terça-feira, 6 de dezembro de 2016

276ª Nota - Ainda sobre o sedevacantismo


Apresentamos um excerto da entrevista do padre Rioult, ex-FSSPX, sedevacantista, e as nossas correções quanto aos seus erros já demasiadamente refutados.
Entrevistador: A Igreja conciliar parece ter dado passos rápidos com Francisco. E com sua velocidade e originalidade, é difícil dizer aonde vai estar amanhã. Se o Arcebispo Lefebvre a declarou cismática (a igreja conciliar), ainda que tenha reconhecido a autoridade dos que ocupam a sua cabeça, não é tempo de declarar que seus líderes carecem de qualquer autoridade católica?
P. Rioult: Para mim, isto é matéria de opinião. Não sei quem é realmente Francisco. Do que estou seguro é que eu não estou em comunhão com ele. Tomei publicamente decisões como uma solução prática a este problema. É uma conclusão que posso e devo tomar. Porém não tenho as aptidões teológicas e ainda menos autoridade para dizer com certeza que esta pessoa é tal ou qual. Esta é minha insuficiência, eu sou limitado; não sou um grande teólogo. Isso é tudo. A história da Igreja e a teologia demonstram que a Igreja viveu durante séculos com opiniões teológicas incompatíveis entre si (sobre a graça, e sobre outras questões teológicas), sempre e quando, não houvesse um juízo definitivo e autorizado da Igreja. Bom, eu creio que hoje em dia, quando vivemos o mistério da iniquidade, devemos ter a caridade necessária e a humildade intelectual para aceitar várias explicações sobre as quais a Igreja não se pronunciou com autoridade. Aceitamos que há opiniões inclusive contraditórias, porém isto não impede as disputas teológicas, nem que se mostrem as falhas de um argumento particular.
***
Primero erro: “Para mim, isto é matéria de opinião”.
a) A posição sedevacantista é uma opinião ou uma conclusão teologicamente certa?
É uma posição que não pode ser questionada, porque deriva diretamente da doutrina e do magistério infalível da Igreja.
O sedevacantismo se baseia em dois raciocínios:
1) A Infalibilidade Pontifícia
Maior: Desde o Concílio Vaticano II, aqueles que se apresentam como Papas ensinam heresias e publicamente se opõem aos fundamentos da religião católica.
Menor: Pois bem, um Papa não pode desviar-se da fé. É um dogma de fé ensinado por Nosso Senhor Jesus Cristo e admitido pelos Papas e por todos os doutores da Igreja. 
Conclusão: Portanto, Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II, Benedito XVI e Francisco não podem ser Papas da Igreja Católica.
2) Necessária submissão dos fieis católicos ao Papa
Maior: A fé nos manda rechaçar os ensinamentos, as reformas e as heresias dos “Papas” conciliares.
Menor: Pois bem, é necessário e obrigatório por parte de um católico fiel obedecer e estar sujeito ao Papa na ordem que lhe é própria. Isto é de fé divina e católica. 
Conclusão: é absolutamente certo que os “Papas” do Vaticano II estão privados da autoridade pontifícia que lhes é própria.
b) É importante confessar que Francisco seja Papa? Ou é algo que pertence à ordem da livre opinião?
Citemos a Mons. Sanborn:
A questão do papado de Benedito XVI (Francisco) é uma questão de livre opinião?
Claro que não! Nossa salvação eterna depende de nossa submissão ao Romano Pontífice. Por consequência, a questão do papado de Benedito XVI (Francisco) é de suma importância, e nisto devemos tranquilizar a nossa consciência de uma forma ou de outra. Se chegamos à conclusão de que o Concílio Vaticano II contradiz o ensinamento da Igreja, então não podemos reconhecer como verdadeiro Papa a Benedito XVI (Francisco). Agora, se chegamos à conclusão de que o ensinamento do Concílio Vaticano II não é uma mudança substancial na fé católica, então devemos reconhecer Benedito XVI (Francisco) como verdadeiro Papa e devemos seguir o que ele nos manda. Um católico que não se preocupa em saber se tal pessoa é ou não é Papa, não tem absolutamente espírito católico. Pelo contrário, está imerso em um estado de espírito cismático que rechaça a autoridade. Durante o grande cisma do Ocidente, quando havia três pretendentes ao trono papal, SÃO VICENTE FERRER CONDENAVA OS QUE ERAM INDIFERENTES EM SABER QUEM ERA O VEDADEIRO PAPA.”
Mons. Sanborn não inventa nada, senão que se remete ao Magistério da Igreja Católica: 
Bonifácio VIII:
“Declaramos, definimos e pronunciamos que é absolutamente necessário para a salvação de toda a criatura humana estar sujeita ao Romano Pontífice (Bula UNAM SANCTAM)
Pio XI:
“Não há como alguém pertencer à única Igreja de Cristo, se não reconhecer e aceitar com obediência a autoridade e o poder de Pedro e de seus legítimos sucessores.” (MORTALIUM ANIMOS. Pio XI, 1928)
