O GÊNERO COMO FERRAMENTA DE PODER
A assim chamada “teoria” (“enfoque”,
“olhar” etc.) de “gênero” é, na realidade, uma ideologia. Provavelmente a
ideologia mais radical da história, já que, se fosse imposta, destruiria o ser
humano com seu núcleo mais íntimo e simultaneamente acabaria com a sociedade.
Além disso, é a mais sutil porque não procura se impor pela força das armas –
como, por exemplo, o marxismo e o nazismo –, mas utilizando a propaganda para
mudar as mentes e os corações dos homens, sem aparente derramamento de sangue.
No entanto, como todas as ideologias, no
seu devido tempo, desaparecerá sem deixar rastro, exatamente por sua intrínseca
falsidade. Deixará atrás de si, obviamente, um caudal de vítimas – pessoas e
sociedades frustradas e infelizes. Que o mal seja maior ou menor dependerá do
que você e eu fizermos. Ainda que seja um trabalho de divulgação, apresento
cada uma de suas teses, com o apoio de citações dos cultuadores do gênero,
conferindo-lhe objetividade.
Como toda ideologia, não procura a
verdade nem o bem dos outros, mas busca somente a conquista de suas vontades
para utilizá-las com um fim espúrio. Portanto, a ideologia de gênero é
necessariamente ambígua. Utiliza o engano como um meio imprescindível para
alcançar sua finalidade. A razão é óbvia: aquele que pretende usar os outros em
seu próprio benefício não pode dizê-lo abertamente. Assim como o pedreiro usa os
tijolos, o balde e a colher, do mesmo modo o ideólogo utiliza o engano como
ferramenta diária de trabalho.
Esse corpo ideológico, por suas
limitações intelectuais, não poderia pretender sair de pequenos círculos
esotéricos a não ser pela manipulação da linguagem, visando uma verdadeira
lavagem cerebral, ao estilo sectário, mas com dimensões globais. Esta tática é
aplicada através de um movimento envolvente, utilizando para isso os meios de
propaganda (1) e o sistema educacional formal. A estratégia possui três etapas:
a) A primeira consiste em utilizar uma palavra da linguagem comum, mudando-lhe
o conteúdo de forma subreptícia; b) depois a opinião pública é bombardeada
através dos meios de educação formais (a escola) e informais (os meios de
comunicação de massa). Aqui é utilizado o velho vocábulo, voltando-se, porém,
progressivamente ao novo significado; e c) as pessoas finalmente aceitam o
termo antigo com o novo conteúdo.
Esta ideologia possui várias locuções
utilizadas para habilmente manipular a linguagem. A principal delas é a palavra
que a denomina, isto é, o vocábulo gênero. Além disso, utiliza numa complexa
articulação, outros termos convenientes para completar a argumentação
ideológica. Entre eles, destaco os seguintes: opção sexual, igualdade sexual,
direitos sexuais e reprodutivos, saúde sexual e reprodutiva, igualdade e
desigualdade de gênero, “empoderamento” da mulher, “patriarcado”, “sexismo”,
“cidadania”, “direito ao aborto”, gravidez não desejada, “tipos” de família,
“androcentrismo”, “casamento homossexual”, sexualidade polimórfica,
“parentalidade”, “heterossexualidade obrigatória” e “homofobia”. Como se pode
ver, trata-se de uma nova linguagem, de características esotéricas, cuja função
é assegurar a confusão.
Na linguagem, o gênero masculino,
feminino ou neutro das palavras é definido de maneira arbitrária, isto é, sem
ter relação alguma com a sexualidade. Por exemplo: a palavra mesa é do gênero
feminino e o copo é do gênero masculino, sem que em nenhum dos casos
exista conotação sexual alguma. Extrapolando isso aos seres humanos,
pretende-se sustentar que existe um sexo biológico, com o qual nascemos e,
portanto, é definitivo; mas, ao mesmo tempo, toda pessoa poderia construir
livremente seu sexo psicológico ou gênero.
