Se existe o
Anticristo, haveria também a Antimaria?
Se existe um
Anticristo, como dizem as Escrituras, talvez exista também um complemento
feminino para ele: uma espécie de “Antimaria”. Mas como ela seria?
Por Carrie Gress — Enquanto fazia pesquisas para o
meu próximo livro, The Marian Option: God's Solution to a Civilization
in Crisis ["A opção mariana: solução de Deus para uma civilização
em crise"], a ser lançado em maio de 2017, veio-me à mente um novo
conceito teológico. Eu estava a investigar a noção de Maria como "nova
Eva" — uma ideia que remonta aos primeiros padres da Igreja. Maria como
nova Eva é o complemento feminino para Cristo, o novo Adão. Na Escritura, São
João fala do anticristo como um homem, mas também como um movimento presente ao
longo de toda a história (cf. 1Jo 4, 3; 2Jo 1,
7). Isso me fez pensar: se há um anticristo, será que existe também um
complemento feminino, uma "antimaria"?
Mas em que
consistiria exatamente um movimento "antimaria"?
Seriam mulheres
que não dariam valor aos filhos. Elas seriam obscenas, vulgares e iradas.
Reagiriam com raiva à ideia de qualquer coisa que se parecesse ou com
obediência humilde ou com autossacrifício pelos outros. Elas seriam petulantes,
superficiais, maliciosas e exageradamente sensuais. Seriam também
auto-absortas, manipuladoras, fofoqueiras, ansiosas e ambiciosas. Em
suma, seriam tudo aquilo que a Virgem Maria não é.
Ainda que esse
comportamento tenha sido posto como que sob a lente de um microscópio por
conta da recente Marcha pelas Mulheres, em Washington [1], a tendência de
mulheres mal comportadas não tem nada de nova. Há ampla evidência, no entanto,
de que estamos a testemunhar algo, por causa de sua dispersão massiva, bem
diferente do vício ordinário visto ao longo da história.
O tratamento que
se dá à maternidade é um dos primeiros sinais de que estamos a lidar com um
novo movimento. Mães (espirituais ou biológicas) são um ícone natural da
Virgem Maria — elas ajudam outras pessoas a conhecerem quem é Maria
através de sua generosidade, paciência, compaixão, paz, intuição e habilidade
de nutrir almas. O amor de Maria (e o amor materno) oferece uma das melhores
imagens de como é o amor de Deus: incondicional, salvador e profundamente
pessoal.
As décadas mais
recentes da história têm testemunhado o sutil apagamento do ícone mariano nas
mulheres reais. Primeiro com a pílula anticoncepcional e depois com o advento
do aborto, a maternidade ficou no cepo. Ela se tornou dispensável, a ponto de a
cultura geral não dar a mínima quando uma criança é adotada por dois homens.
Toda cultura,
inclusive a nossa, sabe quão importante é uma mãe (mesmo nas suas imperfeições)
para assegurar uma fase adulta saudável e maturidade espiritual — e nenhuma
cultura pode se renovar sem maturidade espiritual. Sim, há muitas pessoas que
têm crescido sem mãe, e muitos estão de acordo que, de fato, poucas coisas há
que sejam tão trágicas quanto essa. Essas tristes realidades, no entanto, ao
invés de diminuírem a importância das mães, apenas fortalecem o argumento de
que as crianças precisam delas. Não é por acaso que, com a maternidade tão
desvalorizada como está, estejamos testemunhando traumas e transtornos
emocionais e mentais sem precedentes em todos os segmentos da população.
Outro sinal
impressionante de que estamos em uma era antimariana é que, depois de todo o
chamado "progresso" conquistado pelas mulheres, há mui pouca
evidência de que essas coisas tenham realmente tornado as mulheres mais
felizes. As taxas de divórcio são ainda assombrosas, com 70% dos casos iniciados
por mulheres; os índices de suicídio estão nas alturas; abusos de drogas e
álcool também; depressão e ansiedade estão em todos os lugares. As mulheres não
estão se tornando mais felizes, só estão ficando mais medicadas.
Fonte de dignidade
Poucos em nossa
cultura sabem da dívida de gratidão que têm para com o catolicismo pela noção
radical de que as mulheres são iguais aos homens. Essa ideia vem
especificamente da Virgem Maria. Não veio dos gregos — Aristóteles e
outros chamavam as mulheres de "machos imperfeitos"—, não veio do
judaísmo — ainda que tivessem um certo status, um movimento maior
para promover a dignidade das mulheres nunca chegou a acontecer — e muito menos
do islamismo. O pensador William Lecky, acadêmico racionalista do século XIX,
não católico, explica:
Não mais a
escrava ou o brinquedo do homem, não mais associada apenas a ideias de
degradação e de sensualidade, as mulheres ascenderam, na pessoa da Virgem
Maria, a uma nova esfera, e tornaram-se objeto de homenagem reverencial, da
qual a antiguidade não tem nenhuma notícia… Uma nova personagem foi chamada à
existência; um novo tipo de admiração foi encorajado. Em uma idade rude,
ignorante e obscurecida, esse tipo ideal infundiu uma concepção de gentileza e
pureza, até então desconhecida para as mais orgulhosas civilizações do passado.
