S. Gregório Magno (Homil. 7, in
Ezech.): "Melius est ut scandalum oriatur quam veritas relinquatur" —
"É melhor resultar algum escândalo de se dizer a verdade, do que deixar
abandonada e indefesa a mesma verdade". (Apologia, cap. VII – Obras
Completas de San Bernardo, trad. do Pe. Jaime Pons, S. J., ed. Rafael
Casulleras, Barcelona, vol. IV, pag. 349, e vol. I, pag. XXXV).
domingo, 19 de agosto de 2018
369ª Nota - O problema das histórias em quadrinho
Além de assinalar o risco apresentado pelas
matemáticas, Aristóteles alerta contra um outro perigo para aqueles que querem
estudar a filosofia: o do hábito de só raciocinar com base em fatos concretos.
Realmente, há espíritos que só sabem pensar a partir de um caso particular,
visível, próximo. As especulações são, para eles, divagações ácidas e
incompreensíveis. No entanto, é só nas especulações teóricas que o homem
encontra a plenitude da vida de sua inteligência. E em quem só aprende a
raciocinar à vista de casos concretos, a atividade abstrativa se atrofia.
Em nossos dias, o estudo abstrato se afigura cada
vez mais obsoleto. A educação pela imagem substitui as especulações. E o que é
essa educação pela imagem, senão uma tentativa de formar o espírito sem
recorrer à abstração? É habituar a infância e a juventude a só pensar com base
num exemplo concreto, contra a advertência de Aristóteles.
Tudo que hoje se apresenta à criança fala muito à
imaginação e aos sentidos, e quase não se dirige à razão. Outrora, era comum
encontrarem-se livros para a infância em que, além de ilustrações mais ou menos
numerosas, havia textos que se estendiam por páginas inteiras. E as crianças
liam esses livros com prazer. Hoje, esse tipo de literatura infantil caiu em
desfavor. Predominam os livros em que há pouca narração, e nos quais as figuras
falam por si. Quase não é necessário ler o texto para compreender a história.
Isso não se dá apenas quanto aos livros destinados a crianças de curso
primário. As leituras mais sérias a que o jovem ginasiano se dedica são as
histórias em quadrinhos. No máximo, chegará a ler romances ou contos policiais.
E não dispensará as imagens da televisão. Em tudo isso, o vício do exemplo
concreto, de que falava Aristóteles, está presente. Tudo fala só à imaginação,
à sensibilidade. Como evitar, pois, que se caminhe cada vez mais para a atrofia
da inteligência? Como evitar que se torne cada vez mais penoso para o homem
abstrair, e viver nos ares puros dos princípios?
Recentemente noticiou-se que professores ingleses,
sentindo-se incapazes de fazer com que seus alunos se interessassem pelas obras
literárias correntes, introduziram uma modificação profunda nos métodos de
ensino tradicionais. Substituíram os livros didáticos por histórias em
quadrinhos, em que assaltos, assassínios e aventuras de todo gênero prendem a
atenção dos alunos. Algumas dessas histórias são extraídas de obras clássicas
da língua inglesa. Outras são tipicamente modernas: é muito apreciado, por
exemplo, o tema das viagens interplanetárias. Cheios de satisfação, os argutos
inovadores observam que agora os jovens lêem com prazer, e não querem abandonar
os livros na hora do recreio. Não percebem esses professores que o
"êxito" da sua triste experiência só atesta a falência intelectual
dos estudantes, os quais, habituados a "pensar" só pela imaginação,
tornaram-se incapazes de abstrair.
(Excerto extraído do Jornal Catolicismo dos anos
50)
sábado, 30 de junho de 2018
368ª Nota - Verdades Esquecidas_1
Quantos naufragaram por
dar crédito às novidades profanas!
S. PIO X:
Vivemos - ai de nós! - num tempo em que se acolhem e adotam com grande
facilidade certas idéias de conciliação da Fé com o espírito moderno, idéias
que levam muito mais longe do que se pensa: não somente ao enfraquecimento mas
à perda total da fé. Não mais causa espanto ouvir pessoas que se deleitam com
as palavras muito vagas de aspirações modernas, de força do progresso e da
civilização, afirmando a existência de uma consciência laica, de uma
consciência política, oposta à consciência da Igreja, contra a qual, por
direito e por dever, se pretende reagir para corrigi-la e reerguê-la. Não
provoca estranheza encontrar pessoas que exprimem dúvidas e incertezas sobre as
verdades, e mesmo afirmam obstinadamente erros manifestos, cem vezes
condenados, e que apesar disso se persuadem de não se terem nunca afastado da
Igreja, porque algumas vezes seguiram as práticas cristãs. Ó! quantos
navegadores, quantos pilotos e — Deus não o permita — quantos capitães, que,
por darem crédito às novidades profanas e à ciência mentirosa do tempo, em
lugar de chegarem ao porto naufragaram! — (Alocução de 27-V-1914, por ocasião
da imposição do barrete aos novos Cardeais).