No começo são usados os termos sexo e
gênero de modo intercambiável, como se fossem sinônimos e depois, quando as
pessoas já se acostumaram a utilizar a palavra gênero, vai se acrescentando
imperceptivelmente o novo significado de “sexo construído socialmente”, como
contraposição ao sexo biológico. O processo final será simples mortais falando
de gênero como uma autoconstrução livre da própria sexualidade, ainda quando
isso não seja possível. E a afirmação de que o impossível é possível, manifesta
a “lavagem cerebral” de boa parte da sociedade.
Segundo esta ideologia, a liberdade para
“construir” o próprio gênero deve ser interpretada como sinônimo de uma
autonomia absoluta. E esta, em dois sentidos simultâneos: 1º) cada um
interpreta o que é ser homem e o que é ser mulher como queira, interpretação
que o sujeita, além disso, poderá variar quantas vezes achar conveniente; e 2º)
cada pessoa pode, escolher aqui e agora, se quer ser homem ou mulher – com o
conteúdo subjetivo que ela mesma tenha dado a esses termos – e mudar de decisão
quantas vezes quiser. Deve-se ressaltar que não somente cada um poderia definir
sem limite algum o conteúdo da masculinidade ou feminilidade, como também
poderia pô-lo em prática sem nenhum limite. Essa escolha absolutamente autônoma
é denominada opção sexual.
Na “construção” do gênero, portanto,
intervém também a percepção que o resto da sociedade tem sobre o que é ser
homem ou ser mulher. E isso cria uma dupla interação: por um lado, cada pessoa
com sua concepção do gênero influi no que cada pessoa percebe como conteúdo do
gênero. Por isso se afirma que o gênero seria o “sexo construído socialmente”.
Como veremos mais adiante, este jogo de palavras não é inocente: primeiro, é
oferecido às pessoas a ilusão da autonomia absoluta em matéria sexual; porém,
depois disso, aqueles que detêm o poder real são os que escolhem – como lhes
convenha – o modo como os que carecem de poder poderão exercer a sexualidade.
Outro aspecto que destaco nesta breve
introdução é que, se o gênero fosse construído autonomamente, não teria sentido
e, mais ainda, as concepções da complementaridade dos sexos e a norma da
heterossexualidade para o casamento seriam ideias perniciosas. O casamento
seria uma opção para aqueles que o desejassem, mas seria apenas mais uma opção,
com o mesmo valor que a coabitação sem compromissos, as relações ocasionais, a
prostituição, a homossexualidade, a pederastia, o bestialismo etc. Cada qual
escolheria livremente o que deseja e o que gosta.
E não só ninguém deveria impedi-lo como
o próprio Estado deveria facilitar os meios para que cada pessoa satisfizesse
seus instintos sexuais ao seu gosto, minimizando o risco de uma gravidez não
desejada ou de contrair uma doença sexualmente transmissível. A única limitação
tolerável seria a proibição das relações sexuais não consentidas – e seria
permitido a todo adolescente dar um consentimento válido a qualquer forma de
trato genital. Esse exercício sem limites e os meios para evitar as gravidezes
e doenças de transmissão sexual são denominados direitos sexuais e
reprodutivos. Paralelamente, a saúde sexual e reprodutiva seria o
exercício sem limites da sexualidade apetecida por cada um, sem contrair
nenhuma doença.
A desigualdade de gênero é a
que ocorre quando os homens estão a cargo da vida pública, do poder político e
do trabalho, e as mulheres, da vida privada, da procriação e da educação dos
filhos. A função doméstica – e em especial a que exercem ao conceber – impede
as mulheres de participar na vida pública e, portanto, de compartilhar o poder.
Por isso, a maternidade é vista como um mal intrínseco pelo feminismo radical
que reivindica o direito ao aborto.
O empoderamento da mulher
tenderia a superar a desigualdade de gênero ao torná-la participante
do poder público, do trabalho e da vida pública.
