Para
celebrar o quadragésimo aniversário da Rerum
Novarum de Leão XIII, o Papa Pio XI, em 15 de maio de 1931, lança a Quadragesimo Anno, que reitera e renova
os ensinamentos anteriores do Magistério, e nos deixa apelos inesquecíveis
sobre a condição dos operários em muitas indústrias modernas: “enquanto a
matéria bruta e inerte sai enobrecida das oficinas, os homens saem degradados”.
Pio XI espalha no orbe mecanizado, tecnicalizado, afastado de Deus, a
ressonância da antiga lamentação da Igreja de Cristo sobre a sorte dos pobres e
dos aflitos.
Aí
está na Q. A. o verdadeiro catolicismo social que não tem esquerda e direita,
isto é, que não aceita a dilaceração do homem nem pode admitir que o mecanismo
essencial da história seja a inimizade. Em vão procuraremos em Pio XI, em seus
predecessores e sucessores, algum texto que desaconselhe ou condene a estrutura
econômica firmada na propriedade e na livre empresa. O que a Igreja condena,
veementemente, é o mau uso que uma civilização firmada sobre o egoísmo vem
fazendo de estruturas e normas em si mesmas boas e exigidas pela lei material;
e o que ensina e sempre ensinou e ensinará com infatigável paciência é que, sem
virtudes morais e teologais que elevam e santificam o homem, baldado será o
esforço de procurar uma sociedade melhor e mais justa. A utopia de uma
Supersociedade feita de Subnomes será sempre rejeitada pela Igreja.
(...)
Na
Q. A., a parte mais extensa é dedicada precisamente à denúncia das injustiças
que ferem a “ordem social” e consequentemente afligem os pobres. Mas nesses
mesmos tópicos, ao contrário do que fazem hoje os desvairados que tentaram
marxizar a doutrina social da Igreja, o Papa nos previne contra o pior mal,
ainda mais injusto e danoso para os pobres: o remédio grosseiramente errado, o
veneno do socialismo ou do comunismo marxista. Nos tópicos de 43 até 46, Pio XI
não deixa nenhuma brecha para o socialismo nas formas mais mitigadas: “o
socialismo, quer como doutrina quer como movimento histórico, ou ‘ação’, na
medida em que continua a ser verdadeiramente socialismo, mesmo depois de suas
concessões à verdade e à justiça, a que já nos referimos, é incompatível com o
dogma católico, já que sua maneira de conceber a sociedade se opõe
diametralmente à verdade cristã”.
Da
mais virulenta forma de socialismo, o comunismo marxista, eis o que dizia Pio
XI na Q. A.: “O comunismo ensina e promove, não oculta nem disfarçadamente, mas
clara e abertamente, e por todos os meios, até os mais violentos, duas coisas:
a luta de classes e a extinção completa da propriedade privada. Para conseguir
seu objetivo nada há que não se atrevam (seus militantes), e nada há que
respeitem. E uma vez conseguido, tão atroz e desumano se manifesta seu intento
que até parecer coisa incrível e monstruosa”.
(Gustavo Corção,
excerto de “O Século do Nada”)