Não se favoreçam
associações operárias mistas onde elas possam ser católicas
S. PIO X: Quanto
às associações operárias, embora seu fim seja proporcionar vantagens temporais
aos seus membros, só merecem, entretanto, aprovação sem reserva e devem ser
tidas como as mais próprias a assegurar os interesses verdadeiros e permanentes
de seus membros, aquelas que foram fundadas tomando por base principal a
Religião Católica, e que seguem abertamente as diretrizes da Igreja; - Nós o
temos declarado frequentemente, sempre que se Nos tem oferecido ocasião num
país ou noutro. Em consequência, é necessário estabelecer e favorecer de todos
os modos esse gênero de associações confessionais católicas, como são chamadas,
certamente nas regiões católicas, e também em todas as outras regiões em
qualquer lugar onde parecer possível atender por meio delas às necessidades
diversas dos associados. — (Carta Encíclica "De Consociationibus opificum
catholicis et mistas", de 24-IX-1912, ao Cardeal Jorge Kopp, Bispo de
Breslau, e aos demais Arcebispos e Bispos da Alemanha).
A França terá sua via
de Damasco
S. PIO X: Que
vos diremos agora, filhos da França, que gemeis sob o peso da perseguição? O
povo que fez aliança com Deus nas fontes batismais de Reims se arrependerá e
retornará à sua vocação primitiva. Os méritos de tantos filhos seus que pregam
a verdade do Evangelho quase em todo o mundo, tendo-a selado muitos com o
próprio sangue, as orações de tantos Santos que desejam ardentemente ter em sua
companhia na glória celeste os irmãos, muito amados, de sua Pátria, a piedade
generosa de tantos filhos seus que, sem recusar nenhum sacrifício, provêem à
dignidade do Clero e ao esplendor do culto católico, e, acima de tudo, os
gemidos de tantas crianças que, diante dos tabernáculos, expandem a alma com as
expressões que o próprio Deus lhes coloca nos lábios, atrairão certamente sobre
esta nação as misericórdias divinas. As faltas não ficarão impunes, mas não
perecerá nunca a filha de tantos méritos, de tantos suspiros e de tantas
lágrimas.
Dia virá, e
esperamos que não esteja muito afastado, em que a França, como Saulo no caminho
de Damasco, será envolvida por uma luz celeste e escutará uma voz que lhe
repetirá: "Minha filha, porque Me persegues?" E à resposta:
"Quem és tu, Senhor?" a voz replicará: "Sou Jesus, a Quem
persegues. Duro te é recalcitrar contra o aguilhão, porque em tua obstinação te
arruínas a ti mesma". E ela, trêmula e admirada, dirá: "Senhor, que
quereis que eu faça?" E Ele: "Levanta-te, lava as manchas que te
desfiguraram, desperta em teu seio os sentimentos adormecidos e o pacto da
nossa aliança, e vai, filha primogênita da Igreja, nação predestinada, vaso de
eleição, vai levar, como no passado, meu nome diante de todos os povos e de
todos os reis da terra". — (Alocução Consistorial "Vi ringrazio",
de 29-XI-1911).
O sopro da revolução
impele a renegar as glórias passadas da Santa Igreja
S. PIO X: Temos
sobre este estado de espírito (dos membros do "Sillon") o testemunho
de fatos dolorosos, capazes de arrancar lágrimas, e não podemos, apesar de
Nossa longanimidade, reprimir um justo sentimento de indignação. Pois que! Há
quem inspire à vossa juventude católica a desconfiança para com a Igreja, sua
Mãe; ensina-se-lhe que, decorridos dezenove séculos, Ela ainda não conseguiu,
no mundo, construir a sociedade sobre suas verdadeiras bases; que Ela não
compreendeu as noções sociais da autoridade, da liberdade, da igualdade, da
fraternidade e da dignidade humana; que os grandes Bispos e os grandes Monarcas
que criaram e tão gloriosamente governaram a França, não souberam dar ao seu
povo nem a verdadeira justiça, nem a verdadeira felicidade, porque eles não
tinham o ideal do "Sillon"!
O sopro da
Revolução passou por aí, e podemos concluir que, se as doutrinas sociais do
"Sillon" são erradas, seu espírito é perigoso e sua educação funesta.
— Carta Apostólica "Notre Charge Apostolique", de 25-VIII-1910).
(Extraído de Catolicismo n°
62, fevereiro de 1956)
quarta-feira, 27 de junho de 2018
367ª Nota - Abafar a verdade e o erro é favorecer a heresia
De uma carta a Nicolas Pavillon e Etienne Caulet,
que se dispunham a tomar uma posição de neutralidade na luta entre os
jansenistas, cujos erros ainda não estavam condenados, e ortodoxos:
"VEJO (na carta recebida) muitos pensamentos
dignos da posição que ocupais... e que parecem inclinar-vos a seguir o partido
do silêncio nas presentes dissensões. Não deixarei, porém, de expor-vos algumas
razões que talvez vos induzam a mudar de parecer, suplicando-vos, prostrado em
espírito a vossos pés, que não o leveis a mal.