A igualdade de gênero, ao
contrário, não é a igualdade de dignidade e de direitos entre mulheres e
homens. A igualdade de gênero significa que nós, mulheres e homens,
seríamos iguais, mas no sentido de sermos idênticos, ou seja, absolutamente
intercambiáveis. Isso é uma consequência do pressuposto antropológico segundo o
qual, todo ser humano poderia – com absoluta autonomia – escolher seu
próprio gênero, já que este vale igualmente tanto para homens como para
mulheres. Por isso, a diferença biológica sexual é percebida quase como uma
provocação ao confronto – mulheres boxeadoras ou soldados – e não como um
chamado à complementaridade.
Outros vocábulos que integram esta
ideologia são o sexismo e a homofobia. O sexismo seria
qualquer limite imposto à conduta sexual; por exemplo, a proibição da
prostituição, da pornografia, da esterilização voluntária da homossexualidade
etc., todas estas seriam leis sexistas. Se cada um constrói seu gênero
autonomamente, sem restrição alguma, é tão válido ser heterossexual como
homossexual, bissexual, transexual, travesti, transgênero e tudo o que conceba
a imaginação mais fecunda.
Finalmente, a homofobia seria
considerar que as relações naturais entre os seres humanos são as relações
heterossexuais, pois isso implicaria ter fobia à igualdade – entendida como
identidade – entre os gêneros...
Ao leitor não deve passar despercebido
que “o apoio à Agenda de Gênero vem de grupos ativistas, todos de
certa forma interrelacionados ou com interesses comuns, mas de alguma maneira
distinguíveis: 1) controladores de população; 2) libertários sexuais; 3)
ativistas dos direitos dos homossexuais; 4) os que apoiam o multiculturalismo
ou promovem o politicamente correto; 5) ambientalistas extremistas; 6)
progressistas neomarxistas; 7) pós-modernistas ou desconstrucionistas.
A Agenda de Gênero tem também o apoio de liberais influentes nos
governos e de certas corporações multinacionais.”
Já foi dito, em tom de testemunha: “Com
frequência me solicitam que explique em trinta segundos o que vi no Cairo e em
Pequim. Correndo o risco de simplificar, respondo que observei que nas Nações
Unidas habilitam pessoas que acreditam que o mundo necessita de :
1) Menos pessoas;
2) Mais prazer
sexual;
3) Eliminação das
diferenças entre homens e mulheres;
4) Que não
existam mães em tempo integral.
Estas pessoas reconhecem que aumentar o
prazer sexual poderia aumentar o número de bebês e de mães; portanto, sua
receita para a salvação do mundo é:
1) Anticoncepcionais
grátis e aborto legal;
2) Promoção da
homossexualidade (sexo sem bebês);
3) Curso de
educação sexual para promover a experiência sexual entre as crianças e
ensiná-las como obter contraceptivos e abortos, que a homossexualidade é normal
e que homens e mulheres são a mesma coisa;
4) Eliminação dos
direitos dos pais, de forma que estes não possam impedir as crianças de fazer
sexo, educação sexual, anticoncepcionais e abortos;
5) Cotas iguais
para homens e mulheres;
6) Todas as
mulheres na força de trabalho;
7) Desacreditar todas
as religiões que se oponham a esta agenda.
Esta é a ‘perspectiva de gênero’ e
pretendem ‘implementá-la’ em todos os programas, em todos os níveis e em todos
os países” (O’Leary, Dale, “La Agenda de Género. Redefiniendo la igualdad”, Ed.
Promesa, São José, Costa Rica, 2007, págs. 33.).
A ideologia de gênero, por ser falsa e
antinatural, em última análise, não convence e só pode ser implantada de forma
totalitária. Trata-se, em definitiva, da tentativa de impor uma nova
antropologia, que é a origem de uma nova cosmologia e que provoca uma mudança
total nas pautas morais da sociedade.
(JORGE SCALA, em IDEOLOGIA DE GÊNERO)