1. O FATO DO CONSENTIMENTO UNIVERSAL. —
A idéia de Deus não é uma idéia reservada aos filósofos e aos sábios, nem uma
noção moderna, nem um elemento da civilização ocidental. É uma idéia
universal, no tempo e no espaço. Em todas as latitudes e todas as
culturas, desde as origens até os nossos dias, os homens, sábios ou ignorantes,
afirmaram sua crença na existência de um Chefe soberano do universo. Nem as
mitologias, tantas vezes estranhas em que se exprimiu a crença em Deus, nem o
ateísmo, pretenso ou real, que se encontra na história, sobretudo
contemporânea, podem valer contra o fato do consentimento moralmente
unânime do gênero humano. Ora, este fato deve ser explicado.
2. SENTIDO E ALCANCE DO ARGUMENTO. —
Não se pode dizer simplesmente que a universalidade da crença em Deus prova a
existência de Deus. Até Copérnico, os homens acreditavam unanimemente que o Sol
girava em torno da Terra: isto não prova de forma alguma a realidade de um tal
movimento. Mas esta unanimidade provava suficientemente que razões sérias e graves
(a saber, as aparências, que até Copérnico e Galileu, nada permitia
retificar) existiam em favor de uma tal opinião.
Assim
também ocorre no caso da universalidade da crença na existência de
Deus. Esta universalidade significa que há razões poderosas e acessíveis a
todas as inteligências, em favor da crença em Deus. Por isso, enquanto não se
conseguir mostrar que estas razões são desprovidas de valor, poder-se-á estimar
que a crença em Deus resulta do exercício normal do pensamento humano, que
obedece às exigências racionais. Mas vê-se também daí que é menos a
universalidade da crença como tal que serve de argumento, do que a presunção de
que uma evidência objetiva age neste ponto para realizar o
consentimento universal.
(Extraído
do Curso de Filosofia, Padre R. Jolivet)