(Publicado aos 16/11/2015, por Yizbeleni
Gallardo)
De Seul a Moscou, do México à Terra do
Fogo, os habitantes deste mundo globalizado e superinformado (e que em muitos
assuntos se esconde em uma frívola indiferença) hoje sentem uma profunda
repulsão pelos terríveis sucessos da sangrenta noite parisiense da sexta-feira
passada dia 13, que traz os piores presságios aos que desejam a paz e a
justiça.
De novo, como no ataque a 'Charlie
Hebdo', a mal chamada “crise migratória”, e agora nos lamentáveis atentados de
sexta-feira passada, a opinião pública reaciona em função do que a maioria dos
meios de comunicação (os mesmos de sempre) pretendem provocar neles; uma vez
mais a manipulação se converte no motor.
É evidente que, para muitos dos que
defendem a liberdade e a democracia, ainda existem cidadãos de 1ª, 2ª e 3ª
categoria, nos quais a indignação se releva em função dos interesses de uns
quantos. Parece que a vida de uns é mais valiosa que de outros, e que o
assassinato de um ser humano é indigno somente se ocorre em uma cidade de
renome cultural e cosmopolita.
Novamente, na grande cobertura
midiática, se pondera a importância de umas vítimas sobre as outras; não vi
mostras de repúdio, dor ou indignação pelas mais de 40 vítimas mortais no
atentado ocorrido no Líbano, perpetrado pelo mesmo grupo terrorista que cometeu
os atentados em Paris, nem pelas mais de 40.000 vítimas que tão somente este
ano foram mortas na Nigéria, Níger e Chad, e muito menos (salvo algumas
valentes vozes no deserto) vi que durante os últimos anos alguém se pronunciou
contra os mais de 250.000 sírios (em sua maioria cristã), vítimas destes mesmos
grupos criminosos.
Denunciei durante várias publicações a
origem dos grupos terroristas que têm afundado a Síria em uma brutal guerra
civil, e que agora se propagam no Ocidente. Aqueles, que agora se doem pela
perda de tantas vidas inocentes, são os que de maneira perversamente
premeditada ou absurdamente ingênua criaram e alimentaram não somente o Estado
Islâmico, mas também as vertentes do mesmo Oriente Médio, África e agora
Europa.
É cediço que, desde a mal chamada
“Primavera Árabe”, um dos grandes promotores da mesma foi a França,
principalmente em função ou derrocamento e assassinato de Muamar Gadafi; os
rebeldes líbios em sua maioria ou são de origem francesa ou estão ligados aos
franceses ou recebem instruções e doutrinamento dos mesmos; esses mal chamados
rebeldes que não são mais que matadores de aluguel e que por suposto hoje trabalham
para o melhor pagador.
Passaram por alto a origem do
autoproclamado califa do Estado Islâmico Abu Bakr al Bagdade, que segundo
Edward Snowden, não somente é de origem inglesa, mas que também pertenceu aos
serviços de inteligência ocidentais; se ignorou a origem britânica, francesa e
alemã dos milhares de combatentes que formam parte do EI, Al-Nusra, e sobre os
rebeldes sírios, sua criação, financiamento, treinamento e doutrinamento que,
desde a “Primavera Árabe”, receberam (como matriz) do governo norte-americano,
por meio de seus serviços de inteligência e da OTAN, e que por meio deles
disseminaram entre os diversos grupos terroristas na região. Tudo não é mais
que a reprodução do que em seu momento foi Al Qaeda.
Lamentavelmente, como o mencionou o
presidente sírio Bashar Al Asad: “França conheceu o que na Síria vivemos há
cinco anos.” Vale a pena mencionar que a péssima administração de Hollande
agora será reivindicada por seu combate contra o terrorismo em aparente defesa
de seu povo, fortalecendo sua imagem política e suas pretensões de reeleição em
face da popularidade legitimada da ultradireita encabeçada por Le Pen.
Vladimir Putin, no dia 27 de setembro
passado, ante a 70ª Assembleia Geral da ONU, denunciava e advertia o perigo de
pretender manipular a seu capricho os grupos terroristas e os mercenários que
compõem ditas organizações: “Nestas circunstâncias, é hipócrita e irresponsável
fazer agitadas declarações sobre a ameaça do terrorismo internacional ao mesmo
tempo em que se fecham os olhos aos canais de financiamento e apoio aos grupos
terroristas, incluindo as rendas do narcotráfico e do tráfico ilícito de
petróleo e de armas. Seria igualmente irresponsável pretender manipular os
grupos extremistas e pô-los ao seu serviço com o fim de obter a esperança de
enfrentá-los mais tarde, dito de outra maneira: liquidá-los. Aos que assim
atuam, quisera dizer-lhes: senhores, vossas senhorias estão tratando com
pessoas brutais, que não são em absoluto primitivas, mas tão capazes de
aprender como vossas senhorias, e assim nunca se saberá quem manipula quem.”
E assim é, os parricidas dos atentados
em Paris, ainda que os meios pretendam ocultá-los, não se podem apagar nem
ignorar. Sim, senhores, são seus filhos, os que a OTAN, EUA e Arábia Saudita
armaram e treinaram, e que em algum momento pretenderam de modo ingênuo ou
premeditado que poderiam conformar “uma oposição moderada” (como se o armar e
treinar um grupo de mercenários à margem da lei pudesse considerar-se moderado)
os que hoje os matam.
https://actualidad.rt.com/opinion/yizbeleni-gallardo/191691-terroristas-paris-mordieron-mano-comer