sexta-feira, 20 de maio de 2016

193ª Nota - São José morreu de amor



Não se pode justificar facilmente que a morte de São José fosse posterior à de Jesus. Antes, todas as probabilidades, e mormente a recomendação do Salvador a S. João, mostrando-lhe a sua divina Mãe, reforçam a opinião de que ele já não existia. E como poderia admitir-se que o dileto Filho do seu coração, o seu querido Menino, lhe não assistisse à hora da morte? “Bem-aventurados os que usam de misericórdia, porque também eles obterão misericórdia” (Mat., V, 7).

Ah! quantos cuidados, quanto amor e misericórdia não dispensou este Pai adotivo ao Salvador, desde que este veio ao mundo, débil criancinha! E poder-se-á conceber que ao deixar este mundo o seu divino Filho lhe não retribuísse, em centuplicado, tais afetos, prodigalizando-lhe todas as suavidades celestes?

As cegonhas são a mais fiel imagem do mútuo amor entre pais e filhos; porque, sendo aves de arribação, transportam nas asas os pais e mães decrépitas, assim como por eles eram transportadas, em pequeninas nas suas viagens periódicas.

Durante a infância do Salvador, o grande S. José, seu pai adotivo, e a gloriosa Virgem Maria, sua Mãe, conduziram-no muitas vezes, e especialmente naquela viagem que fizeram da Judeia para o Egito e do Egito para a Judeia. Quem duvidará, pois, de que este pai tão desvelado, chegando ao termo da existência, seria igualmente conduzido, ao passar deste mundo para o outro, pelo seu divino Filho, para o seio de Abraão, para dali o transportar ao seu, na glória, no dia da sua maravilhosa Ascensão?

Um Santo que tanto amou em vida não podia morrer senão de amor; porque, não podendo sua alma amar o seu querido Jesus, até à saciedade entre as distrações desta vida, e tendo terminado a tarefa de que fora incumbido na infância do Homem-Deus, que lhe restava senão dizer ao Pai Eterno: “Ó Pai, concluída é a missão de que me encarregastes” (Jo. XVII, 4), e depois ao Filho: Ó meu Filho, assim como o Pai celeste entregou o vosso corpo nas minhas mãos, no dia em que viestes ao mundo, assim hoje, que me separo desta vida, “entrego o meu espírito nas vossas mãos” (Sal. XXX, 6; Luc. XXIII, 46).

É assim que eu imagino ter sido a morte do eminente Patriarca, escolhido para desempenhar a mais tenra, a mais afetuosa e nobre missão, que jamais foi nem será desempenhada junto do Filho de Deus, depois da que exerceu sua celeste Esposa, verdadeira Mãe natural deste divino Filho.

Nota do blogue:  O grande chanceler de Paris, Gerson, acrescenta que Jesus preparou para a sepultura o corpo virginal de seu Pai adotivo, cruzou-lhe as mãos ao peito e o abençoou, para que não se corrompesse no sepulcro. 

(São Francisco de Sales, em seu Tratado do Amor de Deus)