Por reconhecer, faz
muito tempo, em Wojtyla a plena possessão da autoridade papal, a Fraternidade
não oferece nenhuma base lógica que justifique seu apostolado.
Quando um sacerdote
exerce este apostolado em tempos normais, não pode praticar nenhuma atividade
sacerdotal sem ser autorizado pela autoridade competente, a saber, o bispo da
diocese. É esta autorização que faz que a Missa do sacerdote e seus sacramentos
sejam católicos, ou seja, administrados por um agente da Igreja Católica
devidamente autorizado. É este defeito de autorização que faz da missa grega
ortodoxa uma missa não católica: ainda que validamente ordenado e ainda que
diga uma missa válida, o sacerdote não atua em nome da Igreja Católica
senão contra ela.
Quando o sacerdote
tradicionalista exerce sua função, quando diz a missa e administra os
sacramentos sem a permissão do bispo do lugar, deve justificar de uma maneira
ou de outra o fato de fazê-lo sem autorização. A única justificação possível
que poderia apresentar é a seguinte: “a Igreja quer que o faça”. Nenhuma
autoridade o autorizou a dizer a missa e a distribuir os sacramentos, portanto
deve ter um argumento coerente e convincente para dizer que a Igreja – Cristo
em última instância – quer que assim o faça.
Porém, se o sacerdote
tradicionalista diz que a autoridade é revestida por Wojtyla ou pelo bispo do
lugar, como pode, então, afirmar que a Igreja quer que exerça um apostolado não
autorizado? Se a autoridade de Cristo repousa no bispo do lugar, como pode
então a autoridade de Cristo querer que o sacerdote tradicionalista atue contra
o bispo do lugar? Se a autoridade de Cristo reside em Wojtyla (NB: ou em
Francisco Bergoglio), como pode Cristo desejar que um grupo de sacerdotes
exerça um apostolado em desprezo de Wojtyla? Cristo está contra Cristo?
Miremos também a outra
face da moeda. Se a autoridade de Cristo não reside em Wojtyla (NB: nem em
Bergoglio), como, então, Cristo ou a Igreja autorizaria o apostolado dos que
afirmam com insistência que o herege Wojtyla (NB: o herege Francisco) é
verdadeiramente o Papa? Como Cristo ou a Igreja pode desejar o apostolado de
sacerdotes que intentam levar os fieis ao rebanho dos falsos pastores, de
pastores heréticos, de sacerdotes que denunciam como cismáticos aqueles que não
reconhecem os falsos pastores?
Tudo isto para dizer
que não é possível separar a autoridade da Igreja da autoridade de Cristo, nem
também separar a autoridade da Igreja da Igreja mesma. É uma só e mesma coisa.
Não se pode, então, pretender representar a Igreja Católica se se atua contra
sua autoridade. Não se pode tampouco pretender representar a Igreja Católica se
se reconhece uma falsa autoridade. Onde
está Pedro, está a Igreja. Se seu apostolado não é de Pedro, seu apostolado
não é o da Igreja nem de Cristo. Reconhecer como Pedro aquele que condena seu
apostolado, significa condenar, por conseguinte, por sua própria boca, seu
próprio apostolado.
Este fato de reconhecer
a autoridade do Papa por um lado, porém “atuar por conta própria” por outro
lado, é um sinal revelador de numerosos hereges e cismáticos. Era a atitude dos
Jansenistas e Galicanos, como também dos Velhos Católicos, e foi condenada pelo
Papa Pio IX: “De que serve proclamar alto e bom som o dogma do Primado de Pedro
e de seus sucessores? De que serve o repetir a profissão de Fé na Igreja
Católica e a obediência à Sede Apostólica, se as ações desmentem as palavras?
Por outra parte, o fato de que a obediência seja reconhecida como um dever, não
faz a rebelião ainda mais imperdoável? Ademais, que a autoridade da Santa Sé
não se estenda à aprovação de medidas que se viu obrigada a tomar, ou melhor,
que seja suficiente estar em comunhão de fé com a Sede Apostólica sem agregar a
submissão da obediência; não é isto algo que não pode sustentar-se sem dano
para a Fé Católica?... Em verdade, veneráveis irmãos e muito queridos filhos,
trata-se de reconhecer a autoridade (desta Sede) também sobre vossas igrejas, e
não somente no que toca à Fé, senão igualmente no que respeita à disciplina.
Quem o negue, é herege; quem ainda reconhecendo, se recuse obstinadamente, seja
anátema” (Quae in patriarchatu,
1º/9/1876, ao clero e aos fieis do rito caldeu).
“E Nós não podemos
passar em silêncio a audácia daqueles que, não suportando a sã doutrina,
pretendem que: ‘Enquanto aos juízos e aos decretos da Sede Apostólica, cujo
objeto toca manifestamente ao bem geral da Igreja, aos seus direitos e a sua
disciplina, se pode, desde o momento que não concernem aos dogmas relativos à
Fé e aos Costumes, recusar-lhes o assentimento e a obediência, sem pecado e sem
deixar em nada de professar o catolicismo’” (Encíclica Quanta Cura, 8/12/1864).
A posição da
Fraternidade não é, portanto, uma posição católica. Que praticamente toda a
juventude da Igreja, os valentes de
Israel, tenham a cabeça cheia de princípios não católicos em seu combate
contra o modernismo, eis aqui um tremendo desastre. Isto significa que não há
nenhuma voz verdadeiramente católica de resistência ao modernismo, exceto a de
alguns sacerdotes esparzidos pelo mundo, que denunciam os modernistas como privados
da autoridade. É para a Igreja, a montanha de Gilboa.
(Excerto de “A Montanha de Gilboa – O
caso da Fraternidade São Pio X”, por Dom Donald J. Sanborn, 1995)