Além de assinalar o risco apresentado pelas
matemáticas, Aristóteles alerta contra um outro perigo para aqueles que querem
estudar a filosofia: o do hábito de só raciocinar com base em fatos concretos.
Realmente, há espíritos que só sabem pensar a partir de um caso particular,
visível, próximo. As especulações são, para eles, divagações ácidas e
incompreensíveis. No entanto, é só nas especulações teóricas que o homem
encontra a plenitude da vida de sua inteligência. E em quem só aprende a
raciocinar à vista de casos concretos, a atividade abstrativa se atrofia.
Em nossos dias, o estudo abstrato se afigura cada
vez mais obsoleto. A educação pela imagem substitui as especulações. E o que é
essa educação pela imagem, senão uma tentativa de formar o espírito sem
recorrer à abstração? É habituar a infância e a juventude a só pensar com base
num exemplo concreto, contra a advertência de Aristóteles.
Tudo que hoje se apresenta à criança fala muito à
imaginação e aos sentidos, e quase não se dirige à razão. Outrora, era comum
encontrarem-se livros para a infância em que, além de ilustrações mais ou menos
numerosas, havia textos que se estendiam por páginas inteiras. E as crianças
liam esses livros com prazer. Hoje, esse tipo de literatura infantil caiu em
desfavor. Predominam os livros em que há pouca narração, e nos quais as figuras
falam por si. Quase não é necessário ler o texto para compreender a história.
Isso não se dá apenas quanto aos livros destinados a crianças de curso
primário. As leituras mais sérias a que o jovem ginasiano se dedica são as
histórias em quadrinhos. No máximo, chegará a ler romances ou contos policiais.
E não dispensará as imagens da televisão. Em tudo isso, o vício do exemplo
concreto, de que falava Aristóteles, está presente. Tudo fala só à imaginação,
à sensibilidade. Como evitar, pois, que se caminhe cada vez mais para a atrofia
da inteligência? Como evitar que se torne cada vez mais penoso para o homem
abstrair, e viver nos ares puros dos princípios?
Recentemente noticiou-se que professores ingleses,
sentindo-se incapazes de fazer com que seus alunos se interessassem pelas obras
literárias correntes, introduziram uma modificação profunda nos métodos de
ensino tradicionais. Substituíram os livros didáticos por histórias em
quadrinhos, em que assaltos, assassínios e aventuras de todo gênero prendem a
atenção dos alunos. Algumas dessas histórias são extraídas de obras clássicas
da língua inglesa. Outras são tipicamente modernas: é muito apreciado, por
exemplo, o tema das viagens interplanetárias. Cheios de satisfação, os argutos
inovadores observam que agora os jovens lêem com prazer, e não querem abandonar
os livros na hora do recreio. Não percebem esses professores que o
"êxito" da sua triste experiência só atesta a falência intelectual
dos estudantes, os quais, habituados a "pensar" só pela imaginação,
tornaram-se incapazes de abstrair.
(Excerto extraído do Jornal Catolicismo dos anos
50)