Tão maravilhosa conversão do mundo para a fé cristã é de tal modo certíssimo
indício dos sinais havidos no passado, que eles não precisaram ser reiterados
no futuro, visto que os seus efeitos os evidenciavam.
Seria realmente o maior dos sinais miraculosos se o mundo tivesse sido induzido, sem aqueles maravilhosos sinais, por homens rudes e vulgares, a crer em verdades tão elevadas, a realizar coisas tão difíceis e a desprezar bens tão valiosos.
Mas ainda: em nossos dias Deus, por meio dos seus santos, não cessa de operar milagres para confirmação da fé.
No entanto, os iniciadores de seitas errôneas seguiram caminho oposto, como se tornou patente em Maomé (o fundador do Islã):
a) Ele (Maomé) seduziu os povos com
promessas referentes aos desejos carnais, excitados que são pela
concupiscência;
b) Formulou também preceitos
conformes àquelas promessas, relaxando, desse modo, as rédeas que seguram os
desejos da carne;
c) Além disso, não apresentou
testemunhos da verdade, senão aqueles que facilmente podem ser conhecidos pela
razão natural de qualquer medíocre ilustrado. Além disso, introduziu, em
verdades que tinha ensinado, fábulas e doutrinas falsas;
d) Também não apresentou sinais
sobrenaturais. Ora, só mediante estes há conveniente testemunho da
inspiração divina, enquanto uma ação visível, que não pode ser senão divina,
mostra que o mestre da verdade está inspirado de modo invisível. Mas Maomé
manifestou ter sido enviado pelo poder das armas, que também são sinais dos
ladrões e dos tiranos;
e) Ademais, desde o início, homens sábios, versados em coisas divinas e humanas, nele não acreditaram. Nele, porém, acreditaram homens que, animalizados no deserto, eram totalmente ignorantes da doutrina divina. No entanto, foi a multidão de tais homens que obrigou os outros a obedecerem, pela violência das armas, a uma lei;
f) Finalmente, nenhum dos oráculos dos profetas que o antecederam dele deu testemunho, visto que ele deturpou com fabulosas narrativas quase todos os fatos do Antigo e do Novo Testamento. Tudo isso pode ser verificado ao se estudar a sua lei. Já também por isso, e de caso sagazmente pensado, não deixou para leitura de seus seguidores os livros do Antigo Testamento, para que não o acusassem de impostura;
g) Fica assim comprovado que os que lhe dão fé a sua palavra creem levianamente.
(Santo
Tomás de Aquino, Suma contra los Gentiles. Livro I, Capítulo VI, Club de
Lectores, Buenos Aies, 1951, 321. p.76 e ss.).