispos não são
infalíveis sem o Papa.
Objetar-se-á ainda que uma vez
realizadas as condições da infalibilidade, se deve aderir ao ensinado pela Igreja
docente, e não concluir, ao contrário, na legitimidade do assim ensinado.
Respondemos que a objeção se aplica a
uma matéria que não foi infalivelmente definida pela Igreja docente, como o é,
por exemplo, a liberdade religiosa.
Objetar-se-á que se Paulo VI e todos os
bispos erraram na fé, então a Igreja inteira defeccionou e as portas do inferno
prevaleceram. Respondemos ad hominem que este argumento também se aplica contra
Mons. Lefebvre. Logo respondemos – contra os seguidores de Mons. Lefebvre – que
a objeção é válida precisamente se se crê que Paulo VI e os bispos unidos com
ele tinham a autoridade e representavam verdadeiramente a Igreja docente: é
neste caso que a Igreja perdeu sua infalibilidade e sua indefectibilidade. Respondemos
também que o conjunto da Igreja docente é infalível (como o Papa), porque do
contrário – se pudesse errar – todos a seguiriam no erro. Agora, no nosso caso,
este erro não é possível precisamente porque as matérias sobre as quais os
padres conciliares erraram já foram definidas pela Igreja docente, daí a
possibilidade para os fiéis de dar-se conta do erro e de não seguí-lo: como de
fato sucedeu, já que houve bispos, sacerdotes e fieis que não seguiram o
ensinamento do Vaticano II, alguns implicitamente, outros explicitamente.
Podemos concluir, logo de um atento
exame, que o argumento – por certo tão delicado – da indefectibilidade da
Igreja resulta particularmente embaraçoso para quem segue, como os dA, a
posição de Mons. Lefebvre, e não para quem segue a posição de Mons. Guérard des
Lauriers.
( * ) Se o Papa, os cardeais, os bispos,
etc., estão privados de sua ‘forma’, não há mais hierarquia visível na Igreja.
(Extraído de http://www.sodalitiumpianum.it/le-sel-de-la-terre-y-el-sedevacantismo/)