É desagradável o que eu vou dizer, mas
vou dizê-lo, no entanto. Entre toda essa multidão, não há de ser encontrada uma
centena com chances de ser salvo; ou melhor, até mesmo estes eu questiono. Pensem: que maldade existe nos jovens, e
que indiferença nos idosos!
E não venham me dizer: “Nós somos uma
multidão considerável”; esse é o discurso de homens que falam sem pensar ou
sentir. Mas, se vós não acreditais em mim, pergunte às nações, aos
perseguidores do tempo, em que a conduta dos cristãos era mais rigorosa, e
foram eles mais provados. Poucos eram em número, mas eram ricos em
virtudes.
Por exemplo, de que vale ter feno em
abundância, quando se poderia ter pedras preciosas? O montante não
consiste na soma dos números, mas no valor comprovado. Elias foi um: mas o
mundo todo não valia tanto quanto ele. Que necessidade tenho eu de uma
multidão? Ela é (apenas) mais alimento para o fogo.
Isso também se pode ver na guerra:
melhor são dez homens bem treinados e valentes, do que dez mil sem nenhuma
experiência. Estes últimos, além de não trabalharem, atrapalham os que
trabalham. O mesmo também se pode ver no caso de um navio: melhor são dois
marinheiros experientes, do que grande número de inábeis, pois estes afundarão
o navio.
Essas coisas eu vos digo para que
ninguém admire a Igreja por causa de seus números, mas para que possamos
aprender a ser uma multidão realmente digna;
para que cada um possa zelar não somente sobre o seu dever, não somente em
relação a seus amigos, ou a seus parentes, como sempre digo, ou a seus
vizinhos, mas que possa atrair os estrangeiros também.
Por exemplo, a oração está
acontecendo; lá se encontram os jovens estupidamente indiferentes, e os velhos
também (…); rindo, rindo abertamente, falando a ponto de até mesmo eu
ouvir o que está sendo dito, e zombando um do outro (…). E lá está você, jovem
ou velho: repreenda-os ao vê-los (comportando-se assim). Se não se contiverem,
repreenda-os mais severamente: chame o diácono, ameace, faça o que está ao seu
alcance.
Você não sabe que está de pé em
companhia dos anjos? Com eles você canta, com eles entoa hinos, e você fica
rindo? Não é surpreendente que um raio não seja lançado, não somente sobre
aqueles (que se comportam assim), mas também sobre todos nós? Para
tal comportamento a visita de um raio cairia muito bem.
O Imperador está presente, está
revistando a tropa: e, mesmo com Seus olhos sobre você, você fica rindo, ou
suporta ver outro rindo? Quanto tempo ainda teremos que continuar censurando,
quanto tempo reclamando? Quem ri na hora do Terrível Mistério? Quando vão
deixar de dizer trivialidades, de falar no instante da bênção? Não têm vergonha
diante dos presentes? Não têm temor a Deus?
Já não basta nossos próprios pensamentos
ociosos, já não é suficiente que em nossas orações a mente vagueie de lá para
cá… O riso alheio também tem necessidade de interferir, e as rajadas de
alegria? É uma diversão teatral o que é feito aqui?
Portanto, eu
solenemente protesto contra vocês, os que fazem barulho, e isso será para vocês
causa de juízo e condenação. E de hoje em diante, se acaso você ver uma pessoa
se comportando de forma desordenada, se acaso ver qualquer pessoa falar,
especialmente naquela parte (do Serviço), fale com ela. Interrompa a sua oração
e a repreenda, para que você possa fazer o bem a ela e obter bênçãos para si, e
assim também todos sejam salvos e alcancem o Reino dos Céus, por meio da graça
e bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo.
(São João Crisóstomo, Excerto
da Homilia sobre os Atos dos Apóstolos, 24)