terça-feira, 22 de agosto de 2017

324ª Nota - O apostolado da FSSPX tem fundamento lógico?


Por reconhecer, faz muito tempo, em Wojtyla a plena possessão da autoridade papal, a Fraternidade não oferece nenhuma base lógica que justifique seu apostolado.

Quando um sacerdote exerce este apostolado em tempos normais, não pode praticar nenhuma atividade sacerdotal sem ser autorizado pela autoridade competente, a saber, o bispo da diocese. É esta autorização que faz que a Missa do sacerdote e seus sacramentos sejam católicos, ou seja, administrados por um agente da Igreja Católica devidamente autorizado. É este defeito de autorização que faz da missa grega ortodoxa uma missa não católica: ainda que validamente ordenado e ainda que diga uma missa válida, o sacerdote não atua em nome da Igreja Católica senão contra ela.

Quando o sacerdote tradicionalista exerce sua função, quando diz a missa e administra os sacramentos sem a permissão do bispo do lugar, deve justificar de uma maneira ou de outra o fato de fazê-lo sem autorização. A única justificação possível que poderia apresentar é a seguinte: “a Igreja quer que o faça”. Nenhuma autoridade o autorizou a dizer a missa e a distribuir os sacramentos, portanto deve ter um argumento coerente e convincente para dizer que a Igreja – Cristo em última instância – quer que assim o faça.

Porém, se o sacerdote tradicionalista diz que a autoridade é revestida por Wojtyla ou pelo bispo do lugar, como pode, então, afirmar que a Igreja quer que exerça um apostolado não autorizado? Se a autoridade de Cristo repousa no bispo do lugar, como pode então a autoridade de Cristo querer que o sacerdote tradicionalista atue contra o bispo do lugar? Se a autoridade de Cristo reside em Wojtyla (NB: ou em Francisco Bergoglio), como pode Cristo desejar que um grupo de sacerdotes exerça um apostolado em desprezo de Wojtyla? Cristo está contra Cristo?

Miremos também a outra face da moeda. Se a autoridade de Cristo não reside em Wojtyla (NB: nem em Bergoglio), como, então, Cristo ou a Igreja autorizaria o apostolado dos que afirmam com insistência que o herege Wojtyla (NB: o herege Francisco) é verdadeiramente o Papa? Como Cristo ou a Igreja pode desejar o apostolado de sacerdotes que intentam levar os fieis ao rebanho dos falsos pastores, de pastores heréticos, de sacerdotes que denunciam como cismáticos aqueles que não reconhecem os falsos pastores?

Tudo isto para dizer que não é possível separar a autoridade da Igreja da autoridade de Cristo, nem também separar a autoridade da Igreja da Igreja mesma. É uma só e mesma coisa. Não se pode, então, pretender representar a Igreja Católica se se atua contra sua autoridade. Não se pode tampouco pretender representar a Igreja Católica se se reconhece uma falsa autoridade. Onde está Pedro, está a Igreja. Se seu apostolado não é de Pedro, seu apostolado não é o da Igreja nem de Cristo. Reconhecer como Pedro aquele que condena seu apostolado, significa condenar, por conseguinte, por sua própria boca, seu próprio apostolado.

Este fato de reconhecer a autoridade do Papa por um lado, porém “atuar por conta própria” por outro lado, é um sinal revelador de numerosos hereges e cismáticos. Era a atitude dos Jansenistas e Galicanos, como também dos Velhos Católicos, e foi condenada pelo Papa Pio IX: “De que serve proclamar alto e bom som o dogma do Primado de Pedro e de seus sucessores? De que serve o repetir a profissão de Fé na Igreja Católica e a obediência à Sede Apostólica, se as ações desmentem as palavras? Por outra parte, o fato de que a obediência seja reconhecida como um dever, não faz a rebelião ainda mais imperdoável? Ademais, que a autoridade da Santa Sé não se estenda à aprovação de medidas que se viu obrigada a tomar, ou melhor, que seja suficiente estar em comunhão de fé com a Sede Apostólica sem agregar a submissão da obediência; não é isto algo que não pode sustentar-se sem dano para a Fé Católica?... Em verdade, veneráveis irmãos e muito queridos filhos, trata-se de reconhecer a autoridade (desta Sede) também sobre vossas igrejas, e não somente no que toca à Fé, senão igualmente no que respeita à disciplina. Quem o negue, é herege; quem ainda reconhecendo, se recuse obstinadamente, seja anátema” (Quae in patriarchatu, 1º/9/1876, ao clero e aos fieis do rito caldeu).

“E Nós não podemos passar em silêncio a audácia daqueles que, não suportando a sã doutrina, pretendem que: ‘Enquanto aos juízos e aos decretos da Sede Apostólica, cujo objeto toca manifestamente ao bem geral da Igreja, aos seus direitos e a sua disciplina, se pode, desde o momento que não concernem aos dogmas relativos à Fé e aos Costumes, recusar-lhes o assentimento e a obediência, sem pecado e sem deixar em nada de professar o catolicismo’” (Encíclica Quanta Cura, 8/12/1864).

A posição da Fraternidade não é, portanto, uma posição católica. Que praticamente toda a juventude da Igreja, os valentes de Israel, tenham a cabeça cheia de princípios não católicos em seu combate contra o modernismo, eis aqui um tremendo desastre. Isto significa que não há nenhuma voz verdadeiramente católica de resistência ao modernismo, exceto a de alguns sacerdotes esparzidos pelo mundo, que denunciam os modernistas como privados da autoridade. É para a Igreja, a montanha de Gilboa. 

(Excerto de “A Montanha de Gilboa – O caso da Fraternidade São Pio X”, por Dom Donald J. Sanborn, 1995)