Pio XII:
“É por isso que ninguém se salvará, se, conhecendo que a Igreja é divinamente instituída por Cristo, não aceitar submeter-se à Igreja ou rechaçar a obediência ao Romano Pontífice, Vigário de Cristo na Terra.” (Carta del Santo Oficio al obispo de Boston, DS 3867)
Segundo erro: “Não tenho autoridade para dizer algo”.
Uma coisa é ter autoridade para dizer que os “Papas” pós-conciliares não são legítimos, e outra coisa é se ver obrigado, para guardar a fé, constatar que eles não têm a autoridade papal.
Evidentemente, não pertence aos membros da Igreja discente o pretender constatar publicamente, com a autoridade requerida para isso, a vacância da Santa Sede.
Os sedevacantistas somente constatam – mediante um juízo privado – que os “Papas” do Vaticano II não podem ser realmente Papas diante de Deus, porque o que fazem, nenhum Papa verdadeiro poderia fazer: promulgar as constituições, decretos e declarações do Concílio Vaticano II e manter ensinamentos que se opõem aos juízos do magistério infalível, ou promulgar e manter a “Nova Missa”, que se opõe na sua totalidade e nos seus detalhes ao ensinamento do Concílio de Trento.
Contrariamente ao que disse o Padre Rioult, não é necessário ter grandes habilidades teológicas para constatar tudo isto e extrair a conclusão lógica que se desprende dos fatos e da doutrina católica tradicional. Portanto, o Padre Rioult tem absolutamente o direito e inclusive o dever de questionar, mediante um juízo privado, a função, a autoridade e o respeito aos Pastores incriminados. É a mesma fé que nos obriga! [Veja em Una acusación infundada]
“Permite-se, inclusive se obriga aos fiéis, apontar as razões de sua fé, de extrair as suas consequências, encontrar aplicações, estabelecer paralelismos e analogias. O fiel leigo tem o direito de fazer tudo isto, e por causa disto é louvado pela Igreja em todas as épocas.” (Don Félix Sardá y Salavany)
Os sedevacantistas não pretendem substituir os que têm o poder na eleição dos papas, e menos ainda a Igreja, para fazer um juízo público autorizado sobre os “Papas do Vaticano II”, senão tudo o que se permite fazer em um juízo privado a este respeito.
Novamente Mons. Sanborn:
Temos o poder de dizer que os Papas do Vaticano II não são verdadeiros Papas?
“Não temos o poder legal de declarar isto. Porém, temos, como católicos, a obrigação de comparar o que ensina o Concílio Vaticano II com o ensinamento da Igreja Católica. A virtude da fé exige que assim façamos, porque a fé é sabedoria sobrenatural, e, portanto, exige que tudo esteja em conformidade com ela. Se não fizéssemos esta comparação, não teríamos a virtude da fé. Se comprovamos que os ensinamentos do Vaticano II não estão em conformidade com o ensinamento da fé católica, estamos obrigados a rechaçar o Vaticano II, e nos vemos forçados a concluir que aqueles que o promulgaram não têm a autoridade de Cristo. Do contrário, nossa adesão ao erro que é contrário a Fé seria a ruína da virtude da fé em nós, e nos converteríamos em hereges. Do mesmo modo, se aceitássemos a ideia de que a Igreja Católica foi capaz de promulgar doutrinas falsas, um culto pernicioso, más disciplinas, seríamos hereges. Assim, pois, concluir em privado que Benedito XVI (ou Francisco) é um herege ou um apóstata da fé, não é julgar o Papa no sentido que lhe dão os canonistas e teólogos.
De fato, se não pudéssemos nem sequer pensar na possibilidade de que o “Papa” seja herege, então, por que muitos teólogos falaram desta possibilidade e de suas consequências?” (Réfutation concernant la supposée usurpation d’autorité de la position “sédévacantiste”)
Com relação às diferenças teológicas que existiram durante a história da Igreja, o P. Rioult se equivoca ao se referir a elas para justificar a sua posição.
Certamente, a história da Igreja nos oferece muitos exemplos de diferentes pontos de vista teológicos. A controvérsia mais célebre foi a tensa confrontação entre dominicanos e jesuítas com respeito à graça. A autoridade da Igreja, ao recordar que a unidade na fé era essencial, sempre relativizou essas “divisões” dos teólogos, e às vezes inclusive chamou à ordem os espíritos belicosos. Porque se tratavam de opiniões teológicas secundárias, enquanto hoje em dia estamos enfrentando fatos que se opõe diretamente aos dogmas e aos princípios da fé; opiniões teológicas que se opõem a condenações feitas pelo magistério infalível da Igreja, e que entram em conflito direto com os dogmas e os princípios da fé. Assim, não pode haver comparação possível.

(Tradução livre extraída do blogue Amor de la Verdad)