quinta-feira, 13 de outubro de 2016

260ª Nota - O neototalitarismo e a morte da família


O GÊNERO COMO FERRAMENTA DE PODER

A assim chamada “teoria” (“enfoque”, “olhar” etc.) de “gênero” é, na realidade, uma ideologia. Provavelmente a ideologia mais radical da história, já que, se fosse imposta, destruiria o ser humano com seu núcleo mais íntimo e simultaneamente acabaria com a sociedade. Além disso, é a mais sutil porque não procura se impor pela força das armas – como, por exemplo, o marxismo e o nazismo –, mas utilizando a propaganda para mudar as mentes e os corações dos homens, sem aparente derramamento de sangue.

No entanto, como todas as ideologias, no seu devido tempo, desaparecerá sem deixar rastro, exatamente por sua intrínseca falsidade. Deixará atrás de si, obviamente, um caudal de vítimas – pessoas e sociedades frustradas e infelizes. Que o mal seja maior ou menor dependerá do que você e eu fizermos. Ainda que seja um trabalho de divulgação, apresento cada uma de suas teses, com o apoio de citações dos cultuadores do gênero, conferindo-lhe objetividade.

Como toda ideologia, não procura a verdade nem o bem dos outros, mas busca somente a conquista de suas vontades para utilizá-las com um fim espúrio. Portanto, a ideologia de gênero é necessariamente ambígua. Utiliza o engano como um meio imprescindível para alcançar sua finalidade. A razão é óbvia: aquele que pretende usar os outros em seu próprio benefício não pode dizê-lo abertamente. Assim como o pedreiro usa os tijolos, o balde e a colher, do mesmo modo o ideólogo utiliza o engano como ferramenta diária de trabalho.

Esse corpo ideológico, por suas limitações intelectuais, não poderia pretender sair de pequenos círculos esotéricos a não ser pela manipulação da linguagem, visando uma verdadeira lavagem cerebral, ao estilo sectário, mas com dimensões globais. Esta tática é aplicada através de um movimento envolvente, utilizando para isso os meios de propaganda (1) e o sistema educacional formal. A estratégia possui três etapas: a) A primeira consiste em utilizar uma palavra da linguagem comum, mudando-lhe o conteúdo de forma subreptícia; b) depois a opinião pública é bombardeada através dos meios de educação formais (a escola) e informais (os meios de comunicação de massa). Aqui é utilizado o velho vocábulo, voltando-se, porém, progressivamente ao novo significado; e c) as pessoas finalmente aceitam o termo antigo com o novo conteúdo.

Esta ideologia possui várias locuções utilizadas para habilmente manipular a linguagem. A principal delas é a palavra que a denomina, isto é, o vocábulo gênero. Além disso, utiliza numa complexa articulação, outros termos convenientes para completar a argumentação ideológica. Entre eles, destaco os seguintes: opção sexual, igualdade sexual, direitos sexuais e reprodutivos, saúde sexual e reprodutiva, igualdade e desigualdade de gênero, “empoderamento” da mulher, “patriarcado”, “sexismo”, “cidadania”, “direito ao aborto”, gravidez não desejada, “tipos” de família, “androcentrismo”, “casamento homossexual”, sexualidade polimórfica, “parentalidade”, “heterossexualidade obrigatória” e “homofobia”. Como se pode ver, trata-se de uma nova linguagem, de características esotéricas, cuja função é assegurar a confusão.

Na linguagem, o gênero masculino, feminino ou neutro das palavras é definido de maneira arbitrária, isto é, sem ter relação alguma com a sexualidade. Por exemplo: a palavra mesa é do gênero feminino e o copo é do gênero masculino, sem que em  nenhum dos casos exista conotação sexual alguma. Extrapolando isso aos seres humanos, pretende-se sustentar que existe um sexo biológico, com o qual nascemos e, portanto, é definitivo; mas, ao mesmo tempo, toda pessoa poderia construir livremente seu sexo psicológico ou gênero.

No começo são usados os termos sexo e gênero de modo intercambiável, como se fossem sinônimos e depois, quando as pessoas já se acostumaram a utilizar a palavra gênero, vai se acrescentando imperceptivelmente o novo significado de “sexo construído socialmente”, como contraposição ao sexo biológico. O processo final será simples mortais falando de gênero como uma autoconstrução livre da própria sexualidade, ainda quando isso não seja possível. E a afirmação de que o impossível é possível, manifesta a “lavagem cerebral” de boa parte da sociedade.

Segundo esta ideologia, a liberdade para “construir” o próprio gênero deve ser interpretada como sinônimo de uma autonomia absoluta. E esta, em dois sentidos simultâneos: 1º) cada um interpreta o que é ser homem e o que é ser mulher como queira, interpretação que o sujeita, além disso, poderá variar quantas vezes achar conveniente; e 2º) cada pessoa pode, escolher aqui e agora, se quer ser homem ou mulher – com o conteúdo subjetivo que ela mesma tenha dado a esses termos – e mudar de decisão quantas vezes quiser. Deve-se ressaltar que não somente cada um poderia definir sem limite algum o conteúdo da masculinidade ou feminilidade, como também poderia pô-lo em prática sem nenhum limite. Essa escolha absolutamente autônoma é denominada opção sexual.

Na “construção” do gênero, portanto, intervém também a percepção que o resto da sociedade tem sobre o que é ser homem ou ser mulher. E isso cria uma dupla interação: por um lado, cada pessoa com sua concepção do gênero influi no que cada pessoa percebe como conteúdo do gênero. Por isso se afirma que o gênero seria o “sexo construído socialmente”. Como veremos mais adiante, este jogo de palavras não é inocente: primeiro, é oferecido às pessoas a ilusão da autonomia absoluta em matéria sexual; porém,  depois disso, aqueles que detêm o poder real são os que escolhem – como lhes convenha – o modo como os que carecem de poder poderão exercer a sexualidade.

