terça-feira, 5 de abril de 2016

165ª Nota - Quem manipula quem, quando os governos tratam com os terroristas?


(Publicado aos 16/11/2015, por Yizbeleni Gallardo)

De Seul a Moscou, do México à Terra do Fogo, os habitantes deste mundo globalizado e superinformado (e que em muitos assuntos se esconde em uma frívola indiferença) hoje sentem uma profunda repulsão pelos terríveis sucessos da sangrenta noite parisiense da sexta-feira passada dia 13, que traz os piores presságios aos que desejam a paz e a justiça.

De novo, como no ataque a 'Charlie Hebdo', a mal chamada “crise migratória”, e agora nos lamentáveis atentados de sexta-feira passada, a opinião pública reaciona em função do que a maioria dos meios de comunicação (os mesmos de sempre) pretendem provocar neles; uma vez mais a manipulação se converte no motor.

É evidente que, para muitos dos que defendem a liberdade e a democracia, ainda existem cidadãos de 1ª, 2ª e 3ª categoria, nos quais a indignação se releva em função dos interesses de uns quantos. Parece que a vida de uns é mais valiosa que de outros, e que o assassinato de um ser humano é indigno somente se ocorre em uma cidade de renome cultural e cosmopolita.

Novamente, na grande cobertura midiática, se pondera a importância de umas vítimas sobre as outras; não vi mostras de repúdio, dor ou indignação pelas mais de 40 vítimas mortais no atentado ocorrido no Líbano, perpetrado pelo mesmo grupo terrorista que cometeu os atentados em Paris, nem pelas mais de 40.000 vítimas que tão somente este ano foram mortas na Nigéria, Níger e Chad, e muito menos (salvo algumas valentes vozes no deserto) vi que durante os últimos anos alguém se pronunciou contra os mais de 250.000 sírios (em sua maioria cristã), vítimas destes mesmos grupos criminosos.

Denunciei durante várias publicações a origem dos grupos terroristas que têm afundado a Síria em uma brutal guerra civil, e que agora se propagam no Ocidente. Aqueles, que agora se doem pela perda de tantas vidas inocentes, são os que de maneira perversamente premeditada ou absurdamente ingênua criaram e alimentaram não somente o Estado Islâmico, mas também as vertentes do mesmo Oriente Médio, África e agora Europa.

É cediço que, desde a mal chamada “Primavera Árabe”, um dos grandes promotores da mesma foi a França, principalmente em função ou derrocamento e assassinato de Muamar Gadafi; os rebeldes líbios em sua maioria ou são de origem francesa ou estão ligados aos franceses ou recebem instruções e doutrinamento dos mesmos; esses mal chamados rebeldes que não são mais que matadores de aluguel e que por suposto hoje trabalham para o melhor pagador.

Passaram por alto a origem do autoproclamado califa do Estado Islâmico Abu Bakr al Bagdade, que segundo Edward Snowden, não somente é de origem inglesa, mas que também pertenceu aos serviços de inteligência ocidentais; se ignorou a origem britânica, francesa e alemã dos milhares de combatentes que formam parte do EI, Al-Nusra, e sobre os rebeldes sírios, sua criação, financiamento, treinamento e doutrinamento que, desde a “Primavera Árabe”, receberam (como matriz) do governo norte-americano, por meio de seus serviços de inteligência e da OTAN, e que por meio deles disseminaram entre os diversos grupos terroristas na região. Tudo não é mais que a reprodução do que em seu momento foi Al Qaeda.

Lamentavelmente, como o mencionou o presidente sírio Bashar Al Asad: “França conheceu o que na Síria vivemos há cinco anos.” Vale a pena mencionar que a péssima administração de Hollande agora será reivindicada por seu combate contra o terrorismo em aparente defesa de seu povo, fortalecendo sua imagem política e suas pretensões de reeleição em face da popularidade legitimada da ultradireita encabeçada por Le Pen.

Vladimir Putin, no dia 27 de setembro passado, ante a 70ª Assembleia Geral da ONU, denunciava e advertia o perigo de pretender manipular a seu capricho os grupos terroristas e os mercenários que compõem ditas organizações: “Nestas circunstâncias, é hipócrita e irresponsável fazer agitadas declarações sobre a ameaça do terrorismo internacional ao mesmo tempo em que se fecham os olhos aos canais de financiamento e apoio aos grupos terroristas, incluindo as rendas do narcotráfico e do tráfico ilícito de petróleo e de armas. Seria igualmente irresponsável pretender manipular os grupos extremistas e pô-los ao seu serviço com o fim de obter a esperança de enfrentá-los mais tarde, dito de outra maneira: liquidá-los. Aos que assim atuam, quisera dizer-lhes: senhores, vossas senhorias estão tratando com pessoas brutais, que não são em absoluto primitivas, mas tão capazes de aprender como vossas senhorias, e assim nunca se saberá quem manipula quem.”

E assim é, os parricidas dos atentados em Paris, ainda que os meios pretendam ocultá-los, não se podem apagar nem ignorar. Sim, senhores, são seus filhos, os que a OTAN, EUA e Arábia Saudita armaram e treinaram, e que em algum momento pretenderam de modo ingênuo ou premeditado que poderiam conformar “uma oposição moderada” (como se o armar e treinar um grupo de mercenários à margem da lei pudesse considerar-se moderado) os que hoje os matam.

https://actualidad.rt.com/opinion/yizbeleni-gallardo/191691-terroristas-paris-mordieron-mano-comer