E em primeiro lugar, a respeito do temor que
manifestais, de que a decisão que se deseja da parte de Sua Santidade não seja
recebida com a submissão e a obediência que todos cristãos devem à voz de seu
supremo Pastor, e de que o Espírito de Deus não encontre bastante docilidade
nos corações para operar neles uma verdadeira união, - de bom grado vos farei
presente que, se quando começaram, por exemplo, a aparecer as heresias de
Lutero e Calvino se houvesse sobrestado sua condenação até que seus sequazes se
mostrassem dispostos a submeter-se e a unir-se aos demais, ainda permaneceriam
aquelas heresias no rol das coisas indiferentes, que se pode seguir ou repelir,
e teriam infectado a um número muito maior de pessoas. Pois se estas opiniões,
cujos perniciosos efeitos nas consciências estamos vendo, são dessa natureza,
em vão esperaremos que os que as semeiam se ponham de acordo com os defensores
da doutrina da Igreja: isso não se pode esperar nem acontecerá jamais, e
diferir a obtenção de sua condenação pela Santa Sé é dar-lhes tempo de espalhar
seu veneno...
A propósito do segundo ponto que abordais — a
saber, que o calor com que ambos os partidos sustentam sua própria opinião
deixa pouca esperança de um perfeito acordo, ao qual, não obstante, seria
necessário chegar - sinto-me obrigado a fazer-vos notar que não há jeito de
obter a união na diversidade e até contrariedade de pareceres em matéria de fé
e de Religião, a não ser recorrendo a um terceiro, que não Pode ser outro que o
Papa, na falta de um Concílio. E quem não quer tratar de pôr-se de acordo
desta maneira, não é capaz de nenhuma conciliação, a qual, se não for assim,
nem sequer é de se desejar, pois as leis nunca se hão de reconciliar com os
crimes, nem a mentira se pode pôr de acordo com a verdade.
Em terceiro lugar, essa uniformidade que quereis
entre os Prelados seria muito de se desejar, contanto, porém, que se faça sem
detrimento da fé, pois não se há de desejar a união no mal nem no erro. E no
caso de fazer-se a união, cabe à parte menor volver até a maior, e aos membros
reunir-se à sua cabeça, que é o que se propõe...
E daqui se deduz a quarta razão que serve de
resposta ao que vos dignastes dizer-me: que ambos os partidos crêem estar com a
razão e a verdade. Reconheço que de fato assim é, mas também sabeis que todos
os hereges têm dito outro tanto, e isso não os tem livrado da condenação e dos
anátemas contra eles fulminados pelos Papas e Concílios. Nunca se entendeu
que o acordo com eles fosse um meio de curar o mal, mas, pelo contrário,
aplicou-se o ferro e o fogo, — por vezes demasiado tarde, como poderia
acontecer aqui. É verdade que um partido acusa o outro, porém com esta
diferença: um pede juízes, e o outro não os quer, o que é mau sinal. Não quer o
remédio digo eu, da parte do Papa, porque sabe que é possível obtê-lo, e
aparenta pedir o do Concilio, porque o crê impossível no presente estado de
coisas (a guerra); e se o julgasse possível, repeli-lo-ia também, do mesmo modo
que repele o outro. E não seria, em meu entender, motivo de mofa para os
libertinos e hereges, nem tampouco de escândalo para os bons, ver que os Bispos
estão divididos. Pois... não é coisa extraordinária nos antigos Concílios que
nem todos tenham sido do mesmo parecer.
...Quanto ao remédio que propondes, de proibir
absolutamente a um e outro partido de dogmatizar, suplico-vos humildemente que
considereis que já se tem tentado isso inutilmente, com o único resultado de
dar mais consistência ao erro, já que este, ao ser tratado em pé de
igualdade com a verdade, tem tido tempo de propagar-se, e está sendo
demasiada a tardança em erradicá-lo, de vez que, consistindo esta doutrina não
só na teoria, mas principalmente na prática, as consciências já não podem
suportar a perturbação e a inquietação que nascem da dúvida que está penetrando
nos corações de todos...
Permiti-me também, ..., acrescentar a estas
considerações que os que professam estas novidades, ao ver que se temem suas
ameaças, aumentam-nas e se preparam para uma rebelião declarada, servindo-se de
vosso silêncio como de poderoso argumento a seu favor,... e, pelo contrário, os
que se mantêm na simplicidade da antiga crença se acovardam e desanimam vendo
que não são enojados por todos. E não tereis um dia o pesar de que vossos nomes
houvessem servido - embora contra a vossa intenção, que sem dúvida é santa -
para confirmar a uns em sua rebeldia e fazer vacilar aos outras em sua crença?
...Mais uma vez repito, ..., que não há razão para
temer que não se obedeça ao Papa, como é de obrigação, quando ele tiver
manifestado seu ditame. Pois, além do fato de que essa razão do temor de uma
desobediência teria lugar em todas as heresias, e por isso mesmo seria mister
tê-las deixado reinar impunemente, temos um exemplo muito recente (na
doutrina das duas cabeças da Igreja, a cuja condenação pelo Papa, todos se
submeteram)...
("San Vicente de Paul — Biografia y seleccion
de escritos", por José Herrera, C. M. e Veremundo Pardo, C. M. —
Biblioteca de Autores Cristianos, Madrid, 1950, pag. 846)
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