segunda-feira, 18 de julho de 2016

227ª Nota - Karl Marx gritando maldições colossais



A PERSONALIDADE

Para descobrir isso, temos de examinar muito mais de perto sua personalidade.

É verdade - e em certos aspectos uma triste verdade - que as grandes obras do intelecto não provêm da atividade abstrata do cérebro e da imaginação; estão profundamente enraizadas na personalidade.

Marx é um exemplo notável desse princípio.

Já analisamos a apresentação de sua filosofia como sendo o amálgama de sua visão poética, de seu talento jornalístico e de seu academicismo.

Mas também pode ser demonstrado que o conteúdo real dessa filosofia se liga a quatro aspectos de seu caráter: o gosto pela violência, o desejo de poder, a inabilidade de lidar com dinheiro, a tendência de explorar os que se encontravam a sua volta.

A sugestão de violência, sempre presente no marxismo e demonstrada com frequência pelo próprio comportamento dos regimes marxistas, representa uma projeção do temperamento de seu criador.

Marx passou sua vida num ambiente de extrema violência verbal, onde periodicamente ocorriam brigas e, às vezes, ataques físicos. As brigas na família de Marx foram a primeira coisa que sua futura esposa, Jenny von Westphalen, percebeu a seu respeito.

Na Universidade de Bonn, a polícia o prendeu por possuir uma pistola, e ele por muito pouco não foi suspenso; nos arquivos da universidade, aparece por ter-se envolvido em conflitos estudantis, disputado um duelo e se cortado no olho esquerdo.

Suas brigas com a família entristeceram os últimos anos de vida do pai e acarretaram, por fim, uma ruptura definitiva com sua mãe.

Numa das cartas mais antigas de Jenny que foram conservadas, se lê: "Por favor, não escreva com tanto rancor e irritação".

E fica patente que muitas de suas incessantes desavenças se deviam às expressões violentas que costumava usar quando escrevia ou, mais ainda, quando falava, e nesse último caso a situação era, no mais das vezes, agravada pelo álcool.

Marx não era um alcoólatra, embora bebesse com regularidade, geralmente em grande quantidade, e às vezes se envolvesse em perigosas bebedeiras.

Em parte, seu problema era que, desde os 25 anos, Marx sempre foi um exilado vivendo quase exclusivamente em comunidades de expatriados, em sua maioria alemães, em cidades estrangeiras.

Raramente procurava fazer amizades fora delas e nunca tentava se integrar.

Além disso, os expatriados com que sempre se relacionava eram, eles próprios, um pequeno grupo exclusivamente em política revolucionária.

Esse fato, por si, ajuda a entender a visão estreita que Marx tinha da vida, e seria difícil imaginar um cenário social mais propenso a estimular sua natureza belicosa, pois esses círculos eram famosos por suas disputas violentas.

Segundo Jenny, as desavenças só não foram constantes em Bruxelas.

Em Paris, seus encontros na Rue des Molins para tratar de colaborações em jornais tinham de se dar atrás de janelas fechadas de modo que os transeuntes não pudessem ouvir a gritaria interminável.

Entretanto, essas brigas não foram sem propósito.

Marx brigava com todas as pessoas com as quais se relacionava - de Bruno Bauer em diante, a menos que conseguisse dominá-las completamente.

Em conseqüência, existem várias descrições, em sua maior parte hostis, do furioso Marx em ação.

O irmão de Bauer chegou a escrever um poema sobre ele.

"O velho camarada de Trier, em fúria vociferando,Seu punho maligno está cerrado, ele grita interminavelmente, Como se dez mil demônios o dominassem".Payne, pag. 31.

[Edgar Bauer describes Marx as: a swarthy chap of Trier, a marked monstrosit He neither hops nor skips, but moves in leaps and bounds Raving aloud… He shakes his wicked fist, raves with a frantic air. As if ten thousand devils had him by the hair.]

[Nota: Texto semelhante de Engels: A swarthy chap of Trier, a marked monstrosity. He neither hops nor skips, but moves in leaps and bounds, Raving aloud. As if to seize and then pull down. To Earth the spacious tent of Heaven up on high]

Fonte: 
http://www.marxists.org/archive/marx/works/cw/volume02/preface.htm

***

Marx era baixo, largo, tinha cabelo e barba pretos, uma pele amarelada (seus filhos o chamavam de "Mouro") e usava um monóculo no estilo prussiano.