Hoje a igualdade
entre homens e mulheres nos parece uma coisa óbvia, uma intuição simples que
teria qualquer pessoa racional. Mas, se fosse realmente assim, por que então
nenhum outro movimento religioso tinha se atentado para esse fato antes? Foi a
Virgem Maria quem reverteu os pecados de Eva e propiciou que essa noção, agora
tornada lugar-comum, tomasse raízes. O cristianismo, ainda que esteja agora
amplamente abandonado pela cultura secular, continua sendo a fonte dessa
profunda iluminação.
Nos lugares errados
Hoje as mulheres
ainda desejam igualdade e respeito — talvez mais do que nunca —, mas paremos
por um instante para observar como elas estão tentando alcançar isso. Elas
estão seguindo não a graça de Maria, mas os vícios de Maquiavel: raiva,
intimidação, histeria, assédio moral. É esse impulso agressivo que faz a mulher
sentir orgulho em ser chamada de "nojenta" [2], sentir-se empoderada
por vestir-se como uma prostituta, ou acreditar que uma criança é capaz de
destruir a sua vida. Acontece que é precisamente esse tipo de coisas que jamais
levará as mulheres à felicidade.
O antimarianismo
detém um verdadeiro monopólio em nossa cultura; não há praticamente nenhuma
alternativa no espaço público em que as mulheres mais jovens possam se
espelhar. Ao invés disso, nós temos Madonna, que em um único discurso é capaz
de ao mesmo tempo pedir uma revolução do amor e confessar o seu desejo de
explodir a Casa Branca; temos políticas mulheres, que pensam que a única forma
de serem eleitas é jurando lealdade a Planned Parenthood; ou Gloria
Steinem, que tinha deixado claro, ainda na década de 1980, que sua meta era
viver um estilo de vida livre "das amarras" do gênero. Manchetes e
vedetes de Hollywood ditam como milhões de meninas e mulheres devem pensar.
Nenhuma mulher é uma ilha
Mas elas não são
as únicas atingidas por esse movimento. Homens e rapazes também são
profundamente afetados por isso. Eles se sentem à deriva, especialmente quando
as virtudes que lhes são mais naturais são mal interpretadas como coisas ruins.
Mais do que isso, os homens estão tendo roubada uma compreensão apropriada
do eros, ou seja, o tipo de amor animado pela beleza e bondade. É
esse tipo de amor que tem povoado a poesia, os sonetos e as canções românticas
por séculos. (Não há uma música romântica sequer escrita sobre o amor de um
homem por uma mulher arrogante e ranzinza em um terninho.) O eros agora
tem sido apagado e substituído por uma forma sórdida de erotismo.
Infelizmente, as
mulheres não têm ideia de como podem inspirar os homens através da bondade.
Como escreveu sabiamente o arcebispo Fulton Sheen: "Quando um homem ama
uma mulher, acontece que, quanto mais nobre a mulher, mais nobre é o amor;
quanto maiores as exigências da mulher, mais valoroso deve ser o homem. É
por isso que a mulher é a medida do nível de nossa civilização". Uma
avaliação das mulheres — em seu estado de transtorno, forte medicação e
irritação — revela maus presságios para a nossa civilização, independentemente
de qual seja o partido político no poder.
O demônio sabe
que todas essas marcas da "antimaria" — raiva, indignação,
vulgaridade e orgulho — provocam um curto-circuito nos maiores dons que possuem
as mulheres: sabedoria, prudência, paciência, paz imperturbável, intuição e a
capacidade para um relacionamento profundo com Deus. Ao contrário disso, o
tentador promete poder, fama, fortuna, respeito e prazeres fugazes e estéreis —
e, como Eva, as mulheres do movimento antimariano continuam a cair em suas
mentiras.
Enquanto muitos
já demos vários nós em nossa cabeça tentando imaginar uma solução para esse
problema, a verdadeira resposta está em voltar à fonte, voltar à mulher por
meio da qual toda mulher ganha a sua dignidade. Não importa o quão forte seja o
"espírito da Antimaria", a Virgem Maria continua a ser a mulher mais
poderosa no mundo.
Fonte: National Catholic Register | Tradução: Equipe
Christo Nihil Praeponere
Notas
- Essa manifestação pode
ser comparada, mutatis mutandis, aos conhecidos protestos
do grupo Femen ao redor do mundo e, aqui no Brasil, às recentes
e famigeradas "marchas das vadias".
- A autora do texto usa a
expressão nasty, referindo-se a um episódio recente das
eleições americanas, quando o atual presidente Donald Trump usou esse
adjetivo para se referir à sua oponente, Hillary Clinton, durante um
debate político. A reação nas redes sociais à frase foi instantânea:
inúmeras mulheres manifestaram adesão à candidata democrata, assumindo o
adjetivo para si como se fosse motivo de orgulho. A situação lembra o
chilique das redes, aqui no Brasil, quando uma revista traçou o perfil de
uma mulher como "bela, recatada e do lar".