Os
próprios apologistas católicos acentuaram o fato de que, mesmo que a Bíblia
subitamente desaparecesse da terra, por efeito de alguma grande calamidade,
isso não afetaria uma só doutrina da Igreja Católica, nem poria em risco a sua
existência. Deve ser notado que, na estimativa dos católicos, semelhante perda
seria uma grande calamidade. Eles consideram a posse da Bíblia como uma
grandíssima bênção. Mas, ao mesmo tempo, declaram que a Bíblia não é necessária
à existência da Igreja Católica ou à continuidade da sua missão junto à
humanidade.
Desde o começo poderíamos ser lembrados,
de que, se a Bíblia não desapareceu da face da terra, devemo-la à Igreja
Católica; porque foi ela quem a preservou em forma manuscrita no correr dos primeiros
séculos. Porém aspecto muito mais importante do assunto deve ser aqui
considerado.
A real afirmação em discussão é de todo
evidentemente verdadeira; porque a Igreja Católica existiu antes que uma linha
sequer do Novo Testamento tivesse sido escrita; e, se ela pode existir então,
sem dúvida poderia existir e ter continuado existindo se nem uma linha dos
evangelhos e do resto do Novo Testamento houvesse sido jamais confiada à
escrita.
Devemos lembrar-nos de que as tremendas
notícias do nascimento de Nosso Salvador e da realização, por ele, da nossa
redenção foram tornadas conhecidas desde o começo pela pregação dos Apóstolos;
e, certamente, aos três mil convertidos pelo primeiro sermão de São Pedro em
Jerusalém não foram dados Novos Testamentos! Nos Atos dos Apóstolos, escritos
cerca de sessenta e três anos depois do nascimento de Cristo, temos editada a
observação de que, quando São Pedro tinha completado o seu primeiro discurso em
público, “o Senhor fazia crescer diariamente na Igreja o número dos que haviam
de ser salvos” (At. 2, 47). E já vimos a afirmação, num versículo anterior, de
que os primeiros cristãos “perseveravam todos na doutrina dos Apóstolos” (At.
2, 42). Assim, a Igreja existia então, embora nem uma linha do Novo Testamento
houvesse sido ainda escrita. E, no entanto, aqueles primeiros membros da Igreja
eram tão cristãos como os dos séculos posteriores que tiveram a boa fortuna de
possuir cópias dos evangelhos.
(Excerto
de “A Teoria de ‘A Bíblia somente’”, Padre Dr. L. Rumble, MSC)