“A Religião foi dada por Deus para que o homem,
fiel a seus preceitos e ao cumprimento de sua vida sacramental, ordene sua
existência na terra e prepare sua alma para a vida eterna. A astúcia do demônio
foi fazer crer aos homens que podiam ter uma religião privada, sem apoio
institucional nem organização comunitária. Era a tentação da religião pura,
autônoma e que cada um podia cultivar na ilha fechada de sua intimidade. A
relação de Deus com o homem isolado no santuário de uma sociedade onde cada
indivíduo é rei e sacerdote ao mesmo tempo. Nada mais apropriado para exaltar a
soberba e perder para sempre os influxos saudáveis de uma dogmática e ordem
sacramental objetivas. Estas três atividades do espírito: ciência, política e
religião, ao se rebelar da ordem posta pela tradição revelada, creram
conquistar jurisdições autônomas, livres, independentes, porém em realidade, a
política e a ciência, foram submetidas mui prontamente aos critérios econômicos
e a religião, antes de converter-se em uma esperança de salvação pela graça de
economia, desenvolve no seio do ‘sentimentalismo’ religioso a ideia de que o homem
é o artífice de sua transfiguração essencial.”
(Rúben Calderón Bouchet, O Espírito do Capitalismo)