O problema de fundo da Fraternidade e de
seus membros é que trabalham a partir de uma falsa noção da Igreja. Eles miram
a eleição de Wojtyla por um colégio de cardeais do Novus Ordo, e daí concluem
que é um pontífice legítimo. [Nota do Blogue: E esta conclusão perdura até Francisco.
Pasmem!]
E como a dificuldade de estar em
comunhão com um herege não lhes sai da cabeça, dizem que João Paulo II [NB: e
seus sucessores(!)] é a cabeça de duas igrejas (!!!): uma, a Igreja Conciliar;
e a outra, a Igreja Católica. Às vezes, ele fala e atua como chefe da Igreja
Conciliar; outras, como chefe da Igreja Católica.
Como saber o que vem de um ou do outro?
Por Monsenhor Lefebvre, que recebeu de Deus a missão de pesar os atos e
palavras destes “papas” modernistas, e de dizer o que se deve crer, o que se
deve fazer e o que se deve pensar. Agora que Monsenhor faleceu, esta autoridade
reside no Superior Geral.
Deste princípio se extrai a conclusão
lógica de que a infalibilidade e indefectibilidade da Igreja Católica, o
depósito da Fé, a salvação de todos os fiéis, estão nas mãos do Superior Geral.
A Igreja Católica, a Fé Católica, a validez dos sacramentos, o que devemos crer
para nos salvar, tudo foi confiado ao juízo do Superior Geral.
Poder-se-ia comparar este tipo de
eclesiologia ou de teologia da Igreja aos “diferentes timbres” das linhas
telefônicas. Para a chegada de um fax, você tem um timbre; para uma chamada
telefônica, outro. Assim, por analogia, se Wojtyla diz algo católico, você
receberá da Fraternidade um determinado soar de timbre; se diz algo modernista,
você receberá outro soar de timbre.
Inútil dizer que tal sistema não somente
é absurdo, senão que reduz a zero a infalibilidade da Igreja Católica. Num
sistema deste gênero, o Papa não é mais a autoridade, mas sim o Superior Geral
da Fraternidade São Pio X.
Seu sistema é defeituoso no sentido
de que não compreendem que é a detenção da autoridade papal o que faz que o
Papa seja Papa. Esta autoridade garantida pelo Espírito Santo em matéria de
doutrina, moral, liturgia e disciplina geral, não pode prescrever para a Igreja
falsas doutrinas ou leis más que o fiel tenha a necessidade de rechaçar e que
deva necessariamente resistir. Porém, no geral, o
movimento tradicionalista postula o rechaço sistemático da doutrina, moral,
liturgia e disciplina geral do Novus Ordo, ao ponto de desenvolver um
apostolado em oposição ao do “Papa” e dos bispos das dioceses. Atua assim
porque sabe, a justo título, que a doutrina, moral, liturgia e disciplina geral
do Novus Ordo estão condenadas pelo ensinamento anterior da Igreja Católica
Romana. Porém, se é necessário resistir a sua doutrina, moral, liturgia e
disciplina geral, é preciso concluir que estes “papas” não detêm
verdadeiramente a autoridade papal, e que não são consequentemente verdadeiros
Papas. E assim é, qualquer que seja o procedimento eleitoral que os designou
para o cargo. A eleição não faz mais que designá-los para receber o poder, não
lhes comunicando o poder por força dela. O poder deriva de Cristo; e é por esta
mesma razão que nossa submissão ao Papa é uma submissão a Cristo.
Contudo, considerar que os “papas” do
Novus Ordo são verdadeiros papas – o que pensa a Fraternidade – equivale a
identificar a Igreja Católica com eles, pois onde está Pedro, está a Igreja.
Ademais, identificar a Igreja Católica com eles, estabelece uma espécie de
atração gravitacional exercida sobre os membros da Fraternidade por João Paulo
II [NB: e seus sucessores.] e sua religião. De todo modo, por um caminho ou por
outro, a Fraternidade deve reintegrar-se ao regaço de Wojtyla. Esta atração
gravitacional para o Novus Ordo, considerado como a Igreja, é a responsável pelo
liberalismo dos sacerdotes da Fraternidade e das numerosas defecções em favor
do Novus Ordo ou da Fraternidade São Pedro.
Esta noção de duas Igrejas: uma católica
e outra conciliar, não é conforme à realidade. A realidade é que Wojtyla foi
eleito para ser um Papa católico, e que pretende ser o Papa católico. Não
pretende outra coisa a não ser o Chefe da Igreja Católica. A realidade é que se
trata de flanquear as estruturas da Igreja Católica por uma nova religião: o
modernismo. Pelo fato mesmo de intentar substituir a Fé Católica por uma nova
religião, é impossível que possua autoridade papal que pretende ter, ou parece
ter, ou que tenha sido designado para ter. Por quê? Porque a natureza da autoridade é
a de levar a comunidade para seus próprios fins. E sendo um dos fins essenciais
da Igreja Católica a mantença da Fé Católica, qualquer um que intente pôr
obstáculo a este fim não pode ser considerado detentor da autoridade da Igreja
Católica, que é a autoridade de Cristo. Por conseguinte, é impossível que os
“papas” do Vaticano II sejam verdadeiros Papas, já que querem para as
estruturas da Igreja um fim essencialmente desordenado.
A Fraternidade não mira mais que as
estruturas externas da Igreja, enfatiza a continuidade que estas apresentam
entre os períodos pré e pósconciliar, e disto conclui que o Novus Ordo é a
Igreja Católica. O clero modernista está de fato na posse das estruturas
católicas, porém isto não significa que represente a Igreja Católica.
É desta forma que a Fraternidade está
presa à hierarquia modernista, em posse de nossos edifícios católicos. Esta
atração fatal é devastadora, pois faz de seu combate a obtenção do
reconhecimento por parte dos modernistas. Esta “legitimidade” que os
modernistas podem conceder não tem nada de legitimidade, não é mais que uma
aparência, e a custa da pureza da Fé Católica. A Fraternidade está deslumbrada,
hipnotizada por esta vã esperança de “legitimidade”, algo como um cachorro
perdido em uma autopista que, deslumbrado, se detém com as luzes de um
automóvel que vai a sua direção, acontecendo assim um fim trágico. Em face desta iníqua tentativa dos modernistas
de pôr em marcha seu plano, que consiste em encher de abominações nossas
igrejas católicas, é o mais solene dever dos católicos o denunciá-los como
falsas autoridades, e, então, tomar uma posição católica que preserve a
infalibilidade e indefectibilidade, uma posição que recuse identificar a Igreja
Católica com uma falsa hierarquia investida de uma falsa autoridade.