Autoridade
estatal e livre iniciativa não se excluem
PIO XII: A
fidelidade dos governantes a este ideal será, além do mais, sua melhor
salvaguarda contra a dupla tentação que os espreita ante a amplidão crescente
de sua tarefa: tentação de fraqueza, que os faria abdicar sob a pressão
conjugada dos homens e dos acontecimentos; tentação inversa de estatismo, pela
qual os poderes públicos se substituiriam indevidamente às livres iniciativas
privadas para reger de maneira imediata a economia social e outros ramos da
atividade humana. Ora, se não se pode hoje negar ao Estado um direito que lhe
recusava o liberalismo, não é menos verdade que sua tarefa não é, em princípio,
assumir diretamente as funções econômicas, culturais e sociais que dependem de
outras competências; ela consiste antes em assegurar a real independência de
sua autoridade de maneira a poder conceder a tudo o que representa um poder
efetivo e valioso no país uma parte justa de responsabilidade sem perigo para a
sua própria missão de coordenar e de orientar todos os esforços para um fim
comum superior. (Carta à 41ª Semana Social de França, de 14-VII-1954)
Antítese viva
de todos os ideais do mundo
PIO XII: Que
estranha aparição no seio de um mundo cheio de si mesmo, de suas descobertas
científicas, de seus virtuosismos técnicos, a do resplendor de uma jovem que
não se distingue por nenhuma ação brilhante, nenhuma obra temporal. Com o
absoluto desprendimento das grandezas terrenas, a renúncia à liberdade e às
alegrias da vida, o sacrifício, quão doloroso, dos mais ternos afetos, ela se
constitui em antítese viva de todos os ideais do mundo. Quando os povos e
classes sociais se desafiam ou se enfrentam pela hegemonia econômica ou
política, Teresa do Menino Jesus se apresenta com as mãos vazias: riqueza,
honra, influência, eficácia temporal, nada a atrai nada a prende, senão somente
Deus e seu Reino. Mas em troca o Senhor a introduz em sua casa e lhe confia os
seus segredos; Ele lhe revelou todas essas coisas que encobre aos sábios e
poderosos (cfr. Mat. 11, 25). E agora, depois de ter vivido silenciosa e
oculta, eis que ela fala, eis que se dirige a toda a humanidade, aos ricos e
aos pobres, aos grandes e aos humildes. E lhes diz com Cristo (Mat. 7, 13):
"Entrai pela porta estreita. Pois amplo e espaçoso é o caminho que leva à
perdição, e são muitos os que entram por ele; porém estreita é a porta e
apertado o caminho que leva à Vida, e poucos são os que o encontram". (Rádio-Mensagem aos católicos reunidos em Lisieux por ocasião da consagração da
Basílica de Santa Teresa do Menino Jesus, de 11-VII1954)
Antes
morrer do que trair a justiça
PIO XII: Com
muita razão historiadores e eruditos, aos quais acompanha a opinião comum,
consideram como sinal característico da personalidade de Hildebrando seu culto
à justiça, por cujo triunfo se aplicou incessantemente, lutando e morrendo por
ela. Poucas palavras pronunciou com tanto respeito e fervor como justitia, como
se conservasse sempre na mente a imagem de sua majestade soberana, ante a qual
todo poder criado deve inclinar-se. "Magis... mortem suscipere parati
erimus, quam justitiam relinquere" (Gregorii Registrum, IX, 11. — ed. Caspar, in Mon. Germ. Hist. Epp. sel. t. II, fasc. I, p.
588). Antes a morte do que trair a justiça! Escrevia em 1081 ante o exército
hostil de Henrique IV. A justiça, para ele, significava a ordem de Deus no
mundo; isto é, que todas as coisas humanas, desde a menor até a maior, devem
estar ordenadas segundo a vontade e a lei de Deus, e que o homem foi plasmado
não segundo a forma do pecado, mas à imagem de Deus: "imago Dei, quae est
forma justitiae" (Ph. Jaffé, Bibl. Rerum Germ., t. II, Manum Gregor., p.
534. — Gregor. VII ad Liprandum a. 1075). Iluminado por conceitos de tal modo
elevados, Gregório se coloca no número dos precursores que desfraldam
livremente as forças íntimas da Igreja para fazer prevalecer no mundo o plano
de Deus. Nesta empresa, que das mãos de Gregório VII recebe o impulso e há de
continuar-se nos séculos sucessivos com ação dia a dia mais concreta até o
presente, a lembrança de seu pontificado que jamais empalideceu foi sempre e é
hoje um protesto franco e incomparável contra a fuga vil de alguns ante a
responsabilidade que atinge a todo fiel cristão em todo o campo da vida
pública. (Rádio-Mensagem para as festas religiosas celebradas em Salerno por
ocasião do reconhecimento do corpo de São Gregório VII, de 11-VII-1954)
Há
professores que desprezam o magistério da Igreja
PIO XII: Não é
sem motivo grave que, diante de vós, Veneráveis Irmãos, pronunciamos estas
advertências. Porque se dá, infelizmente, o caso de alguns professores pouco se
importarem com a união com o Magistério vivo da Igreja, e pouco aplicarem o
pensamento e o afeto a seu ensinamento comum, proposto, entretanto, desta ou
daquela maneira com toda a clareza; e ao mesmo tempo atribuem valor exagerado
ao pensamento próprio, aos hábitos mentais dos modernos, às regras de outras
disciplinas, que tem como únicas e somente a ela consideram conformes aos
verdadeiros métodos e normas de ensino. Sem dúvida alguma a Igreja ama e
favorece sumamente os estudos das ciências humanas e seu progresso; e cerca de
afeto e particular estima os sábios que consagram ao estudo a vida inteira.
Entretanto, as questões de Religião e moral, verdades que transcendem
absolutamente toda a ordem sensível, dependem unicamente do ofício e da
autoridade da Igreja. Em Nossa Carta Encíclica "Humani Generis" definimos
a maneira de pensar e o espírito desses a quem Nos referimos há pouco; e
mostramos que algumas das aberrações nela condenadas têm precisamente por causa
a negligência no conservar a ligação com o Magistério vivo da Igreja. (Discurso
aos Cardeais e Bispos por ocasião da canonização de S. Pio X, de 31-V-1954)