Pavel Annenkov, que o viu no "julgamento" de Weitling, descreveu sua "espessa e negra cabeleira, suas mãos peludas e a sobrecasaca abotoada indevidamente"; era mal-educado, "presunçoso e ligeiramente sobranceiro (arrogante, que se acha superior)"; sua "voz aguda e metálica se adequava bem às sentenças radicais que ele proferia continuamente sobre os homens e as coisas"; tudo o que dizia tinha um "tom áspero".

Sua obra favorita de Shakespeare era Tróilo e Créssida, da qual gostava da troca de insultos entre Ajax e Tersites.

Adorava citá-la, e a vítima de um trecho ("Tu, senhor de espírito apalermado: não possuis mais miolos do que eu em meu cotovelo").

Foi seu companheiro revolucionário Karl Heinzen, que revidou com um retrato memorável do pequeno homem raivoso.

Achava Marx "intoleravelmente desprezível", o resultado do "cruzamento entre um gato e um macaco", com "cabelos desgrenhados pretos como carvão e com a tez suja e amarelada" e 
"impossível dizer se suas roupas e sua pele eram da cor de lama por natureza ou se estavam apenas sujas."

Tinha olhos pequenos, ameaçadores e maliciosos, "emitindo faíscas de um fogo repulsivo"; tinha o hábito de dizer: "Eu vou aniquilar você".

[Nota: O relato de Geinzen foi publicado em Boston em 1864; citado em Payne, p. 155.]

De fato, Marx gastava grande parte de seu tempo compilando dossiês minuciosos sobre seus rivais e inimigos políticos, os quais ele não hesitava em apresentar à polícia se achasse que lhe seria útil.

As grandes brigas públicas, como por exemplo no encontro da Internacional em Hague, em 1872, prenunciava os réglements des comptes [acertos de conta] da Rússia soviética: não há nada no período de Stalin que não estivesse prefigurado, de uma grande distância no tempo, pelo comportamento de Marx.

Às vezes, havia de fato sangue derramado. Marx foi tão ofensivo durante sua briga com August von Willich, em 1850, que este desafiou-o para um duelo.

Marx, apesar de ter sido duelista no passado, disse que "não se envolveria nas brincadeiras dos oficiais prussianos", porém não fez nenhuma tentativa de evitar que seu jovem assistente, Konrad Schramm, tomasse o seu lugar, embora Schramm nunca tivesse usado uma pistola na vida e Willich fosse um atirador excelente.

Schramm foi ferido.

O padrinho de Willich nessa ocasião foi um aliado particularmente perigoso de Marx, Gustav Techow, merecidamente odiado por Jenny, o qual matou pelo menos um companheiro revolucionário e acabou sendo enforcado por assassinar um oficial da polícia.

O próprio Marx não era contra a violência ou mesmo o terrorismo quando se adequavam a sua tática.

Dirigindo-se ao governo prussiano em 1849, fez a seguinte ameaça: "Nós somos impiedosos e não queremos nenhum centavo de vocês. Quando chegar a nossa vez, não vamos reprimir nosso terrorismo". 
[We are ruthless and ask no quarter from you. When our turn comes we shall not disguise our terrorism.]

No ano seguinte, o "Plano de ação" que ele tinha distribuído especificamente na Alemanha estimulava a violência do populacho:"Longe de sermos contrários aos chamados excessos, aqueles exemplos de vingança popular contra construções particulares ou públicas que têm um passado detestável, temos de não apenas perdoá-los, como também cooperar neles".

[Far from opposing the so-called excesses, those examples of popular vengeance against hated individuals or public buildings which have acquired hateful memories, we must not only condone these examples but lend them a helping hand.]

Nota: Marx-Engels Gesamt-Ausgabe, vol. vi, pp. 503-5
http://www.bbaw.de/bbaw/Forschung/Forschungsprojekte/mega/en/Startseite 

(Paul Johnson, 1988)