quinta-feira, 31 de agosto de 2017

325ª Nota - Respostas aos indiferentes e utilitaristas


1ª Objeção_
Os indiferentes dizem: Deus não necessita da homenagem das criaturas. Portanto, os cultos religiosos são vãos. Esta objeção é formulada assim por Santo Tomás de Aquino: “Nas ofertas feitas pelos homens, algo parece mais louvável quando oferecido aos mais necessitados. Portanto, a religião parece a menos louvável de todas as virtudes pelas quais o homem ajuda os outros”.
Resposta_
Santo Tomás de Aquino: “Nas coisas oferecidas aos outros por causa de sua utilidade, a oferta é mais louvável quando feita ao mais necessitado, porque é mais útil. Para Deus, entretanto, nada é oferecido para sua utilidade, mas para sua glória e para nossa utilidade”.
A objeção supõe o falso princípio do utilitarismo, segundo o qual alguma coisa é um bem a ser feito não porque é honesta, mas porque é algo útil. Essa redução do bem honesto para o bem útil é a demonstração de qualquer obrigação moral que se fundamenta não sobre uma necessidade, mas sobre um direito. A nulidade desta objeção se constata com o bom senso. Se, de fato, ela fosse verdadeira, seria verdadeiro também dizer: o rico não precisa da minha restituição, portanto, eu não lhe devo restituir nada, a restituição é vã. O benfeitor não necessita da gratidão, portanto, a gratidão é vã. Meu pai não necessita de meu respeito; logo, nada lhe devo.

2ª Objeção_
Deus não criou tudo unicamente para sua glória, pois isto seria egoísmo divino; mas ele nos criou para nossa felicidade. Assim afirmam Kant, Hermes, Günther.
Resposta_
Seria egoísmo, se Deus não fosse o Bem Supremo, mas Ele é a própria bondade. Se Ele não fizesse todas as coisas para manifestar Sua bondade ou Sua própria glória, então, ele não teria ordenado tudo para o Bem Supremo, mas, sim, para qualquer bem particular, o que seria uma falha em Deus, isto é, o maior absurdo e a ruína de nossa felicidade.

3ª Objeção_
É próprio do egoísmo subordinar todas as coisas para si mesmo, como se elas fossem servas ou coisas úteis. Deus agiria assim, se ele tivesse feito tudo para sua glória.
Resposta_
Assim seria, se os homens não fossem aperfeiçoados e glorificados por essa subordinação a Deus. Porém, é muito mais glorioso para nós existir para Sua glória do que para nossa própria felicidade. “Na medida em que veneramos e honramos a Deus, nosso espírito se torna submisso a Ele, e nisto consiste a perfeição: toda coisa é aperfeiçoada na medida em que está sujeita ao que é superior a ela, como o corpo é vivificado pela alma e o ar é iluminado pelo sol”. É por isso que reza o Salmo 113: “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao Vosso nome dai glória”.

(Excerto de Dever de receber a Revelação proposta pela Igreja Católica, por dom Garrigou Lagrange, OP)