São Gregório Magno, em seus luminosos
comentários de Jó, penetra profundamente em toda a história da Igreja,
visivelmente animado do mesmo espírito profético espalhado nas Escrituras. Ele
contempla a Igreja, no fim dos tempos, sob a figura de Jó humilhado e sofredor,
exposto às insinuações pérfidas de sua mulher e às críticas amargas de seus
amigos; Jó, diante de quem, outrora, os anciãos se levantavam e os príncipes
faziam silêncio! A Igreja, disse muitas vezes o grande Papa, no fim de sua
peregrinação terrestre, será privada de todo poder temporal; procurarão
tirar-lhe todo ponto de apoio sobre a terra. Vai mais longe ainda, declara que
ela será despojada do próprio brilho que provém dos dons sobrenaturais. “O
poder dos milagres, diz ele, será retirado, a graça das curas arrebatada, a
profecia desaparecerá, o dom de uma grande abstinência será diminuído, os
ensinamentos da doutrina se calarão, os prodígios milagrosos cessarão. Isto não
quer dizer que não haverá mais nada disso; mas todos esses sinais não brilharão
abertamente, sob mil formas como nos primeiros tempos. Será mesmo a ocasião de
um maravilhoso discernimento. Neste estado de humilhação da Igreja, crescerá a
recompensa dos bons que se prenderão a ela, tendo em vista somente os bens
celestes; quanto aos maus, não vendo mais na Igreja nenhum atrativo temporal,
não terão nada a fingir, se mostrarão tais como são”. (Mor. 1, XXXV)
Que palavra terrível: os ensinamentos da
doutrina se calarão! São Gregório proclama em outro lugar que a Igreja prefere
morrer a se calar. Então ela falará: mas seu ensinamento será entravado, sua
voz encoberta; muitos dos que deveriam gritar sobre os telhados não ousarão
fazê-lo com medo dos homens.
E será a ocasião de um grande
discernimento.
(Venerável
Padre Emmanuel-André, falecido em 1903, em “O Drama do Fim dos Tempos”)