1ª Objeção_
Os indiferentes dizem: Deus não necessita da
homenagem das criaturas. Portanto, os cultos religiosos são vãos. Esta objeção
é formulada assim por Santo Tomás de Aquino: “Nas ofertas
feitas pelos homens, algo parece mais louvável quando oferecido aos mais necessitados.
Portanto, a religião parece a menos louvável de todas as virtudes pelas quais o
homem ajuda os outros”.
Resposta_
Santo Tomás de Aquino:
“Nas coisas oferecidas aos outros por causa de sua utilidade, a oferta é mais
louvável quando feita ao mais necessitado, porque é mais útil. Para Deus,
entretanto, nada é oferecido para sua utilidade, mas para sua glória e para
nossa utilidade”.
A objeção supõe o falso princípio
do utilitarismo, segundo o qual alguma coisa é um bem a ser feito não porque é
honesta, mas porque é algo útil. Essa redução do bem
honesto para o bem útil é a demonstração de qualquer obrigação moral que se
fundamenta não sobre uma necessidade, mas sobre um direito. A nulidade desta
objeção se constata com o bom senso. Se, de fato, ela fosse verdadeira, seria
verdadeiro também dizer: o rico não precisa da minha restituição, portanto, eu
não lhe devo restituir nada, a restituição é vã. O benfeitor não necessita da
gratidão, portanto, a gratidão é vã. Meu pai não necessita de meu respeito;
logo, nada lhe devo.
2ª Objeção_
Deus não criou tudo unicamente para sua
glória, pois isto seria egoísmo divino; mas ele nos criou para nossa
felicidade. Assim afirmam Kant, Hermes, Günther.
Resposta_
Seria egoísmo, se Deus não fosse o Bem
Supremo, mas Ele é a própria bondade. Se Ele não fizesse todas as coisas para
manifestar Sua bondade ou Sua própria glória, então, ele não teria ordenado
tudo para o Bem Supremo, mas, sim, para qualquer bem particular, o que seria
uma falha em Deus, isto é, o maior absurdo e a ruína de nossa felicidade.
3ª Objeção_
É próprio do egoísmo subordinar todas as
coisas para si mesmo, como se elas fossem servas ou coisas úteis. Deus agiria
assim, se ele tivesse feito tudo para sua glória.
Resposta_
Assim seria, se os homens não fossem
aperfeiçoados e glorificados por essa subordinação a Deus. Porém, é muito mais
glorioso para nós existir para Sua glória do que para nossa própria felicidade.
“Na medida em que veneramos e honramos a Deus, nosso espírito se torna submisso
a Ele, e nisto consiste a perfeição: toda coisa é aperfeiçoada na medida em que
está sujeita ao que é superior a ela, como o corpo é vivificado pela alma e o
ar é iluminado pelo sol”. É por isso que reza o Salmo 113: “Não a nós, Senhor,
não a nós, mas ao Vosso nome dai glória”.
(Excerto de Dever de receber a Revelação
proposta pela Igreja Católica, por dom Garrigou Lagrange, OP)