Outro aspecto que destaco nesta breve introdução é que, se o gênero fosse construído autonomamente, não teria sentido e, mais ainda, as concepções da complementaridade dos sexos e a norma da heterossexualidade para o casamento seriam ideias perniciosas. O casamento seria uma opção para aqueles que o desejassem, mas seria apenas mais uma opção, com o mesmo valor que a coabitação sem compromissos, as relações ocasionais, a prostituição, a homossexualidade, a pederastia, o bestialismo etc. Cada qual escolheria livremente o que deseja e o que gosta.

E não só ninguém deveria impedi-lo como o próprio Estado deveria facilitar os meios para que cada pessoa satisfizesse seus instintos sexuais ao seu gosto, minimizando o risco de uma gravidez não desejada ou de contrair uma doença sexualmente transmissível. A única limitação tolerável seria a proibição das relações sexuais não consentidas – e seria permitido a todo adolescente dar um consentimento válido a qualquer forma de trato genital. Esse exercício sem limites e os meios para evitar as gravidezes e doenças de transmissão sexual são denominados direitos sexuais e reprodutivos. Paralelamente, a saúde sexual e reprodutiva seria o exercício sem limites da sexualidade apetecida por cada um, sem contrair nenhuma doença.

A desigualdade de gênero é a que ocorre quando os homens estão a cargo da vida pública, do poder político e do trabalho, e as mulheres, da vida privada, da procriação e da educação dos filhos. A função doméstica – e em especial a que exercem ao conceber – impede as mulheres de participar na vida pública e, portanto, de compartilhar o poder. Por isso, a maternidade é vista como um mal intrínseco pelo feminismo radical que reivindica o direito ao aborto.

O empoderamento da mulher tenderia a superar a desigualdade de gênero ao torná-la participante do poder público, do trabalho e da vida pública.

A igualdade de gênero, ao contrário, não é a igualdade de dignidade e de direitos entre mulheres e homens. A igualdade de gênero significa que nós, mulheres e homens, seríamos iguais, mas no sentido de sermos idênticos, ou seja, absolutamente intercambiáveis. Isso é uma consequência do pressuposto antropológico segundo o qual, todo ser humano poderia – com absoluta autonomia – escolher seu próprio gênero, já que este vale igualmente tanto para homens como para mulheres. Por isso, a diferença biológica sexual é percebida quase como uma provocação ao confronto – mulheres boxeadoras ou soldados – e não como um chamado à complementaridade.

Outros vocábulos que integram esta ideologia são o sexismo e a homofobia. O sexismo seria qualquer limite imposto à conduta sexual; por exemplo, a proibição da prostituição, da pornografia, da esterilização voluntária da homossexualidade etc., todas estas seriam leis sexistas. Se cada um constrói seu gênero autonomamente, sem restrição alguma, é tão válido ser heterossexual como homossexual, bissexual, transexual, travesti, transgênero e tudo o que conceba a imaginação mais fecunda.

Finalmente, a homofobia seria considerar que as relações naturais entre os seres humanos são as relações heterossexuais, pois isso implicaria ter fobia à igualdade – entendida como identidade – entre os gêneros...

Ao leitor não deve passar despercebido que “o apoio à Agenda de Gênero vem de grupos ativistas, todos de certa forma interrelacionados ou com interesses comuns, mas de alguma maneira distinguíveis: 1) controladores de população; 2) libertários sexuais; 3) ativistas dos direitos dos homossexuais; 4) os que apoiam o multiculturalismo ou promovem o politicamente correto; 5) ambientalistas extremistas; 6) progressistas neomarxistas; 7) pós-modernistas ou desconstrucionistas. A Agenda de Gênero tem também o apoio de liberais influentes nos governos e de certas corporações multinacionais.”

Já foi dito, em tom de testemunha: “Com frequência me solicitam que explique em trinta segundos o que vi no Cairo e em Pequim. Correndo o risco de simplificar, respondo que observei que nas Nações Unidas habilitam pessoas que acreditam que o mundo necessita de :
1)    Menos pessoas;
2)    Mais prazer sexual;
3)    Eliminação das diferenças entre homens e mulheres;
4)    Que não existam mães em tempo integral.
Estas pessoas reconhecem que aumentar o prazer sexual poderia aumentar o número de bebês e de mães; portanto, sua receita para a salvação do mundo é:
1)    Anticoncepcionais grátis e aborto legal;
2)    Promoção da homossexualidade (sexo sem bebês);
3)    Curso de educação sexual para promover a experiência sexual entre as crianças e ensiná-las como obter contraceptivos e abortos, que a homossexualidade é normal e que homens e mulheres são a mesma coisa;
4)    Eliminação dos direitos dos pais, de forma que estes não possam impedir as crianças de fazer sexo, educação sexual, anticoncepcionais e abortos;
5)    Cotas iguais para homens e mulheres;
6)    Todas as mulheres na força de trabalho;
7)    Desacreditar todas as religiões que se oponham a esta agenda.
Esta é a ‘perspectiva de gênero’ e pretendem ‘implementá-la’ em todos os programas, em todos os níveis e em todos os países” (O’Leary, Dale, “La Agenda de Género. Redefiniendo la igualdad”, Ed. Promesa, São José, Costa Rica, 2007, págs. 33.).

A ideologia de gênero, por ser falsa e antinatural, em última análise, não convence e só pode ser implantada de forma totalitária. Trata-se, em definitiva, da tentativa de impor uma nova antropologia, que é a origem de uma nova cosmologia e que provoca uma mudança total nas pautas morais da sociedade.

(JORGE SCALA, em IDEOLOGIA DE GÊNERO)